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Teorias acerca do descobrimento do Brasil

Existem diversas suposições e hipóteses acerca da descoberta do Brasil. A mais conhecida trata de uma possível expedição secreta do navegador português Duarte Pacheco Pereira em 1498, que teria visado identificar os territórios que pertenciam a Portugal ou a Castela de acordo com o Tratado de Tordesilhas, de 1494 — Pacheco Pereira participou das negociações do tratado.[16][17] A hipotética viagem está embasada exclusivamente no relato do explorador em Esmeraldo de Situ Orbis (1505), livro de sua autoria. O texto, contudo, é ambíguo: Pacheco Pereira diz textualmente que o rei de Portugal "mandou descobrir a parte ocidental", o que sugere que ele falava não de suas explorações, mas de tudo que já fora explorado por vários navegadores e era conhecido em 1505. Esta visão é reforçada pelas latitudes e longitudes informadas, que vão da Groenlândia ao atual Sul do Brasil. Além disso, a possibilidade da existência de uma política de sigilo dos monarcas portugueses, escrita na primeira metade do século XX pelo historiador Damião Peres, não se sustenta, uma vez que era prática comum, na ausência de um tratado, reclamar a soberania de uma terra publicitando a sua descoberta.[17][18]

Existe ainda a suspeita de que a descoberta do Brasil pelos portugueses em 1500 teria sido intencional, baseada no conhecimento prévio do território. Como sugere Pacheco Pereira no livro Esmeraldo de Situ Orbis, em 1498 os navegadores lusitanos foram orientados por D. Manuel I a explorar o Atlântico em busca de terras. Antes de rumar para a Índia na expedição de 1500, Pedro Álvares Cabral teria então desviado para o ocidente além do necessário visando verificar a existência de territórios conforme o desejo do rei. Ao avistar o Brasil, Cabral julgou ter descoberto uma ilha, o que invalida a teoria de que ele teria conhecimento de terras continentais naquelas paragens. Já o fato de a então chamada Ilha de Vera Cruz ter sido representada no mapa de Juan de la Cosa, confeccionado no mesmo ano, anula outra teoria, a de que as descobertas portuguesas seriam segredos não compartilhados com os espanhóis. Apesar do achamento, a viagem cabralina à Índia foi considerada um fracasso. Cabral recebeu pelos seus feitos uma pensão anual de 30 mil reais — muito menos do que os 400 mil reais dados em 1498 a Vasco da Gama —, e foi esquecido pelo rei, morrendo na obscuridade por volta de 1520. Seu túmulo foi ignorado por trezentos anos até ser localizado, em 1839, pelo historiador Francisco Adolfo de Varnhagen.[18][8][19]
Planisfério de Cantino, 1502

Há também teorias que contestam os locais avistados por Vicente Yáñez Pinzón e Pedro Álvares Cabral. O primeiro historiador brasileiro a questionar o desembarque do navegador espanhol no cabo de Santo Agostinho foi o Visconde de Porto Seguro, Francisco Varnhagen, em meados do século XIX.[20] Embora Varnhagen reconhecesse que Pinzón esteve no Brasil antes de Cabral, no seu pensamento o cabo de Santa María de la Consolación seria a ponta do Mucuripe, na cidade de Fortaleza. A tese foi aceita pelo almirante Max Justo Guedes, mas contestada por muitos historiadores.[21] Já para os portugueses, como Duarte Leite, os espanhóis teriam desembarcado ao norte do cabo Orange, na atual Guiana Francesa.[22] Sobre o local avistado por Pedro Álvares Cabral, há uma tese que defende o Pico do Cabugi no Rio Grande do Norte como o monte descrito por Pero Vaz Caminha, e a Praia do Marco como o ponto de chegada da frota cabralina, porém, de acordo com o Planisfério de Cantino (1502), feito no ano seguinte à expedição exploratória que resgatou os dois degredados deixados no Brasil por Cabral, o lugar de desembarque do navegador português está situado ao sul da Baía de Todos-os-Santos.[23]
Ver também

Carta de Pero Vaz de Caminha
Era dos Descobrimentos
Descobrimentos espanhóis
Descobrimentos portugueses
Descobrimento da América
Mapa de Juan de la Cosa
Planisfério de Cantino
História do Brasil
Colonização do Brasil

