Robert Ingersoll fez os seguintes comentários em "Ingersoll's
Works", vol. 4, p. 266-67:
"Cristo, de acordo com a doutrina, é a segunda pessoa da
Santíssima Trindade, com o Pai sendo a primeira e o Espírito
Santo a terceira.
Cada uma dessas pessoas é Deus. Cristo é seu próprio pai e seu próprio filho. O
Espírito Santo não é nem pai nem filho, mas ambos. O filho foi gerado pelo pai,
mas já existia antes de ser gerado, exatamente o mesmo antes e depois. Cristo é
tão velho quanto seu pai e o pai é tão jovem quanto seu filho.
O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, mas já era igual a eles antes de
proceder, ou seja, antes de existir, mas mesmo assim ele tem a mesma idade que
os outros dois.
Deste modo, se afirma que o Pai é Deus, que o Filho é Deus e que o Espírito
Santo é Deus e que esses três deuses fazem um só deus.
De acordo com a tabela de multiplicação celestial, um é três e três vezes um é
um, e de acordo com a regra de subtração do céu, se diminuirmos dois de três,
sobram três. A regra da adição também é estranha: se somamos dois a um temos
apenas um. Cada um é igual a si mesmo e aos outros dois. Nunca houve nem nunca
haverá algo mais completamente idiota e absurdo que o dogma da Santíssima
Trindade".
Os cristãos estão diante de um dilema. A Bíblia diz no Antigo Testamento que "Eu,
eu sou Javé, e fora de mim não há nenhum Salvador" (Isaías 43:11). "A
Salvação vem de Javé" (Salmos 3:9), "Pois eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de
Israel, teu salvador" (Isaías 43:3). De acordo com o Antigo Testamento, só Deus
pode ser o Salvador. Para que Jesus Cristo possa ser o Salvador, ele também tem
que ser Deus.
Os defensores da Santíssima Trindade citam:
"Para que sejam um, como nós somos um" (João 17:22);
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (João
1:1);
"Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti" (João 17:21);
"Eu e o Pai somos um" (João 10:30);
"Quem me vê, vê o Pai" (João 14:9);
"Crede-me: eu estou no Pai e o Pai em mim" (João 14:11);
"Pai santo, guarda-os em teu nome que me deste, para que sejam um como nós"
(João 17:11);
"Pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade." (Colossenses
2:9).
A Bíblia tem muito mais versículos negando a Trindade que a confirmando:
"Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão só Deus" (Lucas 18:19)
"Porque meu Pai é maior do que eu" (João 14:28)
"Minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou" (João 7:16)
"Meu Pai, se possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu
quero, mas como tu queres" (Mateus 26:39)
"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Mateus 27:46)
"Daquele dia e da hora, ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, somente
o Pai" (Marcos 13:32)
"Que, tendo subido aos céus, está à direita de Deus" (Pedro 3:22)
E ainda há outros trechos, mas os que foram citados mostram bem as contradições.
Eis o dilema. Os cristãos sabem que, para Jesus ser o salvador da humanidade,
ele tem que ser Deus também. É a Bíblia que diz. Se ele não é Deus, então ele
não pode ser o salvador. Sua morte não teria sentido. Portanto, os cristãos
inventaram a Santíssima Trindade para explicar a divindade de Cristo. Ele é
homem. Ele é Deus. Ele é ambos. Ele tem que ser, para poder ser o salvador.
Infelizmente, ele é, no melhor dos casos, indeciso. Às vezes ele diz que ele e
Deus são um só. Às vezes ele admite que Deus sabe de coisas que ele ignora e
faz coisas que ele não pode fazer. Os cristãos apelam para as coisas mais
estranhas para provar o dogma da Santíssima Trindade, inclusive declarar que ele
é um "mistério" e que "nós somos muito limitados para entender". A Bíblia é a
palavra perfeita e infalível de Deus? A doutrina da Santíssima Trindade que os
cristãos criaram e as contradições em que ela implica gritam que "Não" ! Mas
então como foi que o dogma veio a existir?
As origens da doutrina da Santíssima Trindade são chocantes. Como no caso da
maioria das questões históricas relativas à cristandade, houve muita fraude e
derramamento de sangue. Muitas vidas foram perdidas antes que o Trinitarianismo
fosse enfim adotado. Como muitos cristãos sabem, a palavra "trindade" não
aparece na Bíblia. E não aparece porque é uma doutrina que evoluiu aos poucos no
início do cristianismo. Foi um processo manipulado, sangrento e mortal até que
finalmente se tornou uma doutrina "aceita" da Igreja.
CONSTANTINO - COMEÇA A CRIAÇÃO DA TRINDADE
Flavius Valerius Constantius (c. 285-337 AD), Constantino o Grande, era
filho do imperador Constâncio I. Quando seu pai morreu em 306 AD, Constantino
tornou-se imperador da Bretanha, Gália (atual França) e Espanha. Aos poucos, foi
assumindo o controle de todo o império romano. Divergências teológicas relativas
a Jesus Cristo começaram a se manifestar no império de Constantino quando dois
oponentes principais se destacaram dos outros e discutiram sobre se Cristo era
um ser criado (doutrina de Arius) ou não criado, e sim igual e eterno como Deus
seu pai (doutrina de Atanásio). A guerra teológica entre os adeptos de Arius e
Atanásio tornou-se acirrada. Constantino percebeu que seu império estava sendo
ameaçado por esta divisão doutrinal. Constantino começou a pressionar a Igreja
para que as partes chegassem a um acordo antes que a unidade de seu império
ficasse ameaçada. Finalmente, o imperador convocou um concílio em Nicéia, em 325
AD, para resolver a disputa.
