TENTATIVA DE JUSTIFICAR A HOMOSSEXUALIDADE NA BÍBLIA
/2010
A Bíblia, base moral e espiritual de diversas religiões monoteístas, possui três
principais passagens nas quais é supostamente abordado,
em contextos de
idolatria, um ato homossexual masculino.
Com efeito, a Bíblia também chega a mencionar em Romanos 1:26 - quando fala dos
rituais de idolatria dos romanos, sobre a relação para physin ("incomum", "não
usual" ou "contrária a natureza") entre mulheres, o que poderia ser entendido
como uma quarta referência à homossexualidade. Entretanto, o texto não deixa
claro se essas relações são fora do comum por quaisquer razões que não fossem o
sexo para fins de procriação - sexo anal, sexo em pé etc.[1] - ou se assim o
seriam por se tratar de sexo lésbico. Devido à ambigüidade do texto, não há como
se afirmar com certeza que a Bíblia faça menção ao sexo entre mulheres, ao
contrário do ato homossexual masculino, que é mencionado.
Não obstante, em especial com a expansão das pesquisas exegéticas e
hermenêuticas, não existe um consenso pleno sobre como exatamente deveriam ser
interpretadas essas passagens bíblicas, o que não é um problema para o
protestantismo. Dentre os cristãos, o protestantismo tem como um de seus
principais princípios a interpretação privada ou juízo privado dos textos
bíblicos,[2] fruto da Reforma Protestante, quando Lutero, em outubro de 1520,
enviou seu escrito "A Liberdade de um Cristão" ao Papa, acrescentando a frase
significativa "Eu não me submeto a leis ao interpretar a palavra de Deus". Isso
posteriormente acabou originando o direito fundamental de liberdade religiosa,
bem como a própria ideia de democracia,[3] ao consagrar a ideia de
horizontalidade dos fieis protestantes, ao contrário da verticalidade do
catolicismo, cuja última opinião em matéria de interpretação bíblica pertence ao
Papa. No protestantismo, a opinião de cada um dos fiéis em matéria de
interpretação bíblica tem o mesmo peso.
Além da diversidade de posicionamentos por parte de estudiosos, existem,
atualmente muitas denominações religiosas protestantes históricas - como as
Igreja Luterana e Anglicana e setores minoritários da Igreja Batista, Metodista,
entre outras, que, num processo revisionista, vêm discordando das interpretações
mais restritas comuns entre as doutrinas cristãs mais influentes, de modo que
elas aceitam membros que são assumidamente gays e lésbicas, e algumas destas
igrejas até os ordenam ao sacerdócio, como o famoso caso de Gene Robinson que,
mesmo gay assumido, foi eleito bispo da diocese episcopal de New Hampshire na
Igreja Episcopal dos Estados Unidos
* 1 Referências bíblicas a atos homossexuais
* 2 Queda de Sodoma e Gomorra
* 3 Referências bíblicas de apoio à homossexualidade
o 3.1 Rute e Noemi
o 3.2 David e Jónatas
o 3.3 Daniel e Aspenaz
* 4 Notas e referências
* 5 Ligações externas
Referências bíblicas a atos homossexuais
Existem três passagens da Bíblia que fazem referência a atos homossexuais. As
duas primeiras no Velho Testamento, no contexto da purificação preconizada pela
Lei Mosaica, a Torá. A terceira passagem se situa no Novo Testamento quando o
apóstolo Paulo descreve os rituais orgiásticos idólatras dos gentios romanos:
"Não te deitarás com um homem, como se fosse mulher: isso é toevah (também no
grego bdelygma, ambos significam "impureza" ou "ofensa ritual")." (Levítico
18:22)
"Se um homem dormir com outro homem, como se fosse mulher, ambos cometerão
"toevah". (Levítico 20:13)
"…visto que, conhecendo a Deus, não lhe renderam nem a glória… pelo contrário…
tornaram-se estultos… trocaram a glória do Deus incorruptível por imagens que
representam o Deus corruptível, pássaros, quadrúpedes, répteis… por este motivo,
Deus os entregou a paixões infames: as suas mulheres mudaram o uso physiken
(natural, usual comum) em outro uso que é para physin (não natural, fora do
comum, inusitado). Do mesmo modo também os homens, deixando o uso physiken da
mulher, abrasaram-se em desejos, praticando uns com os outros o que é indecoroso
e recebendo em si mesmos a paga que era devida ao seu desregramento" (Apóstolo
São Paulo Carta aos Romanos 1:18-32)
Além destas há uma passagem na Primeira Epístola aos Coríntios que gera
controvérsias entre os religiosos e teólogos:
"Não errais: nem os impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem
malakoi,
nem arsenokoitai… herdarão os reino de Deus" (I Coríntios 6:9-10)
Esta passagem, quando São Paulo, para alertá-los de seus erros, lembra aos
cristãos de Corinto da Lei Judaica, tem sido alvo de intensas discussões quanto
a sua tradução. As palavra malakoi e arsenokoitai ao longo dos séculos têm sido
traduzidas de forma bem distintas.
