A ORIGEM DA BÍBLIA

- 04/09/2005 -

 

A Bíblia é o mais conhecido e mais lido de todos os livros praticamente por toda parte no planeta e nenhum outro se vendeu tanto até hoje. Não obstante a diversas contradições existentes dentro do chamado Velho Testamento e muito mais entre esse e o chamado Novo Testamento, é corrente no meio religioso a idéia de que há uma unanimidade maravilhosa de pensamento entre todos os escritores que participaram da criação do livro sagrado. Diante desse sucesso todo, muitos estudiosos têm dedicado tempo e muito trabalho perscrutando sua obscura origem e o poder inexplicável desse livro sobre o imaginário humano, tornando-o a base da fé da maior parte do mundo. Só recentemente, através da arqueologia e análise dos registros encontrado das bibliotecas de povos do Oriente Médio, está-se chegando a uma conclusão sobre o seu início. O começo da Bíblia escrita remonta ao século sétimo antes da era Cristã.

Todos os povos têm lendas que tentam explicar a origem de todas as coisas. Os hebreus também tinha as suas, que eram transmitidas oralmente de pais para filhos, misturadas com fatos e esculpidas pelas crenças vigentes em cada época e cada meio. Assim, versões diversas existiam sobre as divindades e a respeito da origem do universo com tudo que nele há. Uma leitura atenta do velho testamento nos mostra que vários escritores de pensamentos diversos contribuíram na elaboração dos primeiros livros bíblicos. A criação dos seres vivos é o primeiro relato duplo que não pode ter sido escrito pela mesma pessoa.  No primeiro capítulo, está escrito que o casal humano foi o último ser vivo a ser criado por Yavé.  A seguir, no capítulo 2, a informação é de que Yavé Fez o homem antes mesmo dos vegetais e, quando criou os animais, os trouxe ao homem para que esse lhes desse nome.  (Ver QUANDO YAVÉ CRIOU OS VEGETAIS.

Mediante os dados arqueológicos e os registros encontrados em antigas bibliotecas egípcias e dos povos antigos do Oriente Médio, os estudiosos passaram a perceber que a realidade fática e geográfica anterior ao sétimo século antes da Era Cristã divergia muito dos relatos da história patriarcal hebraica, dando a entender que foi naquele século que o livro foi criado. Analisando todas as contradições, chegou-se à conclusão de que tudo foi redigido pelos escribas do templo a mando do rei Josias.

”Não há registro arqueológico ou histórico da existência de Moisés ou dos fatos descritos no Êxodo. A libertação dos hebreus, escravizados por um faraó egípcio, foi incluída na Torá provavelmente no século VII a.C. , por obra dos escribas do Templo de Jerusalém, em uma reforma social e religiosa. Para combater o politeísmo e o culto de imagens, que cresciam entre os judeus, os rabinos inventaram um novo código de leis e histórias de patriarcas heróicos que recebiam ensinamentos diretamente de Jeová. Tais intenções acabaram batizadas de “ideologia deuteronômica”, porque estão mais evidentes no livro Deuteronômio. A prova de que esses textos são lendas estaria nas inúmeras incongruências culturais e geográficas entre o texto e a realidade. Muitos reinos e locais citados na jornada de Moisés pelo deserto não existiam no século XIII a.C., quando o Êxodo teria ocorrido. Esses locais só viriam a existir 500 anos depois, justamente no período dos escribas deuteronômicos. Também não havia um local chamado Monte Sinai, onde Moisés teria recebido os Dez Mandamentos. Sua localização atual, no Egito, foi escolhida entre os séculos IV e VI d.C., por monges cristãos bizantinos, porque ele oferecia uma bela vista. Já as Dez Pragas seriam o eco de um desastre ecológico ocorrido no Vale do Nilo quando tribos nômades de semitas estiveram por lá.