Apenas 318 bispos compareceram, o que equivalia a apenas uns 18% de todos os
bispos do império. Dos 318, apenas uns 10% eram da parte ocidental do império de
Constantino, tornando a votação tendenciosa, no mínimo. O imperador manipulou,
pressionou e ameaçou o concílio para garantir que votariam no que ele
acreditava, não em algum consenso a que os bispos chegassem.
As igrejas cristãs hoje em dia dizem que Constantino foi o primeiro imperador
cristão, mas seu "cristianismo" tinha motivação apenas politica. É altamente
duvidoso que ele realmente aceitasse a doutrina cristã. Ele mandou matar um de
seus filhos, além de um sobrinho, seu cunhado e possivelmente uma de suas
esposas. Ele manteve seu título de alto sacerdote de uma religião pagã até o fim
da vida e só foi batizado em seu leito de morte.
OS DOIS PRIMEIROS TERÇOS DA TRINDADE - O CONCÍLIO DE NICÉIA
A maioria dos bispos, pressionada por Constantino, votou a favor da doutrina de
Atanásio. Foi adotado um credo que favorecia a teologia de Atanásio. Arius foi
condenado e exilado. Vários bispos foram embora antes da votação para evitar a
controvérsia. Jesus Cristo foi aprovado como sendo "uma única substância" com
Deus Pai. É significativo que até hoje as igrejas ortodoxas do leste e do oeste
discordem entre si quanto a esta doutrina, ainda consequência de as igrejas do
oeste não terem tido nenhuma influência na "votação".
Dois dos bispos que votaram a favor de Arius também foram exilados e os escritos
de Arius foram destruídos. Constantino decretou que qualquer um que fosse
apanhado com documentos arianistas estaria sujeito à pena de morte.
O credo de Nicéia declara:
Creio em Um só Deus, Pai Onipotente, Criador do céu e da terra e de todas as
coisas visíveis e invisíveis. E em Um só Senhor, Jesus Cristo, o Filho unigênito
de Deus, gerado do Pai antes de todas as coisas. Deus de Deus, Luz da Luz, Deus
verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai, por
quem todas as coisas foram feitas ...
Mesmo com a adoção do Credo de Nicéia, os problemas continuaram e, em poucos
anos, a facção arianista começou a recuperar o controle. Tornaram-se tão
poderosos que Constantino os reabilitou e denunciou o grupo de Atanásio. Arius e
os bispos que o apoiavam voltaram do exílio. Agora, Atanásio é que foi banido.
Quando Constantino morreu (depois de ser batizado por um bispo arianista), seu
filho restaurou a filosofia arianista e seus bispos e condenou o grupo de
Atanásio.
Nos anos seguintes, a disputa política continuou, até que os arianistas abusaram
de seu poder e foram derrubados. A controvérsia político/religiosa causou
violência e morte generalizadas. Em 381 AD, o imperador Teodósio (um
trinitarista) convocou um concílio em Constantinopla. Apenas os bispos
trinitaristas foram convidados a participar. 150 bispos compareceram e votaram
uma alteração no Credo de Nicéia para incluir o Espírito Santo como parte da
divindade. A doutrina da Trindade era agora oficial para a Igreja e também para
o Estado.
Os bispos dissidentes foram expulsos da Igreja e excomungados.
O CREDO DE ATANÁSIO COMPLETA A DIVINDADE TRINA
O Credo (trinitário) de Atanásio foi finalmente estabelecido (provavelmente) no
século V. Não foi escrito por Atanásio mas recebeu seu nome. Este é um trecho:
"Adoramos um só Deus em Trindade ... O Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito
Santo é Deus; e contudo eles não são três deuses, mas um só Deus"
Por volta do século IX, o credo já estava estabelecido na Espanha, França e
Alemanha. Tinha levado séculos desde o tempo de Cristo para que a doutrina da
Trindade "pegasse". A política do governo e da Igreja foram as razões que
levaram a Trindade a existir e se tornar a doutrina oficial da Igreja. Como
vocês viram, a doutrina trinitária resultou da mistura de fraude, política, um
imperador pagão e facções em guerra que causaram mortes e derramamento de
sangue.
A TRINDADE CRISTÃ - MAIS UMA NO DESFILE DE TRINDADES
Por que surgiu esse clamor para elevar Jesus e o Espírito Santo a posições
iguais à do deus judeu/cristão? Simplesmente porque o mundo pagão estava
habituado a ter "três deuses" ou "trindades" como divindades. A trindade
satisfazia à maioria de cristãos que tinha vindo de culturas pagãs. O
cristianismo não se livrou das trindades pagãs, ele as adotou assim como adotou
tantas outras tradições pagãs.
☑️OUTRAS TRINDADES
O hinduísmo abraçou a divindade trina de Brahma, deus da criação; Vishnu, deus
da manutenção, e Siva, deus da destruição. Uma das muitas trindades do Egito era
Hórus, Ísis e Osíris.
Os fundadores da primitiva igreja cristã não tinham idéia de que o conceito de
Trindade iria surgir, ser votado por políticos, imposto por imperadores e um dia
se tornaria parte integral do cristianismo moderno. Não é nenhuma surpresa que
tal conceito seja "difícil" de explicar.
Há um deus cristão ou três em um? A maioria das igrejas cristãs apóia a doutrina
da Trindade mas ainda há algumas que rejeitam o ensinamento. Hoje em dia, temos
a liberdade de acreditar em uma possibibilidade ou outra, mas corremos o risco
de sermos ridicularizados se negarmos a crença na Trindade.
Como num supermercado, você escolhe a sua religião.
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COMEMORAÇÕES, FATOS E MITOS