Quanto a palavra malakoi (que literalmente significa "mole", "macio") já houve
versões bíblicas que a traduziram como "depravados", "pervertidos",
"efeminados", "efebos", "meninos prostitutos" e algumas versões modernas
chegaram até mesmo a falar em "homossexuais". Entretanto, até a Reforma no
século XVI e no Catolicismo no século XX, pensava-se que tal palavra
significasse "masturbadores". Sabe-se, porém, que para além de seu sentido
literal de "mole" ou "macio", tal termo, quando usado para adjetivar pessoas,
pode também ser entendido como "lasso", "irrefreável", "devasso" ou mesmo
"efeminado". E é a partir dessa última tradução que se tem entendido por parte
dos religiosos tradicionais que, portanto, existiria no texto uma condenação aos
homossexuais. Segundo essa concepção um homem lasso, promíscuo e efeminado só
poderia se tratar de um homossexual.
Não obstante, há uma séria contra-argumentação a esse entendimento. Uma grande,
e hoje crescente, parte dos estudiosos tem questionado essa interpretação,
mostrando que a palavra malakoi, mesmo quando traduzida como "efeminado" jamais
pode ser entendida como uma referência a homossexuais. Mostram que tal tradução
é ambígua uma vez que "efeminado" filologicamente sempre significou também
"mulherengo", e é esse o sentido que a palavra original tinha nos tempos de
Paulo - o que, de fato, é coerente com outras passagens bíblicas que condenam os
promíscuos e devassos, como Apocalipse 21:8 e 22:15. Tais críticos lembram
também que a palavra "efeminado" só adquiriu conotação de "homossexual" na
Modernidade, de modo que inserir essa tradução nos escritos de Paulo seria um
gritante anacronismo e algo profundamente descabido. No intuito de comprovar tal
entendimento, acrescentam que nunca, em nenhum texto, em nenhum época sequer a
palavra malakoi significou "homossexual" ou conceito semelhante, e desafiam a
quem possa mostrar o contrário.
Já em relação à palavra arsenokoitai a controvérsia é ainda maior. Uma vez que
ela, em um intervalo de três séculos, somente aparece em dois escritos de Paulo
e, posteriormente nos Oráculos Proféticos (Sibylline Oracles) e em mais nenhuma
outra literatura na história - e em ambos dois casos a palavra se encontra
dentro de uma lista, de modo a seu significado não poder ser alcançado a partir
de um contexto - fica impossível determinar seu significado literal. Há, porém,
um certo consenso que esta palavra se trata de um neologismo criado por Paulo,
que teria juntado as palavras arsen, que significa "homem" e koiten, que
significa "cama". Vale notar que para alguns religiosos - como os tradutores da
NVI e da Bíblia da Linguagem de Hoje - tal dado já seria suficiente para
levá-los a crer que tal palavra se referiria, sim, à "homossexual", uma vez que
o pecado que um homem pode fazer na cama seria, em seus pontos de vistas, quase
certamente, um ato homossexual. Tal entendimento - acusado de simplista e
homofóbico pelos liberais - com efeito, não pareceu não dar conta de desvendar a
palavra em questão para a maioria dos exegetas e acadêmicos.