Referências

Henri Beuchat. «Manual de arqueología americana» (em espanhol). p. 77. Consultado em 23 de abril de 2019
«Pinzón ou Cabral: quem chegou primeiro ao Brasil?». G1. Consultado em 5 de abril de 2017
Antonio de Herrera y Tordesillas. «Historia general de los hechos de los Castellanos en las islas y tierra firme de el Mar Oceano, Volume 2» (em espanhol). p. 348. Consultado em 22 de abril de 2019
«Martín Alonso Pinzón and Vicente Yáñez Pinzón» (em inglês). Encyclopædia Britannica. Consultado em 3 de fevereiro de 2020
«Primeira Missa». Enciclopédia Delta de História do Brasil. [S.l.]: Editora Delta S/A. 1969. p. 1439
«Uma história do litoral pernambucano e o porto dos caminhos sinuosos» (PDF). Unicap. Consultado em 14 de abril de 2019
«Geoparque Litoral Sul de Pernambuco - CPRM». Serviço Geológico do Brasil. Consultado em 14 de abril de 2019
DAVIES, Arthur (1976). «The Date of Juan de la Cosa's World Map and Its Implications for American Discovery». The Geographical Journal. 142 (1). págs. 111-116
«D. Manuel I» (PDF). CM Mirandela. Consultado em 1 de maio de 2019
Shozo Motoyama. «Prelúdio para uma história: ciência e tecnologia no Brasil». Consultado em 1 de maio de 2019
«Bens tombados em Paranaguá» (PDF). Secretaria de Estado da Cultura do Paraná. Consultado em 1 de maio de 2019
«Capitulación otorgada a Vicente Yáñez Pinzón» (em espanhol). El Historiador. Consultado em 23 de abril de 2019
PEREIRA, Paulo Roberto (org.). Os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil. In: CAMINHA, Pero Vaz de. Carta de Pero Vaz de Caminha. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999. p. 31-59.
Cavalcante, Messias Soares. A verdadeira história da cachaça. São Paulo: Sá Editora, 2011. 608p. ISBN 9788588193628
MENDONÇA, Alexandre Ribeiro de. 22 de Abril de 1500ː Descobrimento do Brasil". inː Jornal do Exército, n.º 662, Out. 2016, pp. 38-43.
MOTA, Avelino Teixeira da. Duarte Pacheco Pereira, capitão e governador de S. Jorge da Mina. Mare Liberum, I(1990), pp.1-27.
«O caso Pacheco Pereira». PÚBLICO. Consultado em 5 de abril de 2017
Duarte Pacheco Pereira. «Esmeraldo de situ orbis». Consultado em 29 de abril de 2019
«Varnhagen (1816-1878)» (PDF). Funag. Consultado em 29 de abril de 2019
Francisco Adolfo de Varnhagen (1858). «Examen de quelques points de l'histoire geographique du bresil comprenant des eclaircissements nouveaux sur le seconde voyage tentrionales du bresil par hojida et par pinzon, sur l'ouvrage de navarrete, sur la veritable ligne de demarcation de tordesillas, sur l'oyapoc ou vincent pinzon, sur le veritable point de vue ou doit se placer tout historien du bresil, etc, ou, analyse critique du rapport de m. d'avezac sur la recente histoire generale du bresil». Biblioteca Digital do Senado Federal (BDSF). Consultado em 24 de abril de 2019
«Cronologia de Fortaleza». Arquivo Nirez. Consultado em 24 de abril de 2019
«História dos descobrimentos: colectânea de esparsos, Volume 1». Edições Cosmos. Consultado em 24 de abril de 2019

«União para provar que Cabral chegou primeiro ao Rio Grande do Norte». O Globo. Consultado em 24 de abril de 2019

Wikisource
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Bibliografia complementar

Ab'Saber, Aziz N. et all. História geral da civilização brasileira. Tomo I: A época colonial - Administração, economia, sociedade. (1º vol. 4ª edição). São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1972. 399p.
BOXER, Charles R. O império marítimo português, 1415-1825, "O ouro da Guiné e Preste João (1415-99)". São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 31-53.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso, "América Portuguesa e Índias de Castela". São Paulo: Editora Nacional, 1958.
LÉRY, Jean de. Viagem à terra do Brasil, "Capítulo XV - De como os americanos tratam os prisioneiros de guerra e das cerimônias observadas ao matá-los e devorá-los". São Paulo: Editora Edusp, 1980. p. 193-204.
STADEN, Hans. Hans Staden: primeiros registros escritos e ilustrados sobre o Brasil e seus habitantes, "História verídica e descrição de uma terra de selvagens, nus e cruéis comedores de seres humanos…". São Paulo: Editora Terceiro Nome, 1999. p. 53-84.

<https://pt.wikipedia.org/wiki/Descoberta_do_Brasil>

 

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