Vários intérpretes, ao longo dos
séculos, têm explicado o que seriam as sete cabeças da besta do Apocalipse, mas
todos erram, e os que tentarem explicar daqui para frente continuarão errando,
porque cada um, em vez de analisar bem o que está escrito, com base na história
daquele tempo, adapta a figura aos princípios da própria religião.
DEZ REINOS é uma figura muito falada, que surgiu pela primeira
vez no sonho de Nabucodonozor, apareceu no sonho de Daniel e repetiu-se na visão
de João. Várias são as interpretações a respeito dos dez reinos, uma
colocando-os no passado e outras projetando-os para o futuro, e até alguém
chegando a considerá-los existentes em seus dias. Todavia, cada interpretação é
digna de crítica e nenhuma se comprovou verdadeira (Veja capítulo Os Dez
Reinos da Profecia). No presente capítulo, o tema é AS SETE CABEÇAS, sete
reinos (ou sete reis, conforme a interpretação).
A quarta besta de Daniel (cap. 7: 7, 8) tinha dez chifres (v. 20), "fazia guerra
contra os santos e prevalecia contra eles" (vers. 21), deveria destruir a cidade
e o povo santo (cap. 9: 26; 12: 7) e fazê-lo durante "um tempo, dois tempos e
metade de um tempo" (cap. 7: 25; 12: 7). A primeira besta de João tinha dez
chifres (Apoc. 13: 1), deveria pelejar contra os santos e vencê-los (vers. 7) e
fazê-lo por "quarenta e dois meses" (vers. 5), que equivale aos três tempos
(anos) e meio (Daniel, 7: 25); o que nos parece ser o mesmo poder visto pelos
dois profetas.
Na visão de João, entretanto, havia alguns pormenores não vistos por Daniel;
entre eles SETE CABEÇAS (Apoc. 13: 1).
As sete cabeças igualmente os dez chifres sempre foram alvo de interpretações,
cada uma localizando-as em entidades diferentes e em tempos os mais distantes.
Aqui está uma explicação sobre as cabeças, da própria profecia: "As sete
cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis,
dos quais caíram cinco, um existe, e outro ainda não chegou; e, quando chegar,
tem de durar pouco. E a besta que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e
procede dos sete" (Apocalipse, 17: 9 a 11).
SETE FORMAS DE GOVERNO
Nos primórdios da Igreja Adventista do Sétimo Dia, segundo Uriah Smit, em seu
livro "Daniel e Apocalipse", interpretavam-se as sete cabeças como sendo SETE
FORMAS DE GOVERNO pro que passou o império romano, a saber, reis, cônsules,
decênviros, ditadores, triúnvros, imperadores e papas.
Nos dias de João, Roma era governada por imperadores. Reis, cônsules, decênviros,
ditadores e triúnviros já estavam no passado; após os imperadores, isto é, após
o ano 476, dizem que Roma foi governada pro uma exarca de Ravena, por um período
de aproximadamente sessenta anos, até que o domínio passou para os papas. Esse
exarca foi, segundo a interpretação adventista, aquele que deveria "durar
pouco", sendo o papa o oitavo. O exarca, devido à sua pequena duração, não
foi contado entre as sete cabeças; assim interpretavam.
Um grande obstáculo, todavia, encontramos quanto à justificativa do pouco tempo
para não contar o exarca como cabeça. Como nos dias de Cristo Roma já estivesse
governada por imperadores, tendo seu domínio do mundo começado em 168 antes de
Cristo, para as cinco cabeças anteriores sobraria, em média, tempo muito menor
do que os sessenta anos do exarca.
SETE POTÊNCIAS MUNDIAIS
No correr dos anos, talvez devido a críticas ou mesmo desejo de apresentar coisa
nova, surgiu outra interpretação: as sete cabeças seriam SETE POTÊNICAS, a
saber, Egito, Assíria, Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia, Roma Imperial e Roma
Papal. Nessa interpretação, embora com pouco temp a menos do que o período
babilônico, parece haver um pouco de razão para justificar ser o EXARCA o
governante não considerado como cabeça.
NOVIDADE SOBRE SETE POTÊNCIAS
Posteriormente às duas interpretações adventistas, entre eles surgiu uma
terceira interpretação que, pela sua complexidade interpretativa, acho
conveniente transcrever.
