IMACULADA CONCEIÇÃO
Interpretando que o
primeiro pecado humano, em vez de ser comer uma fruta, tenha sido a relação
sexual, a Igreja Católica criou também a crença de que Maria tenha nascido de um
milagre sem a ocorrência do ato sexual por seus pais.
Desde os primórdios do cristianismo,
diversos Padres da Igreja defenderam a Imaculada Conceição da Virgem Maria,
tanto no Oriente como no Ocidente. No século IV, Efrém da Síria (306-373),
diácono, teólogo e compositor de hinos, propunha que só Jesus Cristo e Maria são
limpos e puros de toda a mancha do pecado.
Já no século VII se celebrava a festa litúrgica da Conceição de Maria aos 8 de
dezembro ou nove meses antes da festa de sua natividade, comemorada no dia 8 de
setembro.
No século X, a Grã-Bretanha celebrava a Imaculada Conceição de Maria[carece de
fontes].
A festa da Imaculada Conceição, comemorada em 8 de dezembro, foi inscrita no
calendário litúrgico pelo Papa Sisto IV, em 28 de Fevereiro 1477. A existência
da festa litúrgica é um forte indício da crença da Igreja sobre a Imaculada
Conceição mesmo antes da sua definição como um dogma em 1854.
Em 1497, a Universidade de Paris decretou que ninguém poderia ser admitido na
instituição se não defendesse a Imaculada Concepção de Maria, exemplo que foi
seguido por outras universidades como a de Coimbra e de Évora. Em 1617,
o Papa
Paulo V proibiu que se afirmasse que Maria tivesse nascido com o pecado
original, e em 1622 o Papa Gregório V impôs silêncio absoluto aos que se opunham
à doutrina. Foi em 8 de Dezembro de 1661 que Alexandre VII promulgou a
Constituição apostólica Sollicitudo omnium Ecclesiarum em que definia o sentido
da palavra conceptio, proibindo qualquer discussão sobre o assunto[9].
Na Itália do século XV, o franciscano Bernardino de Bustis escreveu o Ofício da
Imaculada Conceição, com aprovação oficial do texto pelo Papa Inocêncio XI em
1678. Foi enriquecido pelo Papa Pio IX em 31 de março de 1876, após a definição
do dogma, com 300 dias de indulgência por cada vez que é recitado.
Em 8 de Dezembro de 1854, a Imaculada Conceição foi solenemente definida como
dogma pelo Papa Pio IX em sua bula Ineffabilis Deus.
Posição de Santo Tomás de Aquino
Teólogos e Doutores da Igreja, como Santo Anselmo, São Bernardo e São Boaventura,
chegaram a negar a Imaculada Conceição.
Sobre Santo Tomás de Aquino, criou-se um consenso de que ele teria, durante toda
a sua vida, negado e repudiado completamente o dogma da Imaculada Conceição. Tal
consenso é falso, porque, inicialmente, este doutor da Igreja declarou
abertamente que a Virgem foi pela graça imunizada contra o pecado original,
defendendo claramente o dogma do privilégio mariano, que seria declarado e
definido séculos mais tarde. No livro primeiro dos comentários dos livros das
Sentenças (Sent.), escrito provavelmente em 1252 e quando Santo Tomás contava
apenas 27 anos de idade, ainda no início de sua atividade acadêmica em Paris,
ele escreveu o seguinte:[10]
"Ao terceiro, respondo dizendo que se consegue a pureza pelo afastamento do
contrário: por isso, pode haver alguma criatura que, entre as realidades
criadas, nenhum seja mais pura do que ela, se não houver nela nenhum contágio do
pecado; e tal foi a pureza da Virgem Santa, que foi imune do pecado original e
do atual." (I Sent., d. 44, q. 1, a. 3)
Depois, Santo Tomás adotou uma postura confusa sobre o dogma da Imaculada
Conceição, presente em trechos do Compêndio de Teologia e da Suma Teológica.
Como, por exemplo, pode-se encontrar nesta postura na segunda parte do Compêndio
de Teologia (CTh.), que pertence a um período anterior ao da elaboração da III
da Suma Teológica, escrita quando Tomás já contava com cerca de 42 anos de
idade, sendo provavelmente do ano de 1267:[10]
"Como se verificou anteriormente, a Beata Virgem Maria tornou-se Mãe de Deus
concebendo do Espírito Santo. Para corresponder à dignidade de um Filho tão
excelso, convinha que ela também fosse purificada de modo extremo. Por isso,
deve-se crer que ela foi imune de toda nódoa de pecado atual, não somente de
pecado mortal, bem como de venial, graça jamais concedida a nenhum outro santo
abaixo de Cristo... Ela não foi imune apenas de pecado atual, como também, por
privilégio especial, foi purificada do pecado original. Convinha ser ela
concebida com pecado original, porque foi concebida de união de dois sexos." (CTh.
c. 224)
Mas, no final da sua vida, Santo Tomás retornou à sua tese original favorável ao
dogma mariano. A sua defesa encontra-se no texto Expositio super Salutatione
angelicae, sermão de um período em que ele já contava 48 anos de idade,
provavelmente do ano de 1273:[10]
Ipsa enim purissima fuit et quantum ad culpam, quia ipsa virgo nec originale,
nec mortale nec veniale peccatum incurrit. ["Ela é, pois, puríssima também
quanto à culpa, pois nunca incorreu em nenhum pecado, nem original, nem mortal
ou venial."]
