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O SUICÍDIO DO BRASIL
O suicídio do Brasil
Aqui estão os responsáveis pela crise, após séculos de predação e escravidão
por Mino Carta
publicado 02/03/2015 04:26
Com a maior urgência o Brasil haveria de implorar por um
New Deal para enfrentar a gigantesca crise em que o meteram. Caso se desse conta
da necessidade, ainda assim faltariam um Roosevelt e um Keynes brasileiros para
executá-lo. Convém admitir, por outro lado, que, nos começos dos anos 30
do século passado, o presidente americano e seu extraordinário inspirador
britânico, se não careciam de coragem para desafiar a elite dos Estados Unidos,
não se viam, entretanto, às voltas com uma Operação Lava Jato.
Na entrevista a CartaCapital publicada na primeira edição deste ano, o
ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli, ao afirmar que o Brasil tem de
recuperar o crescimento, entendia como medida essencial investimentos em
infraestrutura. “São portos – dizia Gabrielli –, estradas, ferrovias, aeroportos
e, no caso do petróleo, estaleiros, sondas, plataformas...”
Gabrielli não nos brindava com uma revelação, e sim com uma constatação.
O New Deal significou um enorme investimento em
infraestrutura, em benefício do trabalho e do emprego.
É o que se recomenda neste momento de recessão brava, com
óbvia tendência a se acentuar, mais e mais. Nem por isso, a despeito das
evidências, outras são as receitas sugeridas, ou reclamadas com veemência.
Duas saltam aos olhos, apresentadas como antídotos seguros ao desastre iminente.
Uma, a do impeachment de Dilma Rousseff, como se, uma vez
afastada a presidenta, o sol da ordem e do progresso voltasse a raiar.
Trata-se, obviamente, de uma hipótese não somente
golpista, mas também estúpida. Outra, defendida inclusive por sábios do
jornalismo nativo, parece supor que, uma vez atingidos os
corruptos por punições exemplares, o País reencontraria seu eixo. Nada
impede que as duas receitas sejam tidas como complementares.
No primeiro parágrafo deste editorial, aludia ao Brasil como vítima. De quem? De
Dilma? Da corrupção? Do Partido dos Trabalhadores? Vejamos. Dilma foi reeleita
com vantagem de 5% dos votos sobre Aécio Neves. Vitória clara.
A corrupção é doença crônica no País.
O PT não cumpriu o que prometia e no poder portou-se como
os demais. Ou seja, aqueles que mantêm a tradição partidária brasileira,
vetusta ao contrário do tempo de vida do PT, nascido depois da reforma criada
pela ditadura em 1979, e capaz, por mais de duas décadas, de se parecer com um
partido de verdade, na melhor acepção democrática e republicana.
O combate à corrupção tem todas as justificativas, mas a Operação Lava Jato é
apenas o último (espera-se, se ainda houver espaço para esperanças) ato de um
longo enredo. Juscelino conferiu às empreiteiras um papel
determinante, a ditadura o fortaleceu e ampliou. Desde o primeiro ato, a
peça desenrola-se ao sabor da corrupção. E de muita incompetência até na hora de
roubar. E de prepotência e manobras escusas, e da insuportável conciliação das
elites.
Não são poucos os brasileiros competentes e honestos. São,
porém, minoria absoluta, e não podem fazer a diferença.
Campo livre para a chamada elite, cujo empenho total foi e
é manter de pé a casa-grande e a senzala. Ou, por outra, uma Idade Média
dotada de computadores e celulares de infinitas serventias. A Operação Lava
Jato, ao mirar nas empreiteiras, sem entrar no mérito das razões que a movem e
exigem justas condenações, precipita o impasse paradoxal.
A nossa elite, a turma do privilégio, os correntistas do HSBC da Suíça e de quem
sabe quantos mais paradeiros de dinheiro lavado e sonegado, é a única,
inescapável vilã do entrecho. Sem empresas adequadas à tarefa, Roosevelt e
Keynes não teriam condições de levar a cabo o New Deal salvador. Aqui, com o
processo às nossas empreiteiras, assistimos ao suicídio imposto ao Brasil por
cinco séculos de predação e três séculos e meio de escravidão.
Apelo ao perdão não é admissível, está claro. Registre-se, apenas, o desfecho de
uma tragédia, que parece até agora não percebida em toda a sua imponência por
quem a provocou e por quem a sofre. E ainda mais sofrerá, vítima anunciada o
tempo inteiro.
Dois episódios desta semana são o perfeito retrato da sociedade que condena o
Brasil ao suicídio. Trata-se dos moradores da casa-grande
e de quantos sonham em chegar lá e já agem como se fossem inquilinos.
O juiz que se apossa do carro do réu. Os apupos dos
frequentadores do Hospital Albert Einstein de São Paulo dirigidos contra o
ex-ministro da Fazenda em visita a um amigo enfartado.
Exemplos eficazes e aterradores, reveladores de uma sociedade que ostenta, a par
de suas grifes, ignorância, parvoíce, vocação de trapaça, incapacidade crônica
para a ironia e o senso de humor, prepotência e arrogância sem limites,
hipocrisia e desfaçatez, velhacaria e vulgaridade. São estes os brasileiros que
impõem o suicídio a um país favorecido pela natureza como nenhum outro.
<http://www.cartacapital.com.br/revista/839/o-suicidio-do-brasil-999.html>
Em meus artigos, já tenho falado que
programas de austeridade são contra o
povo, e só ganham com eles uns poucos que dominam a economia. Mas
sempre estão vindo com essa de combate à inflação com redução dos salários,
aumentos de juros e privatizações de patrimônios públicos. O exemplo
americano de Roosevelt sempre é jogado para escanteio.
Ver também sobre sobre os POLÍTICA
BRASILEIRA
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