Vejamos agora o caso de Abraão, o patriarca dos judeus. Segundo a Bíblia, ele era um comerciante nômade que, por volta de 1850 a.C., emigrou de Ur, na Mesopotâmia, para Canaã (na Palestina). Na viagem, ele e seus filhos comerciavam em caravanas de camelos. Mas não há registros de migrações de Ur em direção a Canaã que justifiquem o relato bíblico e, naquela época, os camelos ainda não haviam sido domesticados. Aqui também há erros geográficos: lugares citados na viagem de Abraão, como Hebron e Bersheba, nem existiam então. Hoje, a análise filológica dos textos indica que Abraão foi introduzido na Torá entre os séculos VIII e VII a.C. (mais de 1 000 anos após a suposta viagem).

Então, como surgiu o povo hebreu? Na verdade, hebreus e canaanitas são o mesmo povo. Por volta de 2000 a.C., os canaanitas viviam em povoados nas terras férteis dos vales, enquanto os hebreus eram nômades das montanhas. Foi o declínio das cidades canaanitas, acossadas por invasores no final da Idade do Bronze (300 a.C. a 1000 a.C.)" [“300” deve-se ler “1.300”], "que permitiu aos hebreus ocupar os vales. Segundo a Bíblia, os hebreus conquistaram Canaã com a ajuda dos céus: na entrada de Jericó, o exército hebreu toca suas trombetas e as muralhas da cidade desabam, por milagre. Mas a ciência diz que Jericó nem tinha muralhas nessa época. A chegada dos hebreus teria sido um longo e pacífico processo de infiltração.

DAVID E SALOMÃO

Há pouca dúvida de que David e Salomão existiram. Mas há muita controvérsia sobre seu verdadeiro papel na história do povo hebreu. A Bíblia diz que a primeira unificação das tribos hebraicas aconteceu no reinado de Saul. Seu sucessor, David, organizou o Estado hebraico, eliminando adversários e preparando o terreno para que seu filho, Salomão, pudesse reinar sobre um vasto império. O período salomônico (970 a.C. a 930 a.C.) teria sido marcado pela construção do Templo de Jerusalém e a entronização da Arca da Aliança em seu altar.

Não há registros históricos ou arqueológicos da existência de Saul, mas a arqueologia mostra que boa parte dos hebreus ainda vivia em aldeias nas montanhas no período em que ele teria vivido (por volta de 1000 a.C.) – assim, Saul seria apenas um entre os muitos líderes tribais hebreus. Quanto a David, há pelos menos um achado arqueológico importante: em 1993 foi encontrada uma pedra de basalto datada do século IX a.C. com escritos que mencionam um rei David.

Por outro lado, não há qualquer evidência das conquistas de David narradas na Bíblia, como sua vitória sobre o gigante Golias. Ao contrário, as cidades canaanitas mencionadas como destruídas por seus exércitos teriam continuado sua vida normalmente. Na verdade, David não teria sido o grande líder que a Bíblia afirma. Seu papel teria sido muito menor. Ele pode ter sido o líder de um grupo de rebeldes que vivia nas montanhas, chamados apiru (palavra de onde deriva a palavra hebreu) – uma espécie de guerrilheiro que ameaçava as cidades do sul da Palestina. Quanto ao império salomônico cantado em verso e prosa na Torá hebraica, a verdade é que não foram achadas ruínas de arquitetura monumental em Jerusalém ou qualquer das outras cidades citadas na Bíblia.

O principal indício de que as conquistas de David e o império de Salomão são, em sua maior parte, invenções é que, no período em que teriam vivido, a arqueologia prova que a cultura canaanita (que, segundo a Bíblia, teria sido destruída) continuava viva. A conclusão é que David e Salomão teriam sido apenas pequenos líderes tribais de Judá, um Estado pobre e politicamente inexpressivo localizado no sul da Palestina.