Este retorno à tese original encontra-se também em várias obras da época final
de São Tomás, como, por exemplo, na Postiila Super Psalmos de 1273, onde se lê,
no comentário do Salmo 16, 2: "Em Cristo a Bem-Aventurada Virgem Maria não
incorreu absolutamente em nenhuma mancha” ou no Salmo 18, 6: “Que não teve
nenhuma obscuridade de pecado".[10]
...
Existem outras teorias e correntes exegéticas que discordam da interpretação
católica da Bíblia usada para justificar a crença na Imaculada Conceição. Estas
teorias argumentam que em várias passagens da Bíblia, mulheres são usadas em
sentido simbólico para representar congregações ou organizações de pessoas. São
também usadas para simbolizar cidades. A glorificada congregação de Cristo é
chamada de sua “noiva”, também de “a cidade santa, Nova Jerusalém”. — Jo 3:29;
Re 21:2, 9; 19:7; compare isso com Ef 5:23-27; Mt 9:15; Mr 2:20; Lu 5:34, 35.).
Também argumentam que a “mulher” da profecia não podia ser uma mulher humana,
tal como Maria, mãe de Jesus. Porque, na ocasião em que Deus sentenciou os pais
da humanidade, Adão e Eva, Ele fez a promessa dum descendente, ou semente, que
seria dado à luz pela “mulher” e que esmiuçaria a cabeça da serpente (Gên 3:15).
Visto que a semente dela devia esmiuçar a cabeça da serpente, a semente teria de
ser mais do que mera semente humana, porque as Escrituras mostram que
Deus não
dirigiu as suas palavras a uma serpente literal no solo. Em Apocalipse 12:9 se
mostra que a “serpente” é Satanás, o Diabo, uma pessoa espiritual. Por
conseguinte, essa “mulher” teria que ser mais do que mera mulher humana para
poder dar à luz alguém que é mais do que mera semente humana para poder derrotar
Satanás, a serpente espiritual.
Referências
Council of Trent Denzinger Enchiridion Symbulorum, definitionum et declarationum, Freiburg, 1957, document 833; "she was free from any personal or hereditary
sin", Pius XII, Encyclical Mystici Corporis, 1943 in Dentzinger, D2291
Cânon 1246 do Código de Direito Canónico (em inglês)
Bula Ineffabilis Deus, Papa Pio XI, 1854
Ireneu de Lyon, Adversus haereses Book V, 19,3
Ambrose of Milan, Expositio in Lucam 1640
Ludwig Ott, Fundamentals of Catholic Dogma, Bk 3, Pt. 3, Ch. 2, §3.1.e.
«lolitos - Pesquisa Google». www.google.pt. Consultado em 8 de dezembro de 2017
«Vulgate text»
Discurso de Manuel Caetano de Sousa, Portal da História, Manuel Amaral 2000-2010
Paulo Faitanin, A Doutrina da concepção de Maria segundo Tomás de Aquino.
Pe. Francisco Couto e Pe. Senra Coelho, A Imaculada Conceição e a história de
Portugal, in Agência Ecclesia, 06/12/2015.
Igreja/Sociedade: Imaculada Conceição, um feriado com história portuguesa,
Agência Ecclesia, 08/12/2017
José Aníbal Marinho Gomes, Nossa Senhora da Conceição Padroeira e Rainha de
Portugal e de todos os Povos de Língua Portuguesa, 8/12/2013
Pe. Moreira das Neves, Nossa Senhora da Conceição na Restauração de Portugal, in
Revista dos Centenários, Lisboa: números 19-20, 1940, páginas 4-6 e página 8. O
texto integral da provisão régia de 25 de Março de 1646 está presente nas
páginas 4-6.
Prof. Doutor Fernando Taveira da Fonseca, A Imaculada Conceição e a Universidade
de Coimbra, 2003.
Concordata entre a Santa Sé e Portugal, 2004
The Blessed names of Sayyidatina Maryam, Rahib Khattan, pg 111
«Oxum - Raizes Espirituais». Raizes Espirituais
«Maria e Iemanjá - Sincronicidade». blog.opovo.com.br. Consultado
em 1 de setembro de 2017.
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Imaculada_Concei%C3%A7%C3%A3o>