Mais violência em nome de deus. Os
deuses nada fazem, mas seus criadores são perigosos.
Manifestante
gesticula durante demonstração em Nangarhar, no
Afeganistão. Analistas advertem para aumento de tensão
religiosa e risco de atentados no Ocidente.
Parwiz/REUTERS
"Queima do Corão provoca fúria entre
muçulmanos
Na véspera do aniversário dos ataques aos EUA e em pleno
feriado sagrado, protestos contra planos de pastor
incendiar livro sagrado deixam morto e feridos no
Afeganistão
Rodrigo Craveiro
Brasília – "Mostre o perdão, fale pela justiça e evite o
ignorante." O verso 199 da sura 7 do Corão bem que
poderia ser aplicado a uma crise que trouxe à tona o
medo, durante o nono aniversário dos ataques de 11 de
setembro. As ameaças do pastor norte-americano Terry
Jones de queimar 200 exemplares do livro sagrado do
islamismo aprofundaram a desconfiança entre cristãos e
muçulmanos e provocaram uma onda de protestos violentos
em vários países muçulmanos, incluindo Afeganistão,
Paquistão, Índia, Indonésia e nos territórios
palestinos.
No feriado sagrado do Eid Al-Fitr, Saleh bin Humaid –
imã da Grande Mesquita de Meca – somou-se à voz dos
líderes religiosos e dos governantes contra um gesto que
pode ter consequências trágicas. "Defender a queima de
exemplares de nosso livro santo é uma forma de
terrorismo e uma incitação ao terrorismo", declarou, ao
lado rei saudita, Abdullah bin Abdel Aziz, e do premiê
libanês, Saad Hariri. Pela primeira vez, foram
registradas mortes em manifestações contra o líder da
Dove World Outreach Center, uma pequena igreja de pouco
mais de 50 fiéis na cidade de Gainesville, na Flórida.
Em Faizabad, no Nordeste do Afeganistão, uma multidão
atacou a base da Organização do Tratado do Atlântico
Norte (Otan). As forças ocidentais repeliram o protesto
e mataram a tiros pelo menos um muçulmano. Aos gritos de
"Morte à América" e "Longa vida ao Talibã e a Osama bin
Laden", manifestantes tomaram as ruas de Farah (oeste) e
em Nangahar (leste). Por telefone, de Cabul, o analista
afegão Haroun Mir – diretor do Centro para Pesquisas e
Estudos Políticos do Afeganistão – fez um alerta sobre a
instabilidade do país. "Se esse pastor cometer o erro de
queimar o Corão, a reação no Afeganistão será
impressionante", declarou. "O governo de Hamid Karzai
não será capaz de conter a fúria popular e tenho certeza
de que a rede Al-Qaeda e o Talibã vão se aproveitar da
situação para criar ressentimento entre as tropas
ocidentais e o povo", acrescentou.
Na opinião de Mir, tal cenário minaria a missão dos
Estados Unidos no Afeganistão. "Os soldados seriam alvos
de mais ataques suicidas. Mais afegãos gostariam de se
explodir em atentados, aumentando a capacidade de
recrutamento do Talibã e da Al-Qaeda", prevê. A 420
quilômetros ao Norte de Cabul, em Mazar-e-Sharif, Sayed
Walid Mir temia o pior. "A queima do Corão causará
hostilidade de longa duração entre muçulmanos e cristãos
em todo o país e no Sul da Ásia", advertiu o funcionário
de uma empresa de telefonia celular, em entrevista pela
internet. "Mesmo os mais perigosos fundamentalistas no
mundo islâmico respeitam o cristianismo.
Acreditamos que
Jesus foi um profeta enviado por Deus para guiar a
humanidade ao respeito mútuo", desabafou.
O iraquiano Kawa Karem Sabir, morador de Sulaimanya
(noroeste), apelou à reportagem. "Por favor, diga a eles
que não queimem o grande livro sagrado do islã", pediu.
Ele lembrou que o islã e os cristãos cultuam um mesmo
Deus. "Devemos trazer paz ao mundo, por meio das igrejas
e das mesquitas", defendeu. Alguns líderes valeram-se da
polêmica criada por Terry Jones para fazer discursos de
oposição ao governo norte-americano e a Israel. O
presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, qualificou o
projeto da igreja da Flórida de "complô sionista". "Este
tipo de ação vai acelerar a queda e a aniquilação dos
sionistas e de seus protetores, que vão pelo menos
caminho do desaparecimento", declarou. O ex-líder cubano
Fidel Castro, que raramente fala sobre religião, acusou
o caso Terry Jones de tratar-se de um "descomunal show
midiático". "É um caos, coisas próprias de um império
que afunda", comentou."
(Estado de Minas, 11/09/2010:
O verso 199 da
surata 7 do Alcorão tem a mesma utilidade das
recomendações de Jesus para amar aos inimigos. rs
Alguém já viu algum deus reagir contra a
ação humana? Isso só existe nos livros
sagrados, de origem remota e obscura, e nas cabeças dos
crentes. Nenhum deus mata ninguém, mas os seus
adoradores são capazes das piores atrocidades em defesa
deles. Por pouca coisa, essas pessoas criam o maior caos
em defesa de seus deuses, que nada podem fazer. Enquanto houver gente acreditando em deus,
haverá guerra em seu nome.