Na verdade, o grande momento da história hebraica teria acontecido não no período salomônico, mas cerca de um século mais tarde. Entre 884 e 873 a.C., foi fundada Samária, a capital do reino de Israel, no norte da Palestina, sob a liderança do rei israelita Omri. Enquanto Judá permanecia pobre e esquecida no sul, os israelitas do norte faziam alianças com os assírios e viviam um período de grande desenvolvimento econômico. A arqueologia demonstrou que os monumentos normalmente atribuídos a Salomão foram, na verdade, erguidos pelos omridas. Ou seja: o primeiro grande Estado judaico não teve a liderança de Salomão, e sim dos reis da dinastia omrida.

Enriquecido pelos acordos comerciais com Assíria e Egito, o rei Acab, filho de Omri, ordena a construção dos palácios de Megido e as muralhas de Hazor, entre outras obras. Hoje, os restos arqueológicos desses palácios e muralhas são o principal ponto de discórdia entre os arqueólogos que estudam a Torá. Muitos ainda os atribuem a Salomão, numa atitude muito mais de fé do que de rigor científico, já que as datações mais recentes indicam que Salomão nunca ergueu palácios.

JUDÁ

Entender a história de Judá é fundamental para entender todo o Velho Testamento. Até o século VIII a.C., Judá era apenas uma reunião de tribos vivendo numa região desértica do sul da Palestina. Em 722 a.C., porém, os assírios resolvem conquistar as ricas planícies e cidades de Israel – o reino do norte, mais desenvolvido economicamente e mais culto. Judá, no sul, que não pareceu interessar aos assírios, pôde continuar independente, desde que pagasse tributos ao império assírio.

Assim, enquanto no norte acontece uma desintegração dos hebreus, levados para a Assíria como escravos, no sul eles continuam unidos em torno do Templo de Jerusalém. Judá beneficiou-se enormemente da destruição do reino do norte. Jerusalém cresceu rapidamente e cidades como Lachish, que servia de passagem antes de chegar a Jerusalém, foram fortificadas. Era o momento de Judá tomar a frente dos hebreus. Para isso, precisaria de duas coisas: um rei forte e um arsenal ideológico capaz de convencer as tribos do norte de que Judá fora escolhida por Deus para unir os hebreus. Além disso, era preciso combater o politeísmo que voltava a crescer no norte.

Josias foi o candidato a assumir a posição de rei unificador. Durante uma reforma no Templo de Jerusalém, em seu governo, foi “encontrado” (na verdade, não há dúvidas de que o livro foi colocado ali de propósito) o livro Deuteronômio, com todos os ingredientes para um ampla reforma social e religiosa. O livro possui até profecias que afirmam, por exemplo, que um rei chamado Josias, da casa de David, seria escolhido por Deus para salvar os hebreus. Ungido pelo relato do livro, o ardiloso Josias consegue seu objetivo de centralizar o poder, mas acaba morto em batalha. Judá revolta-se contra os assírios e o rei da Assíria, Senaqueribe, invade a região, destruindo Lachish e submetendo Jerusalém. A destruição de Lachish, narrada com riqueza de detalhes na Bíblia, também aparece num relevo encontrado em Nínive, a antiga capital assíria. E as escavações comprovaram que a Bíblia e o relevo são fiéis ao acontecido. Ou seja: nesse caso, a arqueologia provou que a Torá foi fiel aos fatos” (Superinteressante, julho/2002).

Como naqueles tempos não havia meios de análise do passado, tudo pareceu verdadeiro, e os judeus passaram a crer que o único deus verdadeiro os havia escolhido desde muitos séculos para governar o mundo. Yavé seria o único deus verdadeiro. Todos os outros teriam sido criações humanas. E os adoradores de Yavé dominariam o mundo.


