WILLIAM WHISTON
William Whiston, com um diagrama sobre a trajetória de cometas. Teólogo e
matemático, ele chegou a prever um apocalipse durante
a passagem de um cometa
em 1736.
Dividido entre a popularização das ideias newtonianas e a heterodoxia religiosa,
Whiston foi uma mistura curiosa de teólogo e divulgador científico
ISAAC NEWTON FOI, durante muitos anos, Professor Lucasiano de Matemática na
Universidade de Cambridge. Entre seus muitos alunos, havia um que viria a
sucedê-lo no cargo a partir de 1702: William Whiston. Filho de um reitor cego
numa cidadezinha de Leicestershire, Whiston nasceu em 9 de Dezembro de 1667.
Perdeu o pai aos 19 anos e só então entrou em Cambridge, onde foi Bacharel em
Matemática em 1690 e Mestre em 1693. No ano seguinte, passa a se dividir entre
Norwich, Cambridge e Londres, trabalhando em organizações religiosas.
Na virada do século, Whiston renuncia a seus cargos eclesiásticos por dois
motivos. Primeiro, para se casar, em 1699, com Ruth Antrobus (com quem teria uma
filha e três filhos). Segundo, para suceder seu mentor, Isaac Newton, como
Professor Lucasiano a partir de 1702.
Ao mesmo tempo em que levava adiante as ideias newtonianas, Whiston envolveu-se
em polêmicas teológicas. Como teólogo-matemático, ele defendia a noção
agostiniana de milagre (que seria não uma intervenção divina nas leis naturais,
mas o resultado da reação humana diante de um fenômeno extraordinário). Além
disso, Whiston colocava-se contra a existência da trindade (considerada
de origem pagã) e do inferno (que seria uma ofensa à existência de Deus).
Por outro lado, William Whiston ainda mantinha algumas posições menos racionais.
Ele era proponente do literalismo bíblico e dado a fazer profecias: em 1706,
anunciou que o milênio chegaria dali a dez anos. Mais tarde, diria que o mundo
acabaria com a passagem de um cometa em 1736. Seu posicionamento polêmico
dificultou a relação com Newton. Cauteloso e reservado por natureza, o autor de
Principia Mathematica detestava a heterodoxia extrovertida de seu sucessor.
Newton também não gostou muito da edição de Arithmetica Universalis feita por
Whiston em 1707.
Newton não foi o único a ficar incomodado com as atividades de Whiston. Após a
eleição de 1710, vencida pelos Tories (Conservadores), o teólogo-matemático
perderia sua cátedra em Cambridge: foi expulso da universidade por heterodoxia
religiosa.
Carta Esquemática do Sistema Solar (1712): em suas palestras de divulgação
científica, Whiston usava essa espécie de infográfico bastante primitivo como
material de apoio.
É aqui que surge o Whiston divulgador científico. Fora da academia, ele passa a
divulgar ciência nos cafés que começam a surgir em cidades como Londres e Bath.
Em sessões públicas comparáveis aos Pint of Science de hoje, Whiston tratava de
fenômenos físicos e astronômicos. Além dos cafés, Whiston também daria palestras
na Royal Society, mas jamais foi admitido como fellow, talvez por ter despertado
a antipatia de Newton.
Essas apresentações eram complementadas por publicações, como um mapa do sistema
solar com trajetórias de cometas (1712). A partir de 1715 passa a divulgar suas
palestras com anúncios em jornais. No mesmo ano, divulga e explica o eclipse
solar de 3 de Maio, fazendo eventos antes, durante e depois do fenômeno.
Pouco antes, em 1714, foi um dos principais apoiadores do Longitude Act, artigo
de legislação de estabeleceu um prêmio para quem solucionasse o problema da
medição da longitude, crucial para as grandes navegações. Nas décadas seguintes,
ele proporia diversas soluções para essa questão. Whiston não ganharia o prêmio,
mas foi relevante por manter o debate vivo durante anos.
O Whiston teólogo e polemista não deixou de existir, mas perdeu força com o
passar dos anos. Nos anos 1710, funda uma organização que buscava uma volta ao
que chamava de “Cristinismo Primitivo” (que acaba fechando por falta de
discípulos). Após a morte de Newton, em 1727, sossega mais um pouco e passa a se
dedicar a ensaios sobre temas diversos. Sua obra mais lembrada hoje em dia vem
dessa fase de declínio: a tradução anotada dos livros do historiador romano
Flávio Josefo, publicada em 1737. Essa versão foi tão bem-sucedida que continua
sendo reimpressa até hoje.
Antes de falecer, em 22 de Agosto de 1752 — aos 84 anos, uma idade avançada para
a época —, William Whiston deixou uma Memória em três volumes (1749-50). Apesar
de extensa, sua autobiografia é considerada pouco confiável hoje, principalmente
por deixar de lado sua expulsão de Cambridge.
<https://www.blogs.unicamp.br/hypercubic/2020/11/william-whiston-o-controverso-sucessor-de-newton/>
Willian Whiston teve problemas por perceber algo de errado na fé.
Descobriu que a trindade era criação de religiosos dos considerados
pagãos, e discordou da ideia do inferno, por ser incompatível com um
deus que se diz ser bom. O cara era muito inteligente. Só faltou descobrir que,
não só o inferno e a trindade, mas o próprio deus em que acreditava também é
criação humana.
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