Diante da impossibilidade de encontrar o significado literal da palavra
arsenokoitai, uma ampla gama de estudos acadêmicos foi feita ao longo do século
XX no intuito de compreender de fato o termo e evitar sua tradução de modo
precipitado e controverso. É, então, que pelo método histórico-crítico pôde-se,
enfim, compreender o que tem sido amplamente aceito como o mais provável sentido
do neologismo paulino.
Arsenokoitai remete ao conceito de prostituição cultual muitíssimo comum no
Antigo Testamento, quando meninos eram vendidos como kadeshim, ou "prostitutos
cultuais", para os templos pagãos, como os de Dionísio, Baal e Diana, ou mesmo
homens livres se faziam sacerdotes sexuais para se dedicarem a esses templos de
freqüente idolatria orgiástica. A exatidão dessa teoria se provaria uma vez que
a Septuaginta, que eram as escrituras sagradas que Paulo lia à sua época, usa os
exatos mesmos termos que o apóstolo usou em Levítico 18:22: Como homem
(arsenos), não te deitarás (koiten), como mulher…(Kai meta arsenos ou koimethese
koiten…), e o texto se finaliza afirmando que tal ato seria toevah,
uma palavra
que, como vimos, no hebraico é sempre usada num contexto de ritual religioso, de
impureza no sentido religioso, o que é praticamente um consenso entre os hermenêutas veterotestamentários.
Há fartas outras comprovações bíblicas que suportam essa teoria de que Paulo
quando fala em sua Carta aos Coríntios 6:9-10 que são os prostitutos cultuais
que não herdarão o reino dos céus, da mesma forma que o texto de Levítico o faz.
A começar pela própria introdução do texto da Lei Mosaica que se inicia
(Levítico 18:3) mostrando que as proibições do capítulo são proibições de
práticas que os egípcios e canaanitas faziam por "estatuto", o que deixa, assim,
inquestionável que se tratam de práticas de cunho religioso pagão.
Vários outros
textos como Deuteronômio 12:30, I Reis 14:23, Deuteronômio 23:4, 1 Reis
15:12-13, Deuteronômio 23:17, I Reis 22:46 e II Reis 23:7 fazem comprovar que
Paulo, em Coríntios, em vez de falar de homossexuais, apenas repete o
claro
mandamento bíblico de condenação aos prostitutos cultuais.
Devido a esses fortes argumentos, muitas igrejas cristãs históricas, e mesmo
muitos setores da Igreja Romana têm em definitivo desconsiderado esta passagem
de Coríntios, e mesmo a de Romanos, como referentes à homossexualidade.
Entendem
que os textos condenam somente o sexo idolátrico, lascivo e promíscuo (entre
pessoas do mesmo sexo ou não). Essa interpretação é ratificada por importantes
círculos acadêmicos, especialmente na Europa e Canadá, e mesmo nos EUA, nos seus
setores mais liberais. Na América Latina, em especial no Brasil, somente a
Igreja Evangélica de Confissão Luterana e a Igreja Anglicana parecem adotar
posicionamentos similares. A Nova Bíblia Anotada Oxford, considerada uma das
mais relevantes academicamente do mundo, traz notas que validam a não condenação
dessas passagens aos homossexuais, também a Bíblia de Jerusalém, umas das
traduções mais respeitadas no mundo teológico, não aceita a tradução desses
textos como sendo referentes aos homossexuais. No entanto, alguns religiosos
levantam fortes críticas a essa teologia - também chamada de Teologia Inclusiva
- acusando-a de excessivamente liberal. Afirmam que, mesmo que em se tratando de
prostituição idólatra, as condenações de Paulo também incluiriam os homossexuais
de nosso tempo pois estes, ao adotarem o estilo de vida gay, estariam optando
por uma prática sexual caída, antinatural e aversa aos valores dividos e, por
isso, recairiam da mesma forma em uma forma também de paganismo idólatra.
