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STEPHEN HAWKING SEM DEUS
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REVIRAVOLTA
Vinte e dois anos depois de “querer conhecer a mente de Deus”, o físico
inglês Stephen Hawking renega a busca da Teoria Final e diz que Deus não
criou o Universo |
O novo ídolo dos ateus
O físico Stephen Hawking diz que Deus não é “necessário”
para explicar o Universo
Peter Moon
Eleanor Bentall/Corbis/Latinstock
Um dos livros mais vendidos – e menos lidos – de 1988
foi Uma breve história do tempo, do cosmólogo inglês
Stephen Hawking, hoje com 68 anos. Era um livro curto,
em que Hawking se propunha a explicar de forma acessível
as teorias mais obscuras da física. Falava em viagens no
tempo através de estruturas conhecidas como “buracos de
minhoca”, tentava desvendar para o leigo o que são os
tais “buracos negros” e citava ainda “universos-bebês”,
que saíam do interior desses buracos para se expandir em
outras dimensões. Pouca gente foi capaz de entender o
que ele dizia. Mesmo assim, o livro – que vendeu 9
milhões de exemplares – fez de Hawking o primeiro
cientista depois de Albert Einstein (1879-1955) alçado à
categoria de celebridade.
Uma breve história termina dizendo que o maior trunfo da
razão humana seria descobrir um conjunto de equações que
explicasse por que o Universo é como é, algo que os
físicos chamam de Teoria Final – e que Einstein
perseguiu sem sucesso em seus últimos 30 anos de vida.
“Só então deveremos conhecer a mente de Deus”, escreveu
Hawking no fecho da obra. Em 2010, seu sonho de teoria
final permanece no plano onírico. Mas sua mente sofreu
uma reviravolta. Seu universo, agora, prescinde
completamente de Deus. “Não é preciso invocar Deus para
uma centelha inicial pôr o universo em movimento”, lê-se
num trecho de seu novo livro, The great design (O grande
projeto), cujo lançamento está previsto para esta semana
nos Estados Unidos. O título dessa nova cosmologia de
Hawking bem poderia ser “Esqueçam tudo o que escrevi”.
Preso há 30 anos a uma cadeira de rodas por sofrer de
esclerose lateral amiotrófica – uma doença degenerativa
incurável –, Hawking escreveu The great design com o
físico americano Leonard Mlodinow, autor de O andar do
bêbado. Para Hawking, a descoberta de planetas orbitando
outras estrelas é uma evidência que a Terra não tem nada
de especial. “A Terra não foi cuidadosamente projetada
apenas para agradar aos humanos”, diz ele. “O Universo
pode surgir do nada. A criação espontânea é a razão por
que existe algo em vez de nada, por que o Universo
existe e por que nós existimos.”
É irônico notar que a mudança de postura de Hawking
tenha se dado um ano depois que ele se aposentou da
cátedra de matemática que já foi ocupada por Isaac
Newton na Universidade de Cambridge, berço da teologia
anglicana. No século XVII, Newton desvendou as leis que
regem a gravidade e o movimento dos corpos. Ao fazê-lo,
disse ter um vislumbre da lógica divina. Em 1905,
Einstein descobriu a relatividade e ultrapassou Newton
no entendimento da realidade do Universo. Embora se
declarasse descrente, ele não desmentia aqueles que
atribuíam essa lógica mais poderosa à mente divina.
Agora, Hawking renegou Deus de modo explícito.
Sua atitude só pode ser entendida no contexto do novo
ateísmo militante que tomou conta da intelectualidade
anglo-saxã por iniciativa de gente como o escritor e
jornalista anglo-americano Christopher Hitchens (leia
sua coluna), o filósofo americano Daniel Dennett, o
neurocientista americano Sam Harris ou o biólogo
britânico Richard Dawkins. Com seu novo livro, Hawking
passa a ocupar um lugar de honra nesse panteão de ateus.
(Época, 02/09/201)
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