TRANGÊNERES - FALHA HORMONAL
Finalmente mundo está aprendendo a conviver com as falhas da
natureza. No passado, as pessoas transgêneres e homossexuais eram
tidas como possessas pelos demônios, pecaminosas, imorais, etc., como ainda são
tratadas em muitos meios religiosos. Mas, graças ao desenvolvimento
científico, atualmente elas estão sendo compreendidas.
"O que fazer?
Jazz, de 6 anos, é aparentemente uma estudante norte-americana comum. Usa
vestidos, tem cabelos compridos que enfeita com tiaras coloridas, e um quarto
rosa e lilás onde brinca de casinha com as amigas. Chega a ser difícil imaginar
que Jazz, na verdade, nasceu menino. Quando tinha pouco mais de 1 ano e começava
a dizer as primeiras palavras, a criança deixou claro que se sentia como uma
menina. Abria os macacões para parecer um vestido e, quando os pais o elogiavam
dizendo "bom menino", os corrigia dizendo "boa menina". Os pais de Jazz
acreditaram que aquilo iria passar. Mas não passou. A criança continuava
insistindo nas coisas de meninas e dizia que o pênis era um engano. Um dia,
surpreendeu a mãe com a seguinte frase: "Quando a fada boa vier, será que ela
pode mudar minha genitália?"
Casos como o de Jazz, que sofre de um distúrbio conhecido como transtorno de
identidade de gênero, começam a gerar sérias discussões na Europa e nos Estados
Unidos. Não existe uma teoria definitiva sobre o assunto. Na prática, é como se
a criança tivesse nascido no corpo errado. Alguns especialistas defendem que até
a oitava semana de gestação, os cérebros de todos os fetos são iguais:
femininos. Depois desse período, a testosterona (hormônio masculino) surge no
organismo dos bebês que serão meninos e começa a atuar na formação do feto. Uma
possível falha hormonal nesse processo pode imprimir o gênero errado no cérebro
de algumas crianças. O hormônio atinge o corpo, que desenvolve órgãos sexuais
masculinos e outras características, mas não chega ao cérebro, o que faz com que
a criança, ao nascer, pense e se sinta como menina. Ou, então, o hormônio chega
ao cérebro, mas não ao corpo.
Seja qual for a explicação exata, psicólogos, médicos e educadores não sabem
exatamente o que fazer em casos de crianças, que como Jazz, são chamadas de
transgêneres. Há quem defenda que detectar o problema na infância pode evitar
traumas às crianças e aos pais. "Na verdade, essas crianças são transsexuais.
Eles sentem que nasceram no corpo errado e percebem isso desde crianças, por
isso querem mudar o corpo. Mas não significa que elas tenham atração por pessoas
do mesmo gênero", diz Antônio Carlos Egypto, psicólogo e sociólogo, membro
fundador do Grupo de
Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS).
Nos últimos tempos, a mídia norte-americana tem dado especial atenção ao tema.
Segundo
matéria do canal de notícias "CNN", há escolas que, frente ao surgimento de um
aluno transgênere, optaram por instalar banheiros unisex, além de orientar
professores e se disponibilizar a esclarecer dúvidas de crianças e pais de
alunos.
A respeitada jornalista Barbara Waters, do canal "ABC", segunda maior emissora
de tevê dos Estados Unidos, fez um documentário com três famílias de crianças
transgêneres e tentou explicar porque os pais
preferem aceitar o desejo dos filhos em vez de forçá-los a se comportar de
acordo com o sexo que nasceram. Entre as famílias estava a de Jazz. Renee
Jennings, mãe da hoje menina, só encontrou explicação para o comportamento do
filho caçula com uma terapeuta especializada em questões de gênero, que fez o
diagnóstico: um transtorno raro, chamado transtorno de identidade de gênero.Ao
aceitar que o filho se vestisse como menina, Renee acredita que tomou a melhor
decisão para a felicidade dele. Ou, pelo menos, evitou o pior. Um estudo da
Universidade de São Francisco, nos Estados Unidos, confirma que crianças
transgêneres
reprimidas ou rejeitadas pela família têm quatro vezes mais chances de tentar
suicídio ou usar drogas e duas vezes mais chances de contrair o HIV. Mas, ainda
segundo a pesquisa, as chances caem drasticamente para aqueles que são aceitos
e, de fato, assumem a identidade
que acreditam ter, como Jazz. "Nós não o estimulamos, de maneira alguma. Só
demos apoio", disse Renee, no documentário da "ABC News".
"Possuir variação de gênero não significa que seu filho irá crescer e se
identificar como gay, lésbica ou bissexual. É importante convencer a si mesmo e
seu filho de que não estão fazendo nada de errado. Ser diferente não é errado é
apenas diferente. Ninguém decide a qual gênero pertence, apenas se sabe",
explica a norte-
americana Kim Pearson, diretora da Tyfa, uma espécie de Associação de Parentes e
Amigos de Crianças Transgêneres, criada há 2 anos nos Estados Unidos.
