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ESPERANÇA: Com a
singularidade, Ray acha possível trazer seu pai de
volta à vida, mesmo que seja como um avatar |
Para o inventor e futurista Ray Kurzweil,
ser apenas um humano com inteligência limitada e uma
biologia condenada nunca foi o suficiente. Por conta disso
ele apareceu com uma ideia chamada singularidade - um tempo
no futuro em que, misturados com as máquinas, os humanos vão
ficar mais espertos e viverão para sempre. Do Massachusetts
Institute of Technology (MIT) à Casa Branca, há gente que ou
detesta a ideia ou não vê a hora de que esse dia chegue.
Algum de nós estará vivo para presenciar isso?
Aos 16 anos, Ray Kurzweil - hoje com 61 -
já aparecia na TV dos Estados Unidos para mostrar músicas
que havia composto no computador. Depois de estudar no MIT,
ele ganhou milhões de dólares devido a invenções como o
teclado eletrônico que leva seu nome - criado para seu amigo
Stevie Wonder -, o programa de reconhecimento óptico de
caracteres OCR e softwares que reconhecem a fala humana e a
transcrevem em arquivos de texto e vice-versa. Entre uma
criação e outra, ele diz tomar mais de 150 suplementos
alimentares. O objetivo: estar na melhor forma possível para
o dia em que a singularidade chegar.
*Quando chegaremos à
singularidade?
Ray Kurzweil: Por volta de 2045. Nós somos um
híbrido de tecnologia biológica e não-biológica. Uma porção
de gente tem dispositivos eletrônicos em seus cérebros, por
exemplo. A mais nova geração desses apetrechos permite que
alguns programas médicos sejam baixados em um computador
dentro da sua cabeça. Se você considerar que daqui a 25 anos
essas tecnologias vão estar 100 mil vezes menores e 1 bilhão
de vezes mais poderosas, tem uma ideia de como isso é
factível. E, apesar de a maioria de nós não ter computadores
nos corpos, eles já são parte de quem nós somos.
* E o que acontecerá com aquelas
pessoas que não quiserem se tornar "trans-humanos" e se
fundir com a tecnologia?
Kurzweil: Quantas pessoas rejeitam completamente
toda a tecnologia voltada para a medicina e a saúde? Quantas
se recusam a usar óculos ou a tomar remédios? As pessoas
dizem que não querem mudar, mas, quando aparece uma doença,
elas farão qualquer coisa para derrotá-la.
* Podemos superar nossos
problemas ambientais até 2045?
Kurzweil: Sim. As possibilidades são muito maiores
do que parecem. Nós só temos de capturar uma parte em 10 mil
da luz do sol para obtermos toda a energia de que
precisamos. A nanotecnologia tem sido empregada na coleção
das tecnologias solares, o que tem otimizado a energia em
escala exponencial. Essa tecnologia está ficando barata,
pois está sujeita à lei da aceleração.
* Que lei é essa?
Kurzweil: O poder das ideias para mudar o mundo
está se acelerando, e pouca gente percebe. As pessoas não
pensam exponencialmente, embora mudanças exponenciais se
apliquem a qualquer coisa que envolva a medição do conteúdo
de informação. Quando o projeto do genoma humano foi
anunciado em 1990, os céticos disseram: "Vocês não vão
conseguir fazer isso em 15 anos". Sete anos depois, eles
voltaram a criticar, afirmando que os cientistas haviam
concluído apenas 1% do projeto. Mas isso significava que
tudo estava no prazo: quando você atinge 1%, numa escala
exponencial você está a apenas sete dobras do objetivo.
* Os avanços da singularidade
parecem um tanto utópicos...
Kurzweil: Não são utópicos porque a ciência é uma
espada com duas pontas. Ao mesmo tempo em que soluciona
problemas, apresenta outros. E resolve estes e cria outros
tantos. E, nesse ritmo, os benefícios superam os estragos e
aceleram os progressos tecnológicos.
* Você aprendeu alguma coisa nova
a seu próprio respeito depois de ter participado do
documentário Transcendent Man?
Kurzweil: Sim. Aprendi coisas sobre o
relacionamento com o meu pai e a influência que ele teve na
minha formação como uma pessoa criativa. Só então vi o
quanto sinto a sua falta. Ele era um compositor reconhecido
em Viena, de onde fugiu por causa dos nazistas. Morreu de
enfarte quando eu tinha 20 e poucos anos.
* Você diz que sonha com a
possibilidade de trazer seu pai, Frederic, de volta à vida.
Como isso seria possível?
Kurzweil: Usando o DNA coletado de sua tumba por
nanorrobôs e adicionando todas as informações extraídas da
inteligência artificial formada pelas minhas memórias e de
todas as outras pessoas que se lembram dele. Além disso,
todos os momentos da vida dele que eu guardei, em caixas ou
armários, poderiam ser baixados. Ele poderia ser um avatar,
ou um robô, ou assumir qualquer outra forma.
DESCANSAR EM PAZ? JAMAIS |
Há quem garanta que Ray Kurzweil
é um profeta do século 21; há quem diga que ele não
passa de um excêntrico. Incontestável, porém, é o
seu arsenal de invenções e a impressionante coleção
de acertos nas previsões tecnológicas que faz. O
documentário Transcendent Man, de Robert Barry
Ptolemy, traz depoimentos e passagens biográficas
que ajudam a entender a enorme importância das
ideias de Kurzweil. Os entrevistados vão do colega
de MIT Neil Gershenfeld ["Ele pega coisas sobre as
quais todos concordam e faz previsões com as quais
ninguém concorda."] ao editor da Wired Kevin Kelly
["Ray está certo, mas no timing errado."], passando
pelo repórter do San Francisco Chronicle Tom Abate
["Nós realmente precisamos de velhos excêntricos e
ricos circulando por aí emporcalhando o nosso
trabalho?"]. O filme não tem data de estreia no
Brasil, mas já está em "cartaz" em sites de trocas
de arquivo como The Pirate Bay. |