No interior na minha infância, havia uma crença de que no dia de ano o primeiro
ser vivo que víssemos teria que ser branco para dar sorte. Se fosse preto,
seria um ano de azar.
Em um córrego próximo daquele onde
nasci, havia uma senhora negra que, segundo as notícias que corriam de boca a
boca, no dia 1º de janeiro se levantava de olhos fechados e chamava uma cabra,
que era a única coisa branca que existia na casa dela. Acreditava que, se
o primeiro vivente visto por ela no dia fosse o marido ou um dos filhos, o ano
não seria bom.
E o meu pai contava que, em
determinado ano, levantou no dia 1º de janeiro, abriu a porta, e o que viu de
cara foi uma pessoa negra. E nesse ano lhe aconteceu muitas coisas ruins.
O meu pai não era uma pessoa
mentirosa. Imagino que, por acreditar nessa superstição, ele tenha tido a
atenção voltada para cada coisa ruim que aconteceu naquele ano, e pode ter
havido alguma coincidência de alguns dos acontecimento daquele ano terem sido
piores do que os do ano anterior ou do seguinte. Aí, lhe ficou a impressão
de ter tido azar devido a ser a pessoa negra a primeira alma que avistou no
primeiro dia do ano.
A crença de que ver um vivente
negro no início do primeiro dia do ano traz azar é semelhante à de que agosto é
um mês de azar, o que faz as pessoas se lembrarem de tudo de ruim que ocorrer no
mês de agosto.