É fato notório, não obstante, que importantes teólogos cristãos, até mesmo não
liberais, têm se manifestado a favor da teologia inclusiva em nossos dias.
Philip Yancey, Desmond Tutu, Leonardo Boff, Caio Fábio, Frei Beto, Neemias
Mariem, Dom Evaristo Arns, Martin Luther King Jr, entre outros grandes
intelectuais do mundo teológico, têm se manifestado sistematicamente contra a
homofobia da Igreja e pela inclusão teológica dos homossexuais. No início do ano
de 2008, o pastor Philip Yancey, considerado um dos maiores e mais influentes
autores cristãos atuais, colunista da famosa revista Christianity Today, deu uma
polêmica entrevista à revista gay americana Whosoever na qual afirma que os
homossexuais que não são aceitos em suas igrejas como eles são, deveriam
deixá-las para se socorrerem em outros grupos que os aceitem, pois "estas
igrejas precisam de educação". Já o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, um dos
mais importantes líderes anti-apartheid, quando ganhou o Prêmio Nobel da Paz, em
1984, declarou também que o ódio contra gays é tão condenável quanto o racismo.
"Penalizar alguém por sua orientação sexual é o mesmo que penalizar alguém por
algo que a pessoa nada pode fazer a respeito, como a cor da pele. Ao fazer isso,
a Igreja persegue um grupo que já é perseguido", disse. Leonardo Boff, por sua
vez disse que "é fundamental reconhecer a criação do amor de Deus e dizer que
onde há amor entre casais, ou entre homossexuais, seja mulher ou homem, onde há
amor há ato de Deus, porque Deus é amor.
Queda de Sodoma e Gomorra
Muitos religiosos, especialmente os tidos como conservadores, e também o
senso-comum associam a queda de Sodoma e Gomorra com a prática de relações
homossexuais,[4] o que teria feito com que as cidades fossem destruídas. No
entanto, estudiosos mostram que o pecado cometido teria sido o da falta de
hospitalidade com os estrangeiros, e a intenção de estupro dos visitantes, já
que o termo conhecer, fundamental para o entendimento de tal trecho,
significaria alí claramente um abuso sexual[carece de fontes?], e em nada se
vincularia a um relacionamento homoafetivo, mas sim ao abuso e à violência.
Segundo o relato bíblico, os habitantes dessa terra seriam cananeus.[5] O
território antes do cataclismo, era paradisíaco. Ocupava uma área
aproximadamente circular no vale inferior do Mar Morto (chamada de Distrito ou
Bacia, do hebr. Kik.kár).[6]
Após o retorno de Abrão (Abraão) do Egipto, menciona que "eram maus os homens de
Sodoma, e grandes pecadores contra o SENHOR (YHVH)".[7] Mas isso não chegou a
impedir uma tolerância entre os habitantes de Sodoma (cidade-estado) com o
patriarca Abrão, e com o seu sobrinho, Ló.[8]
Dois anjos de Deus, materializados, teriam dito a Abrão que "o clamor de Sodoma
e Gomorra se tem multiplicado, e porquanto o seu pecado se tem agravado muito."
Abrão intercede 3 vezes pelos sodomitas. A resposta final é: "Se houver em
Sodoma 10 pessoas justas, não será destruída".[9] Qual era o pecado grave dos
Sodomitas?