"Ao tempo em que esta profecia teve sua especial aplicação, cinco das sete
cabeças da besta já haviam "caído". Embora possa não ser sábio mostrar-se
dogmático sobre a identificação dessas cabeças, é significativo que há sete
diferentes e distintos poderes introduzidos nas escrituras pelos símbolos
proféticos. Estes estão claramente indicados: Babilônia (o leão, Dan. 7: 14);
Medo-Pérsia (o urso, verso 5); Grécia (o leopardo, verso 6); Roma pagã (a besta
com dez chifres, verso 7); Roma papal ou eclesiástica (abesta com sete cabeças
de Apoc. 13; também a ponta pequena que falava grandes coisas e blasfêmias (Dan.
7: 8; Apoc. 13: 2, 5); republicanismo e democracia (a besta com dois chifres,
verso 11); e a última grande confederação do mal (a besta escarlate (Apoc. 17: 3
...
... Como já salientamos no capítulo 6, João foi levado em visão ao futuro e
estava contemplando os acontecimentos do juízo. Ao tempo em que a grande cena se
abriu no céu (1844), o papado estava em maré baixa. Poucos anos antes havia ele
recebido a ferida mortal. Ao tempo que esta profecia de Apoc. 17 tem sua
especial aplicação, cinco desses grandes pdoeres já haviam caído. Eram eles
Babilônia, Média-Pérsia, Grécia, Roma pagã e Roma papal, sendo que a ferida
mortal foi infligida ao papado em 1798." (Roy Allan Anderson, O Apocalipse
Revelado, páginas 197 e 198).
Sem se discutir sobre o tempo do juízo, que os adventistas consideram como sendo
a partir de 1844, consideremos que a República dos Estados Unidos é considerada
a sexta cabeça. Crê o autor do livro supramencionado que o papa retomará o poder
por "um pouco de tempo" (Idem, pág. 199), e chama de "última confederação do
mal" a união da Igreja Católica com as igrejas protestantes para combater os
adventistas.
OS SETE PAPAS
Já alguém apresentou a interpretação de que as sete cabeças se referem a sete
papas. Aquele não contado como cabeça, o que deveria durar "pouco tempo", seria
João Paulo I; conseqüentemente, João Paulo II, segundo eles, deveria assumir o
poder papal perdido e ser a besta destruidora dos santos.
Como João não estava escrevendo no Século XX, não há como justificar as
palavras: "dos quais caíram cinco, um existe, e outro ainda não chegou
(Apocalipse: 17: 10).
SETE IMPERADORES
Uma outra interpretação, jamais apresentada por teólogos, até parece adequada ao
sonho de João.
Afirma-se que João escreveu o Apocalipse próximo do ano 100 A. D. Ele estava
vivendo no período considerado "tempo dos gentios" (Lucas, 21: 20 a 24),
o tempo da "grande tribulação" ou "tempo de angústia", no qual os
romanos calcavam "aos pés a cidade santa" (Mateus, 24: 15 a 21; Daniel,
12: 1 e 11; cap. 9: 24 a 27; Apocalipse, 13: 5 a 7 e cap. 11: 2).
Nero, que governou do ano 54 ao 68, deu início à perseguição aos
cristãos. Galba sucedeu a Nero, de 68 a 69. Oto Vitélio, foi
imperador em 69. Vespasiano governou de 69 a 79. Tito dominou de
79 a 81. Domiciano foi cabeça do império de 81 a 96. Esta linhagem se
encontra no Manual Bíblico de Henry H. Halley, pág. 671. Provavelmente, o autor
do Apocalipse estivesse escrevendo ainda no final do governo de Domiciano, o
sexto imperador a contar de Nero; haviam caído cinco, e um existia. Parece muito
óbvio que João estivesse vendo nas cabeças da fera esses imperadores do Chamado
tempo dos gentios. Mas esta interpretação também não é tão satisfatória;
pois parece um pouco forçado imaginar que passasse pela cabeça do escritor que
depois do próximo imperador viesse um que concluísse tudo, sendo que o período
profético deveria abranger muitas gerações.
O certo, entretanto, é que João acreditava que com o cerco de Jerusalém
começou o período descrito como de destruição dos santos (Daniel, 7: 25); "tempo
de angústia tal qual nunca houve... nem haverá jamais" (Daniel 12: 1; Mateus
24: 15 a 21 e Lucas 21: 20 a 24), tendo escrito que os gentios pisariam a cidade
santa por "quarenta e dois meses" (Apocalipse, 11: 2); período este que
começou com esses imperadores supracitados. Nada tinha a ver com os nossos
dias. O autor jamais imaginaria que o mundo fosse durar tanto.
(A Arriscada Pretensão de Saber o Futuro, 1999, págs. 79 a 89).
Ver mais PREVISÕES DO FUTURO