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AMEAÇA À DEMOCRACIA
BRASILEIRA
Aldo Fornazieri*
29 Maio 2015 | 18h 36
Análise publicada originalmente no Estadão Noite
A votação da reforma política marcou uma maior explicitação do estilo, da
personalidade e do que pensa o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Essas três
componentes foram evidenciadas quando Cunha passou por
cima da Comissão Especial da reforma política e humilhou o seu relator, deputado
Marcelo Castro (PMDB-PI). Impôs, de forma autocrata, a sua vontade, levando
diretamente para a votação em plenário a proposta do distritão e da
constitucionalização do financiamento empresarial dos partidos políticos e das
campanhas eleitorais.
Depois de ser derrotado, Cunha manobrou e quebrou acordos para colocar novamente
em votação a constitucionalização das doações privadas, tema que vem sendo
votado no Supremo Tribunal Federal (STF) com decisão contrária à que as empresas
possam financiar campanhas eleitorais. O financiamento de campanhas e de
partidos não é matéria constitucional. De forma oportunista, os parlamentares
abusam de seu poder para diminuir o valor da própria Constituição abrigando nela
temas menores ao sabor de seus interesses. O sistema político ficará ainda mais
prisioneiro do poder econômico se esta constitucionalização não for derrubada
nas próximas votações.
O que tem se revelado até agora é o seguinte: Cunha passa por cima de
procedimentos e ritos consagrados no processo legislativo e não quer ter limites
para impor sua vontade de forma autoritária. Os partidos e os deputados precisam
ficar em estado de alerta acerca da conduta inadequada e perigosa do presidente
da Câmara. Ademais, a própria Câmara dos Deputados merece uma reprovação geral
da sociedade, pois esta não foi ouvida acerca do conteúdo da reforma política.
Sob a orientação de Cunha, a Câmara aprovou ainda o fim da reeleição para
prefeitos, governadores e presidência da República. Trata-se de um retrocesso. O
instituto da reeleição mal tem 20 anos de existência é já está caminhando para a
degola. No Brasil mudam-se os mecanismos institucionais como se muda de camisa.
Sequer se consolidam e já são revogados. Desta forma, o Brasil nunca alcançará
maturidade e estabilidade institucional.
Em resumo: os rumos que estão sendo adotados pela reforma política apontam para
manter quase tudo como está. O que está sendo mudado está sendo mudado para
pior, como é o caso da reeleição. Reclamo da sociedade desde os protestos de
2013, a reforma política naufraga no lodaçal de corrupção e de conservadorismo
em que se transformou Brasília. A perda de credibilidade e de legitimidade do
sistema político deverá se aprofundar. Cabe perguntar: até quando, vós
políticos, continuareis a abusar da paciência do povo?
* Aldo Fornazieri é professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo
<http://www.estadao.com.br/noticias/geral,eduardo-cunha-autoritarismo-e-retrocesso,1697023>
Atualização 2020: Felizmente, Cunha saiu do cenário. Mas, infelizmente, há
outros dando continuidade a muitos dos danos que ele causaria.
Ver mais sobre o problema do
FINANCIAMENTO
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