O UNGIDO DE BELÉM QUE SUBMETERIA TODOS OS OUTROS REINOS

A Assíria, como acima informado, submetera o reino de Israel exilando o povo, e Judá permaneceu, embora obrigado a pagar tributos à Assíria. Alguma coisa deveria ser feita para que isso não prosseguisse. A mensagem do deus verdadeiro, Yavé, através de um profeta (homem santo que previa o futuro), fortaleceria o ânimo daquele povo com a promessa de destronar a Assíria e criar um reino inabalável. Assim, um profeta chamado Miquéias apresentou o futuro:

“Mas tu, Belém Efrata, posto que pequena para estar entre os milhares de Judá, de ti é que me sairá aquele que há de reinar em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. Portanto os entregará até o tempo em que a que está de parto tiver dado à luz; então o resto de seus irmãos voltará aos filhos de Israel. E ele permanecerá, e apascentará o povo na força do Senhor, na excelência do nome do Senhor seu Deus; e eles permanecerão, porque agora ele será grande até os fins da terra. E este será a nossa paz. Quando a Assíria entrar em nossa terra, e quando pisar em nossos palácios, então suscitaremos contra ela sete pastores e oito príncipes dentre os homens. Esses consumirão a terra da Assíria à espada, e a terra de Ninrode nas suas entradas. Assim ele nos livrará da Assíria, quando entrar em nossa terra, e quando calcar os nossos termos. E o resto de Jacó estará no meio de muitos povos, como orvalho da parte do Senhor, como chuvisco sobre a erva, que não espera pelo homem, nem aguarda filhos de homens. Também o resto de Jacó estará entre as nações, no meio de muitos povos, como um leão entre os animais do bosque, como um leão novo entre os rebanhos de ovelhas, o qual, quando passar, as pisará e despedaçará, sem que haja quem as livre. A tua mão será exaltada sobre os teus adversários e serão exterminados todos os seus inimigos. Naquele dia, diz o Senhor, exterminarei do meio de ti os teus cavalos, e destruirei os teus carros; destruirei as cidade da tua terra, e derribarei todas as tuas fortalezas. Tirarei as feitiçarias da tua mão, e não terás adivinhadores; arrancarei do meio de ti as tuas imagens esculpidas e as tuas colunas; e não adorarás mais a obra das tuas mãos. Do meio de ti arrancarei os teus aserins, e destruirei as tuas cidades. E com ira e com furor exercerei vingança sobre as nações que não obedeceram.” (Miquéias, 5: 2-15).

Isso foi escrito, pelo menos está dito que foi, “nos dias de Jotão, Acaz e Ezequias reis de Judá” (Miquéias, 1: 1).

Vamos ver um pouco da história, para entender as palavras de Miquéias:

No ano duodécimo de Acaz, rei de Judá, começou a reinar Oséias, filho de Elá, e reinou sobre Israel, em Samária nove anos. E fez o que era mau aos olhos do Senhor, contudo não como os reis de Israel que foram antes dele. Contra ele subiu Salmanasar, rei da Assiria; e Oséias ficou sendo servo dele e lhe pagava tributos. O rei da Assíria, porém, achou em Oséias conspiração; porque ele enviara mensageiros a Sô, rei do Egito, e não pagava, como dantes, os tributos anuais ao rei da Assíria; então este o encerrou e o pôs em grilhões numa prisão. E o rei da Assíria subiu por toda a terra, e chegando a Samária sitiou-a por três anos. No ano nono de Oséias, o rei da Assíria tomou Samária, e levou Israel cativo para a Assíria; e fê-los habitar em Hala, e junto a Habor, o rio de Gozã, e nas cidades dos medos. (II Reis, 17: 1-6)

Uma vez que só Judá estava livre, e o restante de Israel, o reino no Norte, estava sob o poder assírio, na promessa do profeta estavam estas palavras: “então o resto de seus irmãos voltará aos filhos de Israel” .

Quando deveria vir o rei salvador? “Quando a Assíria entrar em nossa terra, e quando pisar em nossos palácios”, disse o profeta.

Segundo o profeta, a Assíria iria tentar dominar Judá também; mas aí surgiria o  salvador e a esmagaria, libertaria Israel, estabelecendo o reino unificado de Israel sobre todas as nações, "até os fins da Terra”.

