BOLSONARO RESOLVE RECRIAR MINISTÉRIO
FUNDIDO
Bolsonaro admite esvaziar Justiça e
cria atrito com Moro
O Globo - 24/01/2020
A proposta de divisão da pasta da Justiça, com a possível
recriação do Ministério da Segurança Pública, deixou o ministro Sergio Moro
insatisfeito, gerando atrito entre ele e o presidente Bolsonaro. Caso a divisão
se confirme, isso pode selar seu destino no governo, informa BELA MEGALE. Ontem,
Bolsonaro disse que “é lógico que Moro deve ser contra (a divisão)”. O ministro
Augusto Heleno atribuiu a proposta a secretários estaduais de Segurança, um dos
quais havia sido recebido previamente pelo presidente.
Aideia de recriar o Ministério da Segurança Pública,
desmembrando-o da pasta da Justiça, confirmada ontem pelo presidente Jair
Bolsonaro, deixou insatisfeito o ministro Sergio Moro, que não abrirá mão de
comandar as duas áreas para continuar no governo. Como informou ontem o blog de
Bela Megale, no site do GLOBO, o ministro lembrou a aliados que estar à frente
da Segurança foi uma condição para que aceitasse deixar a magistratura e compor
o ministério, em novembro de 2018. Ontem, Moro não deu declarações públicas
sobre o caso.
Antes de embarcar rumo à Índia, pela manhã, Bolsonaro ratificou
que a ideia está em estudo e reconheceu que ela desagrada ao ministro. O
presidente ressaltou que “é lógico” que Moro deve ser contra. Evitando um
desgaste público com um de seus principais assessores, Bolsonaro afirmou que a
proposta partiu de secretários estaduais de Segurança, com os quais se reuniu na
tarde de quarta-feira. A versão foi amplificada durante o dia de ontem por
aliados do presidente.
O presidente acrescentou ainda que, se a pasta da Segurança for
recriada, sua intenção é deixar Moro na Justiça, e nomearia outro ministro para
o novo cargo. Bolsonaro disse ainda que consultará outros ministros sobre a
proposta. O presidente lembrou que a ideia tem muitos adeptos, como o presidente
da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
— É comum receber demanda de toda a sociedade. E ontem [quarta]
eles (secretários estaduais de segurança) pediram para mim a possibilidade de
recriar o Ministério da Segurança. Isso é estudado. Estudado com o Moro. Lógico
que o Moro deve ser contra, mas é estudado com os demais ministros —explicou
Bolsonaro.
Ao comentar o caso, Bolsonaro acrescentou que, quando convidou
Moro para o governo, poucos dias após ser eleito, ainda não estava previsto que
sob seu ministério ficariam as áreas de Justiça e Segurança.
— É o que era inicialmente. Tanto é que, quando ele foi
convidado, não existia ainda essa modulação de fundir (a Justiça) com o
Ministério da Segurança —disse o presidente.
OUTRAS PALAVRAS
No entanto, à época, o então presidente eleito afirmou, desde o
dia do convite, que Justiça e Segurança Pública estariam juntas. Bolsonaro
afirmou, em 1º de novembro de 2018, logo após o convite, que Moro iria para o
“Ministério da Justiça e Segurança Pública”, norteado por “sua agenda
anticorrupção, anticrime organizado”. Esse também foi o nome da pasta citado
pelo ministro na ocasião.
Se o presidente evitou declarações públicas de confronto com o
ministro, um de seus mais próximos aliados partiu para a crítica mais aberta ao
ministro. Cotado para ser o futuro ministro da Segurança Pública se a pasta for
recriada, e amigo de décadas de Bolsonaro, o ex-deputado federal Alberto Fraga
defendeu a mudança como forma de dar mais prioridade à pauta da segurança e
disse que Moro não tem méritos na redução dos índices de criminalidade ocorrida
durante o ano passado.
—Eu sou autor de 15 projetos de lei em relação à segurança
pública, sempre trabalhei na comissão da segurança. Sou coronel da Polícia
Militar da reserva e não sou o dono da verdade. Vou vivendo e aprendendo coisas
novas no dia a dia. Como é que alguém vem e intitula alguém que é juiz como o
bambambam? Não, isso está errado — disse Fraga. —Quero que você me aponte qual
foi a medida que ele (Moro) adotou (para a redução da criminalidade.
Com a redução de homicídios no país, a área de segurança tem sido
frequentemente usada por Moro como vitrine de sua gestão. Perder essa parte do
ministério significaria ter de abrir mão de uma área que, ao menos no primeiro
ano de governo, tem tido números a apresentar.
http://www.clipping.abinee.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=319273&sid=6
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