Esses dois anjos entram na cidade, que fica em uma região desértica, para pedir
abrigo e proteção. Ló se apiedou desses viajantes e os hospedou em sua casa,
porém, sem conhecer a real identidade angelical destes.[10] Antes de se
deitarem, os homens da cidade, descontentes com o fato de Ló, que também era um
homem de fora, ter trazido dois outros estranhos para a cidade, cercaram então
sua casa, desde do rapaz até o velho, todo o povo numa só turba, exigindo que Ló
pusessem os visitantes para fora de sua casa para que fossem estuprados,[11] o
que era uma prática freqüente na Antigüidade, quando prisioneiros, guerreiros,
ou exércitos vencidos eram comumente violentados sexualmente como forma de
desonra, humilhação ou castigo. Ló roga para que os homens não fizessem esse mal
ao seus visitantes, mas a turba, ainda mais irada com ele, o ataca dizendo que
faria, então, a Ló ainda mais maldades do que com os visitantes. O texto então
termina afirmando que os anjos protegeram, ao fim, a Ló e a sua família e, em
seguida, toda a cidade teria sido destruída por Deus com fogo e enxofre.
Há atualmente teológos e acadêmicos que afirmam que esta passagem do livro de
Gênesis não se refere à homossexualidade, mas ao abuso, ao desamor e a falta de
piedade. A Bíblia Anotada New Oxford afirma: "…a questão principal aqui é a
hospitalidade aos visitantes divinos. Nesta passagem a sacralidade da
hospitalidade é ameaçada pelos homens da cidade que queriam violentar os
hóspedes. Apesar da implícita (e óbvia) desaprovação ao abuso homossexual nesta
passagem, o ponto principal desta passagem parece ser a ameaça que os habitantes
representam ao valor da hospitalidade. Esta é tão valorizada neste contexto, a
ponto de neutralizar a negatividade da atitude de Ló ao oferecer suas filhas em
lugar de seus hóspedes o que, hoje, seria uma atitude impensável e repugnante à
qualquer leitor". Segundo hermenêutas, a história de Sodoma e Gomorra faz,
assim, uma alusão profética à vinda de Cristo que, assim como os anjos, é o
enviado de Deus à terra e seria acolhido pelos homens justos, mas também seria
recebido cruelmente pelos homens sem piedade e maus que aviltariam e atacaram
seu corpo, mas, ao fim, sua glória e justiça prevaleceriam.
Porém, o entendimento laico comum da passagem é, não obstante, que Sodoma e
Gomorra teriam de fato sido destruídas porque os habitantes dessas cidades
seriam todos homossexuais. Essa concepção popular é fruto da filosofia de São
Tomás de Aquino que, na Idade Média, pela primeira vez se referiu ao sexo entre
homens como "sodomia". Tal autor inclui a homossexualidade entre os pecados
contra naturam, junto com a masturbação e a relação sexual com animais. Para
Tomás esses pecados sexuais são mais graves do que os pecados secundum naturam,
embora estes se oponham gravemente à ordem da caridade, por exemplo: adultério,
violação, sedução. Isto porque, para Aquino, a ordem natural foi fixada por Deus
e sua violação constitui uma ofensa ao Criador, o que seria para ele mais grave
do que uma ofensa feita ao próximo (cf. Suma Teológica, II-II, questão 154,
artigo 11, corpo). Santo Tomás de Aquino chega a colocar a prática da
homossexualidade no mesmo plano de pecados torpíssimos, como o de canibalismo.
A partir de então, devido a enorme influência do pensamento tomista no
cristianismo, a palavra "sodomia" popularmente foi-se desvinculando de seu
sentido filológico original e passou a ser, em quase todo mundo, conotativa de
homogenitalidade, ou então sexo anal, seja este hétero ou homossexual. Muitos
religiosos da Teologia Inclusiva salientam, porém, que este entendimento seria
homofóbico e conflitante com a própria Bíblia que em todas as vezes que se
refere novamente a Sodoma e Gomorra e aos sues pecados (como em Ezequiel
16:49-50) não mencionaria nada referente à homossexualidade - e mesmo a única
menção à questão da sexualidade nessas cidades (Judas 6-7), somente se condena a
intenção de intercurso sexual entre seres humanos e anjos, conforme também se
fez em Gênesis 6: 1-2,4.
Referências bíblicas de apoio à homossexualidade
Três secções da Bíblia são analisadas como podendo ter contexto homossexual, no
entanto são vistos pela maior parte dos cristão como apenas textos referentes a
grandes amizades. O que está em conformidade com a própria Bíblia que tem como
doutrina principal o amor fraterno, em que não há a prática do sexo.