A Acaz, sucederam: Ezequias (16: 20), Manassés (20: 21; 21: 1), Amom (21: 18), e Josias (21: 26).

O segundo Livro dos Reis informa que: “No ano décimo quarto do rei Ezequias, subiu Senaqueribe, rei da Assíria, contra todas as cidades fortificadas de Judá, e as tomou. Pelo que Ezequias, rei de Judá, enviou ao rei da Assíria, a Laquis, dizendo: Pequei; retira-te de mim; tudo o que me impuseres suportarei. Então o rei da Assíria impôs a Ezequias, rei de Judá, trezentos talentos de prata e trinta talentos de ouro” (II Reis, 18: 134, 14).

O reino de Judá estava em uma condição bem melhor do que o de Israel, apenas pagando tributos à Assíria, enquanto o de Israel estava no exílio.

Josias, que era o terceiro dos sucessores Ezequias, no décimo oitavo ano de seu reinado, aproximadamente noventa anos após a submissão de Ezequias por Salmanazar da Assíria, determinou uma reforma do templo, onde dizem ter sido achado o livro da lei de Moisés (II Reis, 22: 1-8). “Então disse o sumo sacerdote Hilquias ao escrivão Safã: Achei o livro da lei na casa do Senhor. E Hilquias entregou o livro a Safã, e ele o leu” (v. 8).

Dadas as incongruências existentes na história pregressa, concluíram alguns analistas que esse livro da lei não fora encontrado, mas elaborado pelos escribas do reino e posto ali a mando de Josias. Havia até a seguinte predição:

E o homem clamou contra o altar, por ordem do Senhor, dizendo: Altar, altar! assim diz o Senhor: Eis que um filho nascerá à casa de Davi, cujo nome será Josias; o qual sacrificará sobre ti os sacerdotes dos altos que sobre ti queimam incenso, e ossos de homens se queimarão sobre ti” (II Reis, 13: 2). Tudo parece ter sido elaborado, com todos os assombrosos prodígios divinos e a predição sobre Josias, para levantar o ânimo do povo na luta para reunificar o reino.

Após matar os sacerdotes adoradores de outros deuses e destruir tudo que estivesse ligado à idolatria (adoração que não seja a Yavé) segundo a lei do livro, “Josias tirou também todas as casas dos altos que havia nas cidades de Samária, e que os reis de Israel tinham feito para provocarem o Senhor à ira, e lhes fez conforme tudo o que havia feito em Betel. E a todos os sacerdotes dos altos que encontrou ali, ele os matou sobre os respectivos altares, onde também queimou ossos de homens; depois voltou a Jerusalém. Então o rei deu ordem a todo o povo dizendo: Celebrai a páscoa ao Senhor vosso Deus, como está escrito neste livro do pacto” (II Reis, 23: 19-21). Ali está registrado que “não se celebrara tal páscoa desde os dias dos juízes que julgaram a Israel, nem em todos os dias dos reis de Israel, nem tampouco nos dias dos reis de Judá” (v. 22). Conferindo todas as descobertas sobre a história anterior, que acreditam ter sido encontrada na reforma do templo, não é difícil perceber que essa “páscoa” nunca existira antes, mas foi introduzida com as leis divinas elaboradas pelos escribas.

Mas, apesar de todo o preparo ideológico contido no livro, Josias não conseguiu estabelecer o reino unido. Foi morto em uma batalha, e Judá foi dominada pelo Egito e depois por Babilônia. A promessa divina falhou.

