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O VEGANISMO JÁ NÃO É ALGO NORMAL
PARA NÓS
Finalmente a comprovação do que eu já imaginava. Nós nos tornamos mesmo
carnívoros.
Vegetarianismo: é natural que os seres humanos incluam carne
em sua dieta?
Paul Palmqvist Barrena*
14 agosto 2020
Os humanos comem carne há milênios, mas nos últimos anos
surgiram dúvidas sobre essa dieta.
Ser vegano está na moda! Para muitos, adotar uma dieta
baseada apenas em produtos de origem vegetal representa uma
certa filosofia vital à qual outras propostas existenciais
costumam ser incorporadas, como ser um animalista ou
preocupar-se com as mudanças climáticas e uma agricultura
sustentável.
Por isso, muitos veganos consideram que quem pratica a dieta
onívora favorece a exploração animal, a degradação ambiental
e as postulações econômicas neoliberais.
Essas abordagens não resistem a um debate minimamente sério.
Mas questionar a dieta vegana, considerada por seus
praticantes como alternativa saudável, equilibrada e
sustentável à alimentação tradicional, já é outra questão.
Nesse sentido é conveniente indagar se a evolução de nossos
ancestrais nos oferece pistas sobre esse debate.
Os seres humanos apresentam uma série de adaptações em sua
evolução, tanto anatômicas quanto fisiológicas, com foco em
uma dieta mais carnívora.
A biologia evolutiva nos mostra que os humanos diferem de
outros primatas por serem as espécies mais genuinamente
onívoras dessa ordem de mamíferos.
Assim, o Homo sapiens apresenta uma série de adaptações,
tanto anatômicas quanto fisiológicas, em direção a uma dieta
mais carnívora que a dos grandes símios, como o chimpanzé, o
gorila ou o orangotango, nossos parentes vivos mais
próximos.
Da mesma forma, manifestamos outras características
derivadas, como o tipo de parasitas que abrigamos.
Sem querer ser exaustivo, a principal evidência evolutiva
que permite argumentar contra a conveniência de uma dieta
vegana seriam características do nosso aparelho digestivo.
1. Cólon curto e outras razões intestinais
Em primeiro lugar, o coeficiente de diferenciação do trato digestivo (quociente
entre a soma da superfície do estômago e do intestino grosso, dividido pela
superfície do intestino delgado) assume um valor intermediário para nós (0,8).
Isso o coloca entre a dos carnívoros (0,4-0,6) e a do chimpanzé ou orangotango
(1,0-1,2), ambos frugívoros. E é a metade do gorila (1,6), com dieta
exclusivamente herbívora.
Um homem e uma mulher com o sistema digestivo desenhado
Por ter um cólon mais curto, o trânsito dos alimentos pelo trato digestivo é
mais rápido, dificultando a absorção de alimentos vegetais ricos em fibras
Na verdade, nosso intestino delgado e o cólon representam 67% e 17% do volume
total do trato digestivo, enquanto nos macacos essas proporções variam entre
14-28% e 52-54%. Por termos um cólon mais curto, o trânsito dos alimentos pelo
trato digestivo é mais rápido, dificultando a absorção de alimentos vegetais
ricos em fibras.
2. Metabolismo e energia
Em segundo lugar, nos mamíferos, o aumento no tamanho corporal é acompanhado por
uma diminuição na taxa metabólica basal por unidade de massa, o que permite
reduzir a qualidade da dieta. Portanto, os grandes macacos subsistem consumindo
87-99% da matéria vegetal.
Os chimpanzés são a exceção, pois sua dieta frugívora, mais rica em energia,
permite que desenvolvam uma vida social mais intensa.
Nos ancestrais do nosso gênero (Homo), a evolução nas savanas áridas e sazonais
da África subtropical levou à inclusão de mais carne em sua dieta, obtida por
meio do consumo de animais sem ter participado de sua caça.
Isso é confirmado pelas marcas de descarnamento com lascas de sílex em vários
depósitos africanos, que datam de 2,6-2,3 milhões de anos. Que são semelhantes
aos identificados nos ossos fósseis de depósitos da região de Orce (Granada, na
Espanha), um milhão de anos depois, que mostram a presença humana mais antiga na
Europa Ocidental.
As evidências evolutivas do ser humano demonstram que a alimentação exclusiva
de vegetais é "antinatural" para nossa espécie.
A dieta carnívora, mais rica em energia (em kJ por dia e kg de massa corporal) e
mais digerível em relação ao que se espera de nossa taxa metabólica, também nos
abriu a porta para acessar aminoácidos essenciais e outros micronutrientes, como
certos ácidos graxos ômega-3 (EPA e DHA), presentes apenas em tecidos animais.
Outro composto importante é a taurina, um aminoácido muito raro na matéria
vegetal, com ação antioxidante e anti-inflamatória. Acontece que a capacidade de
sintetizá-lo é muito baixa em humanos e está ausente em felinos, hipercarnívoros
por excelência.
3. Cérebro grande
Um dos principais motivos pelos quais precisamos de uma alimentação de alta
qualidade está no alto custo de manutenção do nosso tecido nervoso, que
representa 22% da taxa metabólica basal, contra 8% no chimpanzé.
Como no nosso corpo também existem outros órgãos muito caros para manter, como o
coração, os rins ou o fígado, cujas dimensões não podiam ser reduzidas, a
expansão do cérebro obrigou a um encurtamento do trato digestivo humano,
promovendo a transição para uma dieta mais carnívora.
