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COMO DESTRUIR UM PAÍS
15/02/2012
"Grécia, a receita infalível para
destruir um país
A Grécia deveria prestar atenção no que está acontecendo em Portugal, onde o
governo decidiu cumprir tudo o que a troika (Fundo Monetário Internacional,
Banco Central Europeu e Comissão Europeia) exigiu e a situação econômica do país
só está piorando. A advertência foi feita por Landon Thomas, colunista econômico
do jornal The New York Times, em um artigo intitulado Portugal’s Debt Efforts
May Be Warning for Greece. Portugal, diz Thomas, vem fazendo tudo o que a troika
exigiu em troca dos 78 bilhões de euros de “resgate” liberados em maio de 2011.
No entanto, o resgate está fazendo a economia do país afundar cada vez mais no
buraco. Neste momento, a Grécia está sendo pressionada a seguir o mesmo caminho
para garantir um “resgate” de 130 bilhões de euros.
Em Portugal, o portal Esquerda.net destacou a advertência de Landon Thomas que
vem apoiada em um dado eloquente: quando Portugal fechou o acordo para receber o
“resgate” de 78 bilhões, a relação dívida/PIB do país era de 107%. Agora, a
expectativa é que ela suba para 118% até 2013. Na opinião do colunista do New
York Times, isso não se deve ao fato de que a dívida de Portugal está crescendo,
mas sim ao encolhimento da economia do país. “Sem crescimento, a redução da
dívida torna-se quase impossível”, resume. Os números mais recentes ilustram bem
essa tese. O PIB português caiu 1,5% em 2011, sendo que, no último trimestre do
ano passado, a queda foi de 2,7%. A taxa de desemprego no país chegou a 13,6% e
o governo admite que esses números não devem melhorar em 2012.
Grécia “ainda não reuniu todas as condições”
A resistência da Grécia em aceitar os termos exigidos pelo FMI e pela União
Europeia está fazendo aumentar o tom das ameaças dirigidas contra o país. Os
ministros de Finanças da zona do euro cancelaram uma reunião marcada para
terça-feira (14) para discutir a situação grega alegando que o país “ainda não
reuniu todas as condições” para conseguir um novo empréstimo. As autoridades
monetárias europeias querem que o governo grego especifique em que áreas serão
executados cortes para atingir a meta de 325 milhões anuais exigida pelo bloco
europeu. O problema é onde cortar na penúria? A cobertura jornalística sobre a
crise na Grécia e em outros países europeus é abundante em números, mas escassa
em relatos sobre os dramas sociais cada vez maiores.
Uma exceção nessa cobertura é uma matéria da BBC que fala sobre como a crise
financeira grega causou tamanho desespero em algumas famílias que elas estão
abrindo mão dos próprios filhos. Há casos de abandono de crianças em centros de
juventude e instituições de caridade em Atenas. “No último ano, relatou à BBC o
padre Antonios, um jovem sacerdote ortodoxo grego, “recebemos centenas de casos
de pais que querem deixar seus filhos conosco por nos conhecerem e confiarem em
nós. Eles dizem que não têm dinheiro, abrigo ou comida para suas crianças e
esperam que nós possamos prover-lhes isso”. Até há bem pouco tempo, a Aldeias
Infantis SOS da Grécia costumava cuidar de crianças afastadas de seus país por
problemas com álcool e drogas. Agora, o problema principal é a pobreza (ver
vídeo acima).
Crescem casos de abandono e desnutrição infantil
Segundo os responsáveis pelas Aldeias SOS está crescendo o caso também de
crianças abandonadas nas ruas. De acordo com as estatísticas oficiais, 20% da
população grega está vivendo na pobreza e cerca de 860 mil famílias estão
vivendo abaixo da linha da pobreza. No final de janeiro, o governo grego
anunciou que iria começar a distribuir vales-refeição para as crianças após
quatro casos de desmaios em escolas por desnutrição. A medida, segundo o
governo, seria aplicada principalmente nos bairros mais afetados pela crise
econômica e pelo desemprego. Em um segundo momento, também receberiam os vales
as famílias em situação econômica mais grave. “Há casos de alunos de famílias
pobres que passam o dia todo na escola sem comer nada”, denunciou, em dezembro
de 2011, Themis Kotsifakis, secretário geral da Federação de Professores de
Ensino Médio.
Apesar desses relatos, para as autoridades do FMI, do Banco Central Europeu e da
Comissão Europeia, a Grécia ainda não reuniu todas as condições para receber uma
nova ajuda. A perversidade embutida neste discurso anda de mãos dadas com o
cinismo. No dia 24 de janeiro deste ano, Sonia Mitralia, membro do Comitê Grego
contra a Dívida e do Comitê para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo (CADTM),
denunciou, diante da Comissão Social da Assembleia Parlamentar do Conselho da
Europa, em Estrasburgo, a crise humanitária sem precedentes que está sendo
vivida na Grécia. Segundo ela, as medidas de austeridade propostas pela troika
representam um perigo para a democracia e para os direitos sociais.
“Dizimaram toda uma sociedade europeia para nada”
Mitralia lembrou que as próprias autoridades financeiras admitem que, se suas
políticas de austeridade fossem 100% eficazes, o que não é o caso, a dívida
pública grega seria reduzida para 120% do PIB nacional, em 2020, ou seja, a
mesma percentagem de 2009 quando iniciou o processo de agravamento da crise. “Em
resumo, o que nos dizem agora cinicamente, é que dizimaram toda uma sociedade
europeia...absolutamente para nada!”. Estamos vendo agora, acrescentou, “o
sétimo memorando de austeridade e destruição de serviços públicos, depois dos
seis primeiros terem provado sua total ineficácia. Assiste-se a mesma cena em
Portugal, na Irlanda, na Itália, na Espanha e um pouco por toda a Europa, disse
ainda Mitralia: afundamento da economia e das populações numa recessão e num
marasmo sempre mais profundos.
Além do abandono de crianças e da desnutrição infantil, Mitralia aponta outros
deveres de casa que estão sendo cobrados da Grécia e cuja execução é considerada
insuficiente: o desemprego é de 20% da população e de 45% entre os jovens; as
camas dos hospitais foram reduzidas em 40%; já não há nos hospitais públicos
curativos ou medicamentos básicos, como aspirinas; em janeiro de 2012, o Estado
grego não foi capaz de fornecer aos alunos os livros do ano escolar começado em
setembro passado; milhares de cidadãos gregos deficientes, inválidos ou que
sofrem de doenças raras tiveram seus subsídios e medicamentos cortados. Mas,
para o FMI e a União Europeia, a Grécia ainda não está fazendo o suficiente...
Autor: Marco Aurélio Weissheimer
Fonte: Carta Maior
Em novembro de
2011, com base em outras informações, eu já havia dito que isso ocorreria e
seria de difícil reversão. Ver
UM FIM DO MUNDO NA ECONOMIA
EUROPÉIA
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POLÍTICA
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