“Nos seus dias subiu Faraó-Neco, rei do Egito, contra o rei da Assíria, ao rio Eufrates. E o rei Josias lhe foi ao encontro; e Faraó-Neco o matou em Megido, logo que o viu.
...
E o povo da terra tomou a Jeoacaz, filho de Josias, ungiram-no, e o fizeram rei em lugar de seu pai.
...
Ora, Faraó-Neco mandou prendê-lo em Ribla, na terra de Hamate, para que não reinasse em Jerusalém; e à terra impôs o tributo de cem talentos de prata e um talento de ouro. Também Faraó-Neco constituiu rei a Eliaquim, filho de Josias, em lugar de Josias, seu pai, e lhe mudou o nome em Jeoiaquim; porém levou consigo a Jeoacaz, que conduzido ao Egito, ali morreu. E Jeoiaquim deu a Faraó a prata e o ouro; porém impôs à terra uma taxa, para fornecer esse dinheiro conforme o mandado de Faraó. Exigiu do povo da terra, de cada um segundo a sua avaliação, prata e ouro, para o dar a Faraó-Neco. Jeoiaquim tinha vinte e cinco ano quando começou a reinar, e reinou onze anos em Jerusalém.
...
Jeoiaquim dormiu com seus pais. E Joaquim, seu filho, reinou em seu lugar. O rei do Egito nunca mais saiu da sua terra, porque o rei de Babilônia tinha tomado tudo quanto era do rei do Egito desde o rio do Egito até o rio Eufrates. Tinha Joaquim dezoito anos quando começou a reinar e reinou três meses em Jerusalém.
...
Naquele tempo os servos de Nabucodonosor, rei de Babilônia, subiram contra Jerusalém, e a cidade foi sitiada. E Nabucodonosor, rei de Babilônia, chegou diante da cidade quando já os seus servos a estavam sitiando. Então saiu Joaquim, rei de Judá, ao rei da Babilônia, ele, e sua mãe, e seus servos, e seus príncipes, e seus oficiais; e, no ano oitavo do seu reinado, o rei de Babilônia o levou preso. E tirou dali todos os tesouros da casa do Senhor, e os tesouros da casa do rei; e despedaçou todos os vasos de ouro que Salomão, rei de Israel, fizera no templo do Senhor, como o Senhor havia dito. E transportou toda a Jerusalém, como também todos os príncipes e todos os homens valentes, deu mil cativos, e todos os artífices e ferreiros; ninguém ficou senão o povo pobre da terra” (II Reis, 23: 29, 30, 33-36; 24: 7-14).

Como a própria Bíblia relata, quando a Assíria entrasse na terra de Judá, deveria surgir o ungido salvador e estabelecer o reino universal e eterno. Não obstante tudo indicasse esse ungido libertador fosse Josias, ele não o conseguiu, e os hebreus, longe de perder a fé nas palavras dos seus profetas, passaram a crer que esse Messias (ungido) salvador viesse no futuro e ainda o esperam até hoje.

NOVAS PROMESSAS DE DOMÍNIO MUNDIAL APÓS A QUEDA DE BABILÔNIA

Como falhara a promessa do ungido de Belém e tanto judeus como israelitas caíram sob o domínio babilônico, novas promessas divina de libertação e domínio do mundo chegavam ao povo por meio dos profetas. Assim, estava sendo escrito mais um trecho do livro sagrado.

Nos dias de Babilônia, apareceu a promessa do profeta Isaías com a palavra de Yavé, anunciando a queda de Babilônia, a construção da nova Jerusalém (Jerusalém havia sido destruída pelo império babilônico), e a paz perpétua do povo:

"E Babilônia, a glória dos reinos, o esplendor e o orgulho dos caldeus, será como Sodoma e Gomorra, quando Deus as transtornou" (Isaías, 13:19)

"Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão: Mas alegrai-vos e regozijai-vos perpetuamente no que eu crio; porque crio para Jerusalém motivo de exultação e para o seu povo motivo de gozo. E exultarei em Jerusalém, e folgarei no meu povo; e nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor. Não haverá mais nela criança de poucos dias, nem velho que não tenha cumprido os seus dias; porque o menino morrerá de cem anos; mas o pecador de cem anos será amaldiçoado. E eles edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o fruto delas. Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam; porque os dias do meu povo serão como os dias da árvore, e os meus escolhidos gozarão por longo tempo das obras das suas mãos: Não trabalharão debalde, nem terão filhos para calamidade; porque serão a descendência dos benditos do Senhor, e os seus descendentes estarão com eles. E acontecerá que, antes de clamarem eles, eu responderei; e estando eles ainda falando, eu os ouvirei. O lobo e o cordeiro juntos se apascentarão, o leão comerá palha como o boi; e pó será a comida da serpente. Não farão mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor" (Isaías, 65: 17-25). A essa época ainda não se havia estabelecido entre eles a crença na ressurreição dos mortos. Por isso o profeta só prometia prosperidade e muito poder.