Rute e Noemi
Noemi era viúva com dois filhos. Rute é a viúva de um dos filhos de Noemi.
"Disse, porém, Rute: Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te;
porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei
eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus; 17 Onde quer que morreres
morrerei eu, e ali serei sepultada. Faça-me assim o SENHOR, e outro tanto, se
outra coisa que não seja a morte me separar de ti."[12]
O pensamento majoritário no cristianismo é que vendo que sendo Noemi velha, e,
não tendo marido, iria sofrer muito naquela região inóspita por volta do ano
1000 A.C., pois, ela não tinha mas quem a protejesse, o qual era o papel do
homem em tal época. A passagem acima indicaria apenas uma amizade muito forte
entre Rute e Noemi, segundo a interpretação de trechos anteriores:
"…Morreu Elimeleque, marido de Noemi; e ficou ela com seus dois filhos, os quais
casaram com mulheres moabitas; era o nome de uma Orfa, e o nome da outra, Rute;
e ficaram ali quase dez anos. Morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando,
assim, a mulher desamparada de seus dois filhos e de seu marido. Então, se
dispôs ela com as suas noras e voltou da terra de Moabe, porquanto, nesta, ouviu
que o SENHOR se lembrara do seu povo, dando-lhe pão. Saiu, pois, ela com suas
duas noras do lugar onde estivera; e, indo elas caminhando, de volta para a
terra de Judá, disse-lhes Noemi: Ide, voltai cada uma à casa de sua mãe; e o
SENHOR use convosco de benevolência, como vós usastes com os que morreram e
comigo. O SENHOR vos dê que sejais felizes, cada uma em casa de seu marido. E
beijou-as. Elas, porém, choraram em alta voz e lhe disseram: Não! Iremos contigo
ao teu povo. Porém Noemi disse: Voltai, minhas filhas! Por que iríeis comigo?
Tenho eu ainda no ventre filhos, para que vos sejam por maridos? Tornai, filhas
minhas! Ide-vos embora, porque sou velha demais para ter marido. Ainda quando eu
dissesse: tenho esperança ou ainda que esta noite tivesse marido e houvesse
filhos, esperá-los-íeis até que viessem a ser grandes? Abster-vos-íeis de
tomardes marido? Não, filhas minhas! Porque, por vossa causa, a mim me amarga o
ter o SENHOR descarregado contra mim a sua mão. Então, de novo, choraram em voz
alta; Orfa, com um beijo, se despediu de sua sogra, porém Rute se apegou a
ela.…" (Livro de Rute verc. 3 ao 14)
De acordo com a posição majoritária cristã essa parte comprova que elas não eram
homosexuais, pois, a própria Noemi diz que, "seria amargoso" se absterem de
maridos. E também, se assim fosse "Orfa" também teria que ser homossexual,
afinal, a dor dela também foi grande ao se despedir de Noemi, Rute porém, não
conseguiu deixar sua bondosa sogra sozinha. E, as várias citações do nome do
Deus dos israelenses como Senhor, mostravam Noemi uma amante da lei, assim,
amaria os mandamentos, inclusive os contrários a homossexualidade.
David e Jónatas
David e Jônatas, "La Somme le Roy", 1290. Detalhe de iluminura de manuscrito
francês.
Museu Britânico.