A expansão do cérebro humano forçou um encurtamento do trato digestivo, levando
à transição a uma dieta mais carnívora
Com isso, o grande desenvolvimento cerebral de nossa espécie, principalmente
durante a fase infantil, foi beneficiado por uma dieta concentrada, de fácil
digestão e de melhor qualidade. Hoje, no primeiro mundo, existem alternativas a
essa dieta que não incluem produtos de origem animal, mas essa possibilidade não
era acessível aos caçadores-coletores nômades durante o Pleistoceno (97% do
tempo desde nossa origem na África há cerca de 160 mil anos) e continua sem
estar em países em desenvolvimento.
4. A importância do ferro
Dizer que "as lentilhas têm muito ferro" é uma meia verdade
Também deve ser levado em consideração que os enterócitos do sistema digestivo
humano absorvem preferencialmente o ferro ligado à hemoglobina e compostos
porfirínicos (em produtos de origem animal), em comparação com os íons de ferro
na matéria vegetal, cuja assimilação é reduzida por 50-70% devido à presença de
fitatos e compostos fenólicos, que inibem a absorção.
Em contraste, os animais herbívoros não absorvem o ferro dos compostos ligados à
carne e dependem dos íons de ferro nas plantas.
Uma dieta vegana não atinge a ingestão mínima de 1,5 mg de
ferro/dia e deve ser suplementada. O que, no longo prazo, acaba prejudicando os
rins, já que grande parte desse ferro não é absorvido e eles têm que excretá-lo.
Portanto, embora seja verdade o que as nossas avós nos diziam que "as lentilhas
têm muito ferro", é apenas meia verdade. Porque assimilamos muito melhor o ferro
do sangue de um bom bife ou um de um filé de atum.
Os genes adaptativos para o consumo de gorduras animais desempenharam um papel
relevante para uma dieta mais carnívora e um maior tempo de vida durante a
evolução da raça humana
Essas adaptações à dieta onívora também se refletem em nossa expectativa de
vida.
Os humanos têm uma longevidade potencial 30% maior que a dos grandes macacos.
A seleção de genes adaptativos para o consumo de gorduras
animais, como o alelo ApoE3, teve papel relevante na mudança para uma dieta mais
carnívora e uma vida mais longa durante a evolução da raça humana, reduzindo o
risco de sofrer de Alzheimer, doenças vasculares e infecções microbianas.
Portanto, não é por acaso que em três quartos das sociedades nômades de
caçadores-coletores, que representam nosso estilo de vida tradicional (onde a
seleção natural atuou, ao contrário das sociedades modernas), a caça e/ou pesca
constituem mais de 50% da dieta. Enquanto o contrário ocorre em apenas 14%
deles. Em contraste, nos chimpanzés, a carne representa apenas 3% da dieta.
O menor consumo de carboidratos em populações humanas após adaptação a uma dieta
mais carnívora pode levar ao aparecimento de resistência à insulina (diabetes
mellitus do tipo 2) como mecanismo de acúmulo de gordura corporal em tempos de
abundância de recursos.
A frequência desta doença nas populações humanas modernas varia hoje entre 7 e
14%, embora sua prevalência tenha aumentado de 3-6% em 1980, devido ao excesso
de peso por causa do consumo excessivo de ácidos graxos saturados, da escassez
de fibra vegetal, bebidas com açúcares livres e vida sedentária.
O aumento de diabetes em humanos modernos se deve ao excesso de peso devido ao
consumo excessivo de ácidos graxos saturados, à escassez de fibras vegetais,
bebidas com açúcar livre e à vida sedentária.
Finalmente, outras evidências de nossa adaptação precoce à dieta carnívora vêm
das tênias, uma família de cestoides parasitas que usam carnívoros como
hospedeiros definitivos.
Três espécies do gênero Taenia nos utilizam apenas para completar seu ciclo,
embora também possam nos infectar como hospedeiros intermediários secundários,
resultando em cisticercose.
Em contraste, esses parasitas não infectam macacos em condições naturais. As
últimas evidências científicas indicam que a adaptação de tais cestoides para
infectar humanos na fase final de seu ciclo ocorreu na África, logo após o
surgimento de nossos ancestrais no continente. Ou seja, eles também comiam
carne.
Dieta mediterrânea
A dieta mediterrânea oferece uma alternativa mais equilibrada e saudável
Com base nesses argumentos, parece que uma dieta
exclusivamente vegana não é apenas antinatural em nossa espécie, dado nosso
passado evolucionário, mas há fortes razões fisiológicas que desaconselham isso.
Como tal, não deve ser considerada uma alternativa recomendável à dieta
mediterrânea mais equilibrada e saudável. A biologia evolutiva é clara nisso.
*Paul Palmqvist Barrena é professor de Paleontologia da Universidade de Málaga.
<https://www.bbc.com/portuguese/geral-53776828>
Nos quatro anos em que fui vegetariano, senti que havia algo de errado com minha
dieta, que isso não seria bom para mim. Analisando ao longo do tempo,
cheguei à conclusão de que, embora, sejamos descendentes de herbívoros, a
evolução nos tornou carnívoros, e é bem difícil retroceder. Este artigo me
diz que eu estava certo. Sou um animal carnívoro.
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CIÊNCIA
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