A QUEDA DE BABILÔNIA NÃO RESULTOU NO FUTURO PREDITO

Babilônia caiu. Entretanto, novamente, a promessa do reino de Israel não se cumpriu, e eles continuaram passando de um jugo para outro: após Babilônia, veio Medo-Pérsia, depois Grécia, depois Roma. No período babilônico, os hebreus já começaram a ter contato com a crença na ressurreição dos mortos. Entre os persas é que parece ter-se consolidado essa gloriosa esperança no ideário hebreu.

Não obstante mais uma vez quebrada a promessa divina do poderoso reino de Israel, os profetas continuaram prevendo esse futuro esplendoroso do povo escolhido de Yavé.

Nos dias em que o império grego estava dividido, o rei Antíoco Epífanes perpetrou a maior humilhação aos hebreus: profanou o tempo de Jerusalém e estabeleceu sobre ele sacrifícios aos seus deuses, sacrificando carne de porco sobre o altar que eles levantaram ao que crêem ser o deus verdadeiro. Depois de alguns anos de desolação, Judas Macabeu venceu uma grande batalha e conseguiu restabelecer o santuário. Deve ser nesses dias que apareceu a profecia de Daniel falando da abominação assoladora: os capítulos 8 a 12 de Daniel (o livro de Daniel não é uma seqüência, mas os capítulos 7 e 8 foram até escritos em línguas diferentes, o 7, que veio por último, em aramaico, e o 8, em hebraico, conforme informam alguns estudiosos).

Restaurado o santuário, em seguida viria o fim das desolações e aquele tão prometido reino seria estabelecido. O profeta Daniel iria ressuscitar no fim desse dias; pois a ressurreição dos mortos já havia sido incorporada nas crenças hebraicas. No entanto, mais uma vez, o povo hebreu não chegou a poder sobre os outros povos e estava muito distante do fim de suas agruras.


NOVA PROMESSA DE DOMÍNIO MUNDIAL

O capítulo 7, que foi escrito depois do 8, já apresenta uma história muito parecida com os atos de Antíoco, mas o período de "um tempo, dois tempos e metade de um tempo" de assolamento e "destruição do poder do povo santo" já não era mais de um rei oriundo dos gregos, e sim do império seguinte, representado pelo "quarto animal", na visão de quatro animais que representavam os últimos reinos do mundo antes do estabelecimento do eterno reino de Israel. Em ambos os capítulos, era prevista a vitória final do povo de Yavé, para não ser molestado nunca mais.

Afirmam alguns comentaristas de Daniel que o povo judeu reconhecia a vitória de Judas Macabeu como o cumprimento da profecia sobre o fim da desolação. Mas, como o capítulo 7 apresenta a desolação procedente do quarto animal, que seria um reino posterior ao da Grécia, isso nos dá a certeza de que quem o escreveu tomou as previsões do capítulo 8 e a adaptou a um futuro, que deveria ocorrer com a queda de Roma. Aí estava a última promessa divina de domínio do mundo pelos hebreus. Mas não parou por aí. Esses textos seriam interpretados a seu modo pelos seguidores de Yeshua (Jesus) para novamente dar ao povo a esperança de que o deus criador de todas as coisas daria o reino a quem o adora, sendo escrita a última parte do famoso livro sagrado.

