DA CRIAÇÃO AO DILÚVIO O GRANDE TROPEÇO

- 01/08/2002 -

 

A Bíblia relata que Deus criou o mundo em seis dias. Todavia, diante das provas incontestáveis atualmente existentes de que o nosso planeta tem bilhões de anos, algumas religiões tentam explicar os “dias” da criação como grandes fases geológicas, uma vez que a palavra hebraica “ion" é utilizada como “tempo”, assim como até mesmo o nosso termo “dia” pode se referir a uma época. Entretanto, essa explicação não passa pelo crivo de uma análise bem cuidadosa. Os dias da criação segundo a Bíblia eram compostos de “tarde” e “manhã”, o que significa a parte noturna e a diurna. É bem fácil anotar cronologicamente um período que não chega a dois milênios entre a criação de Adão, no “sexto dia”, e a ocorrência do chamado “dilúvio universal”, no sexto século da vida de Noé, o suposto repovoador da Terra. O que se sabe histórica e cientificamente é que, cinco ou seis mil anos atrás, uma pessoa vivia muito menos do que hoje. A narrativa bíblica é totalmente anticientífica, o que coloca em extrema dificuldade os religiosos que reconhecem não poderem contestar os dados científicos.

O primeiro capítulo do Gênesis informa, após cada etapa da criação, “foi a tarde e a manhã, o dia...” , do primeiro ao sexto, quando se afirma ter Deus criado o homem. Essa expressão tarde e manhã não se aplica a nada que não seja a noite e o dia, descartando-se a hipótese de cada dia ser uma longa fase pré-histórica.

Veja-se a cronologia seguinte:

Gênesis, 5: 3: “Adão viveu cento e trinta anos, e gerou um filho à sua imagem, e pôs-lhe o nome de Sete”.

Versículo 6: “ Sete viveu cento e cinco anos, e gerou a Enos.”

Versículo 9: “Enos viveu noventa anos, e gerou a Quenã.”

Versículo 12: “Quenã viveu setenta anos, e gerou a Maalalel.”

Versículo15: “Maalalel viveu sessenta e cinco anos, e gerou a Jarede.”

Versículo 18: “Jarede viveu cento e sessenta e dois anos, e gerou a Enoque.”

Versículo 21: Enoque viveu sessenta e cinco anos, e gerou a Matusalém.”

Versículo 25: Matusalém viveu cento e oitenta e sete anos, e gerou a Lameque.”

Versículos 28 e 29: Lameque viveu cento e oitenta e dois anos, e gerou um filho, a quem chamou Noé...”

Versículo 32: “E era Noé da idade de quinhentos anos; e gerou Noé a Sem, Cão e Jafé.”

Capítulo 6: 6: “Tinha Noé seiscentos anos de idade, quando o dilúvio veio sobre a terra.”

Por aí se vê o curto período ocorrido da criação do universo ao dilúvio (130 + 105 + 90 + 70 + 65 + 162 + 65 + 187 + 182 + 600 = 1.566 anos), que dizem ter ocorrido há pouco mais de quatro mil anos.

Diante da inexplicável longevidade do povo antediluviano, um vivendo quase um milênio, outro gerando o primeiro filho aos quinhentos anos de idade (sabe-se historicamente que as pessoas do passado viviam muito menos do que as de hoje), muitos defensores da veracidade e divindade da Bíblia afirmam que os anos não eram contados como os de hoje, sendo períodos menores, talvez equivalentes a um mês, paradoxalmente aos dias da criação.

Essa, contudo, é outra explicação inconsistente, segundo afirmações bem claras do próprio texto bíblico. Leia-se o seguinte:

Gênesis, 7: 11: “No ano seiscentos da vida de Noé, no mês segundo, aos dezessete dias do mês, romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as janelas do céu se abriram.” Isso é suficiente para se ver que os meses deveriam ter aproximadamente trinta dias, pelo menos dezessete estão mencionados.

Gênesis, 8: 5: “E as águas foram minguando até o décimo mês; no décimo mês, no primeiro dia do mês, apareceram os cumes dos montes.” Pelo menos dez meses já foram mencionados. Não resta dúvida de que o escritor do Gênesis falava de tempo contado em anos de doze meses de trinta dias, uma vez que os cumes dos montes apareceram no primeiro dia do décimo mês e “No ano seiscentos e um, no mês primeiro, no primeiro dia do mês, secaram-se as águas de sobre a terra.” (versículo 13).

Gênesis, 8: 19 e 20: “As águas prevaleceram excessivamente sobre a terra; e todos os altos montes que haviam debaixo do céu foram cobertos. Quinze côvados acima deles prevaleceram as águas; e assim foram cobertos.” Naquele tempo se acreditava estar a terra flutuando dentro do mar e teria a forma de um disco ou seria quadrada, conforme outras declarações, e o mundo que aquele povo conhecia se limitava àquela região. Para eles era possível uma inundação cobrir todos os montes da terra.

E, para fechar completamente da saída dos defensores bíblicos, basta observar que o dilúvio teria começado no “décimo sétimo dia do segundo mês” (Gênesis, 7: 11), e “ao fim de cento e cinqüenta dias as águas tinha diminuído” (Gênesis, 8: 3), sendo o “décimo sétimo dia do sétimo mês” (Gênesis, 8: 4), exatos cinco meses de trinta dias.

Toda a narração da criação ao dilúvio nos mostra simplesmente o pensamento de um povo de poucos conhecimentos, não o de mensageiros de um ser onisciente. As afirmações que seguem por todo o livro do Gênesis, bem como nos outros que o seguem, mostram o mesmo desconhecimento da história, da geografia, da geologia, da cosmologia, etc. Se esses contos fossem a verdadeira história contada por pessoas inspiradas por um ser todo-poderoso e onisciente, não estariam tão fora da realidade universal. Ante tais constatações, muitos religiosos já não encontram outro meio a não ser admitir que os relatos bíblicos eram verdadeiramente humanos, espelhando o pensamento da época. E assim, a maior base da fé se revela lenda aos olhos dos próprios que crêem em um deus todo-poderoso, onipotente, onisciente, perfeito, justo, bom.

Ver também A TORRE DE BABEL E A MULTIPLICAÇÃO DAS LÍNGUAS

 

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