E o transtorno não se manifesta apenas em meninos. Em 2004, Rebecca, então com
14 anos, escreveu uma carta para os pais, dizendo que deviam chamá-la de Jeremy.
Ela pedia que eles aceitassem o que ele realmente era. Cortou os cabelos,
comprou roupas masculinas e começou a usar faixas debaixo da roupa para
disfarçar os seios. Foi bem aceito na escola, mas logo começou a menstruar e
quis tomar hormônios para bloquear a chegada da puberdade. Com medo de perder o
filho, que estava deprimido, os pais deixaram que Jeremy tomasse os hormônios
aos 16 anos. Agora, o jovem faz a barba, a voz engrossou e o corpo se tornou
mais másculo.
Especialistas se dividem quanto à idade para começar a tomar hormônios
bloqueadores. A maioria dos médicos, no entanto, concorda que quanto antes,
melhor. Por outro lado, a terapia hormonal também traz riscos à saúde, pois
aumenta as chances de câncer de mama e de esterilidade.
Na casa da família Grant, os pais estavam satisfeitos com o casal de gêmeos,
Ally e Richard, que nasceram há 11 anos. Aos 2 anos, porém, Richard começou a
dar sinais de que queria ser como a irmã, uma menina. Os pais tentavam estimular
o menino a fazer atividades de menino. Até que, um dia, eles surpreenderam
Richard tentando abrir um cortador de unhas para cortar o próprio pênis.
Quando Richard começou a ter ataques de pânico em casa e na escola, a mãe foi
falar com a coordenadora e explicou o caso. A escola, então, levou a família a
um especialista, que diagnosticou o distúrbio e os orientou a deixá-lo se
comportar como menina. Quando tinha 7 anos, Richard deixou o cabelo crescer e,
com o apoio da família, passou a ser chamado de Riley. Também começou a tomar
hormônios bloqueadores. Daqui a uns anos deve começar a tomar hormônios
femininos e, aos 18 anos, poderá, se quiser, fazer a cirurgia para se
transformar fisicamente em mulher. Na escola, entretanto, Riley ficou conhecida
como "a menina com pênis".
A discriminação e o preconceito, aliás, são os principais problemas enfrentados
por crianças e famílias que decidem apoiar o filho para que ele viva de acordo
com o gênero que ele sente ser.
E o preconceito que crianças transgêneres sofrem pode passar de xingamentos e
chegar ao extremo. Gwen Amber Araujo, uma transgênere norte-americana de 17
anos, foi cruelmente assassinada em uma festa, em 2003, após colegas de
faculdade descobrirem que era biologicamente homem. Hoje, a mãe dela, Silvia
Guerrero, dá palestras sobre o assunto tentando informar a população "até que as
pessoas parem de morrer pelo que são". Os assassinos foram presos. Mas Silvia
diz que sente falta de abraçar a filha. "Eles mataram meu bebê, que eu gerei no
meu ventre, e não um adolescente aberração-transsexual".
(http://www.folhauniversal.com.br/integra.jsp?codcanal=981&cod=145013&edicao=895)
Eles mudaram de sexo antes dos 18
Apesar de exceções, no exterior, alguns adolescentes já ganharam na Justiça o
direito à cirurgia de mudança de sexo, mesmo antes de completar 18 anos. É o
caso da cantora alemã Kim Petras que, em fevereiro deste ano, deixou de ser o
garoto Tim Petras e se tornou a transsexual mais jovem do mundo, com apenas 16
anos.
No caso dela, especialistas disseram não ter dúvidas de que era realmente uma
mulher com a genitália errada.
Kim, que faz sucesso como cantora na internet, começou a tomar hormônios aos 12
anos para interromper a puberdade e os efeitos dos hormônios masculinos (como
crescimento de pelos e voz mais grossa). Mais tarde, ele começou a tomar
hormônios para o crescimento dos seios.
Na Austrália, outra adolescente, de 17 anos, identificada apenas como “Alex”,
ganhou a permissão para a retirada completa dos seios no começo de maio.
Diagnosticada como portadora do transtorno de identidade de gênero, Alex também
iniciou o tratamento hormonal, aos 13 anos, para interromper a menstruação e o
desenvolvimento das formas femininas.
Em entrevista ao jornal local “The Age”, a juíza do Tribunal de Família de
Melbourne, Diana Bryant, disse que seria melhor para a jovem ter a permissão
para a operação “o mais rápido possível”, porque, enquanto fosse menor de idade
poderia usufruir dos serviços sociais oferecidos pelo governo. Ela também frisou
que “esse é um tempo crucial para a vida social e mental dos adolescentes”.
(http://www.folhauniversal.com.br/integra.jsp?codcanal=981&cod=145014&edicao=895)
Felizmente, o mundo jurídico hoje está entendendo e aceitando
lidar com as falhas da natureza, amenizando o sofrimento dessas pessoas.
Quando essas coisas eram era atribuídas a ações de demônios, essas pessoas
excepcionais estavam condenadas ao suplício eterno.
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