SOMOS PRODUTOS DO MEIO EM QUE VIVEMOS
- 20/10/2002 -
Os mais modernos estudos científicos têm mostrado que muito do nosso caráter é
genético, o que conduz a uma grande semelhança entre os gêmeos univitelinos.
Entretanto, a parte mais significativa do que pensamos e nossos conceitos entre
o que é bom e o que é mau não é criação no nosso intelecto, nem herança dos
nossos genes, mas o que nos é induzido pelos nossos genitores e outros que temos
como mestres.
Muitos, que se vangloriam de serem “os donos do próprio nariz” e não
influenciados por ideologias alheias, simplesmente não são capazes de perceber
que são tão modelados pelos outros quanto alguns que eles classificam como gente
sem personalidade e sem opiniões próprias. Parei um pouco para pensar nisso
depois que alguém disse que “muitos acham que pensam, quando na verdade são
guiadas por idéias alienadas de seres que de alguma forma foram úteis as
sociedades e por isso se tornam ídolos”, aludindo ao meu pensamento um tanto
chocante para grande parcela da humanidade. Procurei esclarecer que “ainda que
querendo o contrário, na maioria das vezes ENXERGAMOS O QUE SOMOS ENSINADOS A
ENXERGAR e pensamos ser os genuínos donos das nossas opiniões. Enganamo-nos a
nós mesmos.
Para começar, devemos lembrar que todas as palavras que falamos não foram
criação nossa, mas outros as deram para nós. Uma vez ou outra filólogo cria um
neologismo, os erros de pronúncia levam o povo a mudar as palavras. Enfim quem
altera a língua não são os sábios, mas os incultos.
Sabe-se que um gênio inventou algo aqui, ou descobriu algo ali; mas só chegaram
a criar ou descobrir, utilizando o que aprenderam de outros. Ninguém nasceria
apto a criar um computador. Foi preciso milênios de associação do
desenvolvimento da língua, criação das representações gráficas, máquinas de
escrever, de aperfeiçoamentos matemáticos, descoberta da eletricidade,
desenvolvimento da eletrônica, que só é possível com processo de ensinamento
passado de uns para outros. Um desses que se julgam criadores das próprias
opiniões, se nascesse em uma selva, seria capaz de inventar uma roda, criar
caracteres gráficos e fazer uma máquina de escrever sozinho? Ninguém se atreverá
a dizer que sim.
Se colocarmos um indivíduo bem rústico por dias ou meses ouvindo discursos
políticos de Fernando Henrique Cardoso e o seu irmão gêmeo univitelino ao mesmo
tempo ouvindo somente Luiz Inácio Lula da Silva, com toda certeza teremos dois
adversários políticos. Semelhantemente, entre quem ficar anos em um colégio
adventista e quem estudar em um colégio Batista, deverá haver muito debate até
que um convença o outro de que está com a verdade, ou nunca chegarão a um
consenso.
Após considerar esses fatos que nos mostra que muito copiamos e pouco criamos,
comecei a pensar como ocorreu a minha transformação de um cristão em um ateu.
Na infância, minha mãe me ensinava a rezar, como aprendera do catolicismo.
Ateísmo era uma coisa extremamente absurda. Mas ouvia dizer que Deus guiou as
mentes dos homens que escreveram a Bíblia, sendo ela, portanto a legítima
palavra de Deus. Pensando assim, como me era ensinado, queria conhecer bem a
“palavra de Deus”. Lia sempre um pouco da chamada palavra divina e ouvia uns e
outros dizerem o que Deus exigia de nós. Por volta dos dezessete ou dezoito
anos, comecei a conhecer melhor a doutrina, da qual já ouvira por alto antes, de
que o papa era a besta do Apocalipse, e a Igreja Católica a prostituta vista
pelo velho apóstolo exilado na ilha de Patmos. Passei a estudar mais as chamadas
“sagradas escrituras”, tive contato com mestres religiosos, o que consolidou o
pensamento de que estava conhecendo a “VERDADE” e já procurava convencer a todos
do que considerava ser essa verdade. Todavia, procurando conhecer bem
detalhadamente a palavra divina, comecei a encontrar tropeços. Além de algumas
coisas que já achava estranhas a respeito do “deus” em que cria, foram surgindo
outras mais intrigantes, a cujo respeito os mestres da fé não me davam resposta
convincentes. Quanto mais estudava mais chegava à conclusão de que aquela tão
famosa palavra divina refletia o pensamento humano da época em que foi escrita,
nada mais. Levando em conta a desinformação vigente à época da criação da Bíblia
e colocando tudo diante do avanço científico atual, só pude concluir que o
divino foi criação do humano, o homem criara deus à sua imagem e semelhança:
atribuiu-lhe todo poder que gostaria de ter, porém o deixou com muitas de suas
próprias falhas. Veja o texto
.
Os escritores do Velho Testamento
imaginavam a terra plana como um disco a flutuar sobre as águas, e os do Novo
Testamento chegaram a imaginar até um mundo quadrado. Estudiosos descobriram que
isso não é assim, e a grande maioria de hoje concorda e sabe dessa realidade,
porque aprendeu desses poucos que foram capazes de descobrir. Em
geral, reproduzimos o meio em que vivemos, e as coisas mudam graças aos esforços
de poucos.
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