Jónatas era o filho do Rei Saúl e primeiro na linha de sucessão. Mas Samuel
indicou David para ser o próximo rei o que trouxe grande preocupação a Saúl:
"a alma de Jónatas se ligou com a alma de David; e Jónatas o amou, como à sua
própria alma"[13]
"E Saul naquele dia o tomou, e não lhe permitiu que voltasse para casa de seu
pai. 3 E Jônatas e Davi fizeram aliança; porque Jônatas o amava como à sua
própria alma. 4 E Jônatas se despojou da capa que trazia sobre si, e a deu a
Davi, como também as suas vestes, até a sua espada, e o seu arco, e o seu
cinto."[14]
(…)
"E, indo-se o moço, levantou-se Davi do lado do sul, e lançou-se sobre o seu
rosto em terra, e inclinou-se três vezes; e beijaram-se um ao outro, e choraram
juntos, mas Davi chorou muito mais."[15]
(…)
"Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; quão amabilíssimo me eras! Mais
maravilhoso me era o teu amor do que o amor das mulheres."[16]
A posição majoritária no cristianismo aponta todos esses trexos se referindo a
amizades muito fortes. 1. Jonatas tinha amado Davi, pois, sabia da sua vocação
para com Deus. Na outra passagem mostra a sua fidelidade com a religião, e, o
amor era pela expectativa de um grande rei que era profetizado, ou seja, a
vitória e o ápice de Israel. 2. Beijar-se sempre foi um costume do
oriente-médio, que, não expressa sexualidade de acordo com a aquela cultura
desde os tempos mais remotos. 3. Davi, no caso, considerado segundo o coração de
Deus, estava se referindo que, a amizade valia mais que a paixão. No caso, o
"amor divino" é expresso através mas da amizade, e, Jonatas que era fiel, tinha
preferido Davi a seu Pai, pois, Davi tinha sido escolhido por Deus logo era mais
justo em carater. Desta forma o amor divino, a amizade, valem mais que a paixão.
Daniel e Aspenaz
Aspenaz era o chefe dos eunucos de Nabucodonosor, Rei da Babilônia. Daniel era
um dos eunucos (segundo algumas interpretações) com ascendência da casa de
Israel[carece de fontes?].
"Ora, Deus fez com que Daniel achasse graça e misericórdia diante do chefe dos
eunucos"[17]
A interpretação desta frase não é consensual: a versão inglesa de King James
1611, e na versão Webster 1833[18] em vez de "misericórdia" pode-se ler "amor
carinhoso" (tender love) reforçando assim algo mais que uma relação hierárquica.
Na versão Basic English são usadas as palavras como "sentimentos de carinho e
compaixão" (kind feelings and pity). As palavras originais em hebraico podem ser
traduzidas para "misericórdia" ou "clemência" reforçando este ponto de vista,
assim como o fato de em mais nenhuma passagem Daniel demonstrar tal afeto por
outra pessoa. No entanto Daniel e Aspenaz sendo ambos eunucos nunca poderiam
consumar este amor físico.
Por outro lado este texto aparece na sequência do pedido de Daniel a Aspenaz de
não comer a comida que lhe estava destinada, uma vez que esta era oferecida aos
idolos da Babilónia. Perante este pedido, e mediante a ordem do rei, Daniel
conseguiu convencer Aspenaz uma vez que ganhou a confiança deste pelo seu porte.
A análise do texto em hebraico, assim como a tradução dos setentas para o grego
(septuaginta), apontam neste sentido[carece de fontes?]. Por exemplo a tradução
ARC, que é muito idêntica à maioria das traduções internacionais como American
Standard Version, God's Word, entre outras traduções, apresentam qualquer coisa
como: "Deus concedeu a Daniel misericórdia e compreensão da parte do chefe dos
eunucos". Neste contexto o texto em causa não mostra que Daniel ou Aspenaz como
homossexuais[carece de fontes?].
Notas e referências
1. ↑ O sexo procriativo seria a única forma natural em que o sexo era pensado na
cultura judaica, especialmente em se tratando das mulheres[carece de fontes?]
2. ↑ Christ Church (Reformed Presbyterian Church of North America). Private
Interpretation (em inglês). Página visitada em 16 de outubro de 2009.
3. ↑ SWEET, William Warren. American Culture and Religion. Six Essays. Dallas:
Southern Methodist University Press, 1951, p. 36.