JESUS ADAPTADO AO MESSIAS DE MIQUÉIAS

Nos dias do Império Romano, alguns heróis surgiram pretendo ser o messias libertador dos hebreus. Todos eles foram abatidos pelo poderoso império romano; mas serviram de inspiração para o mito Jesus, que, mediante uma grande montagem literária, conseguiram transformar naquele libertador tão prevista pelos antigos profetas e convencer quase o mundo inteiro com essa idéia, que persiste até hoje. Aí estava sendo escrita a última parte da Bíblia.

Os autores dos evangelhos de Mateus e Lucas apresentaram, após a destruição de Jerusalém do ano 70 AD, palavras atribuídas a Jesus, afirmando que a "abominação da desolação de que falou o profeta Daniel" se referia àquele período que eles já estavam vivendo nos dias em que foram escritos os evangelhos:

"Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel no lugar santo (que lê entenda)" (Mateus, 24: 15). "Quando, pois virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação" (Lucas, 21: 20). "Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido, e nem haverá jamais" (Mateus, 24: 21 - Referência a Daniel, 12:01). "E, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles" (Lucas, 21: 20). "Estes por quarenta e dois meses calcarão aos pés a cidade santa.", completou o autor do Apocalipse (Apocalipse, 11: 2).

E a nova promessa de eternidade foi:

"Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento e os poderes dos céus serão abalados. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu com poder e muita glória. E ele enviará seus anjos com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus." (Mateus, 24: 29 a 31).

Isso foi inspirado nas palavras do livro de Daniel: "Eu estava olhando nas minhas visões noturnas, e eis que vinha com as nuvens do céu um como filho de homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e foi apresentado diante dele. E foi-lhe dado domínio, e glória, e um reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído" (Daniel, 7: 13, 14).

O mesmo que foi predito para ocorrer após o restabelecimento por Judas do santuário profanado por Antíoco Epífanes, e deve ter sido repetido já sob o domínio romano, foi utilizado pelos cristãos para persuadir o mundo de que o filho de Yavé, chamado Yeshua (Iesus em latim, Jesus em português), executado pelos romanos teria ressuscitado e retornaria um dia para acabar com todo o mal.

O assolamento apresentado no capítulo 7 de Daniel deveria durar “um tempo, dois tempos e metade de um tempo”, a saber, três anos e meio. Como o fim da terra dos hebreus e sua dispersão pelo mundo durou séculos, criou-se uma interpretação de que cada dia da profecia corresponderia a um ano. Assim, foi possível passar ao mundo a idéia de que o que está na Bíblia ainda se cumprirá. Convertendo cada dia em um ano, o reino divino deveria ser estabelecido no século XIV (1260 anos a partir de 70 A.D. = 1330). Contudo, grupos religiosos criaram novas interpretações, e adaptações, conseguido manter a fé do povo por todos esses séculos. Todos os livros do Novo Testamento foram escritos décadas depois dos dias em que teria vivido Jesus, quando já era fácil convencer o povo de que ele tivesse operado grandes milagres, como ressurreição de mortos, cura de aleijados, loucos, etc.

Depois das escrituras sagradas dos judeus, que tiveram início no reino de Josias e receberam textos atribuídos a vários profetas ao longo dos séculos seguintes antes de eles serem expulsos na palestina, muito foi escrito pelos cristãos, mas poucos livros foram selecionados para compor o livro sagrado. Assim estava escrito o mais famosos livro do mundo. É incrível como todas essas promessas e fracassos reunidos se converteram em um livro que a maior parte do mundo diz conter “A VERDADE”. Mas foi através de uma seqüência de promessas adaptadas a cada época, que os cristãos, juntando tudo e criando interpretações com as quais convenceram o mundo de que tudo estava no plano de um deus criador, completaram o mais famoso livro de todos os tempos. A igreja, alguns séculos depois, selecionou uma pequena parte dos escritos cristãos, aqueles que mais se aproximavam da crença prevalente em Roma, e estava completa a Bíblia.
 

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