4. ↑ Bible.org Homosexuality: The Christian Perspective, Q. 3; White-Neill 2002;
Bahnsen 1978
5. ↑ Génesis 10:19
6. ↑ 13:10
7. ↑ Génesis 13:13
8. ↑ Génesis 13 e 14
9. ↑ Génesis 18:20-33
10. ↑ Génesis 19:1-3
11. ↑ 19:4,5
12. ↑ Ruth e Noemi (Rute 1:16-17 e 2:10-11
13. ↑ I Samuel 18:1
14. ↑ I Samuel 18:2
15. ↑ I Samuel 20:41
16. ↑ II Samuel 1:26
17. ↑ Daniel 1:9
18. ↑ http://bibliaonline.com.br/web/dn/1
Ligações externas
* Lésbicas e Gays na Bíblia - artigo no site PortugalGay.pt
* Todos de Jesus - Teologia Inclusiva da Igreja Progressista de Cristo
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Homossexualidade_na_B%C3%ADblia>
As tentativas religiosas de forçar o
sentido daquilo que é absurdo na Bíblia sempre vão muito longe. E essa
de tornar a probição do o sexo homoafetivo uma regra exclusiva a rituais
religiosos se mostram absurdamente destituídas de fundamento,
justificando absurdos maiores ainda:
"Nenhum homem se chegará a qualquer
parenta da sua carne, para descobrir a sua nudez. Eu sou o Senhor.
Não descobrirás a nudez de teu pai e de tua mãe: ela é tua mãe;
não descobrirás a sua nudez.
Não descobrirás a nudez da mulher de teu pai; é nudez de teu pai.
A nudez da tua irmã, filha de teu pai, ou filha de tua mãe, nascida em
casa, ou fora de casa, a sua nudez não descobrirás.
A nudez da filha do teu filho, ou da
filha de tua filha, a sua nudez não
descobrirás; porque é tua nudez.
A nudez da filha da mulher de teu pai, gerada de teu pai (ela é tua irmã), a sua
nudez não descobrirás.
A nudez da irmã de teu pai não descobrirás; ela é parenta de teu pai.
A nudez da irmã de tua mãe não descobrirás; pois ela é parenta de tua mãe.
A nudez do irmão de teu pai não descobrirás; não te chegarás à sua mulher; ela é
tua tia.
A nudez de tua nora não descobrirás: ela é mulher de teu filho; não descobrirás
a sua nudez.
A nudez da mulher de teu irmão não descobrirás; é a nudez de teu irmão.
A nudez de uma mulher e de sua filha não descobrirás; não tomarás a filha de seu
filho, nem a filha de sua filha, para descobrir a sua nudez; parentas são;
maldade é.
E não tomarás uma mulher juntamente com sua irmã, para fazê-la sua rival,
descobrindo a sua nudez diante dela em sua vida.
E não chegarás à mulher durante a separação da sua imundícia, para descobrir a
sua nudez,
Nem te deitarás com a mulher de teu próximo para cópula, para te contaminares
com ela.
E da tua descendência não darás nenhum para fazer passar pelo fogo perante
Moloque; e não profanarás o nome de teu Deus. Eu sou o Senhor.
Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é;
Nem te deitarás com um animal, para te contaminares com ele; nem a mulher
se porá perante um animal, para ajuntar-se com ele; confusão é.
Com nenhuma destas coisas vos contamineis; porque com todas estas coisas se
contaminaram as nações que eu expulso de diante de vós.
(Levítico 18:6-24)
A julgar pelo argumento do autor desse
artigo, se a
prática homossexual seria proibida somente se tivesse relacionada a ritual
sagrado, o mesmo
teria que valer para todas as outras relações também aí proibidas, e o hebreu poderia muito bem ter relações sexuais com a irmã, com a mãe e
com o pai, com a filha, ou mesmo com animais, desde que não estivesse vinculado a ritual religioso.
É a argumentação mais estulta que já vi no meio religioso.
Qualquer pessoa normal, sem condicionamento de
parcialidade religiosa, entende perfeitamente que esses dezenove versículos
detalham a lei mosaica no que diz respeito ao sexo, não especificamente a
rituais religiosos.