Na sua primeira visita aos EUA após se eleger, Jair Bolsonaro disse, em jantar
com representantes da extrema-direita em Washington, que o principal objetivo
da sua gestão não é “construir coisas para o nosso povo”, mas destruir.
A declaração é muito mais que sabujice caricata de um presidente para agradar
aos brucutus do antiglobalismo. Ela é a confissão, uma espécie de manifesto
fundador do regime, a revelar o método e a racionalidade por trás do caos
produzido pelo governo.
A destruição sem precedentes do Brasil não é fruto da incompetência, ela é ao
mesmo tempo estratégia e finalidade do projeto de poder bolsonarista.
Como desenvolver o Brasil
Essa constatação nos impõe o dever de limparmos o terreno e organizarmos o
tabuleiro para analisarmos como as peças se movimentam neste jogo, cuja metáfora
perfeita é o recente escândalo do “Bolsolão”, que, dentre outras falcatruas,
inclui a aquisição pelo governo de tratores superfaturados através de emendas
parlamentares liberadas para comprar o apoio de deputados na Câmara. Depois de
passar a boiada, o governo está fazendo um tratoraço.
Esse projeto de destruição uniu na mesma trincheira o velho fisiologismo do
sistema político brasileiro, a fábrica de fake news bolsonarista e o
ultraliberalismo predatório, retrógrado e autoritário representado pelo ministro
Paulo Guedes. A batalha contra as privatizações no Congresso Nacional traduz
como esses setores se articulam para viabilizar a política de terra arrasada.
O caso da Eletrobras é emblemático para demonstrar como velhas mentiras são
recauchutadas pelo ultraliberalismo com o objetivo de dilapidar o patrimônio
brasileiro e destruir setores estratégicos para o desenvolvimento nacional em
benefício dos interesses do mercado financeiro.
Dizem que empresas estatais são ineficientes e dão prejuízo. Ora, somente no
ano
passado o lucro da Eletrobras, maior empresa de energia da América Latina, foi
de 6,4 bilhões de reais. Esse resultado colocou a companhia no sexto lugar do
ranking nacional de lucratividade em 2020. Desempenho que a faz dominar 50% do
setor de transmissão e 33% do segmento de geração.
Outra mentira surrada é a afirmação de que os serviços prestados por empresas
privadas seriam mais baratos do que os fornecidos pelas estatais. Vejamos o que
dizem as projeções feitas pela Agência Nacional de Energia Elétrica e pela
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Segundo a Aneel, a
privatização aumentará a conta de luz em 14% em três anos.
Já a Fiesp calcula que a venda da Eletrobras acarretará para a indústria e lares
brasileiros um custo de 460 bilhões de reais em 30 anos. O impacto não será
apenas nas contas de luz, pois o custo da energia também influencia o preço dos
produtos.
A terceira mentira é que empresas privadas prestam melhores serviços que as
estatais. O apagão que durou 21 dias em 13 cidades do Amapá, onde a operadora é
uma empresa privada, desmente essa farsa. Quem restabeleceu o fornecimento de
energia foi a Eletrobras, acionada emergencialmente para resolver a crise.
O
setor energético é estratégico para o desenvolvimento e a soberania nacionais.
Em todo o mundo desenvolvido ele está nas mãos do poder público. A
privatização
da Eletrobras é um dano irreversível para o futuro do País.
A estatal de energia é hoje símbolo dos ataques dessa frente ampla de destruição
nacional montada pelo bolsonarismo, mas outras empresas estão na mira, como o
Banco do Brasil, os Correios e a própria Petrobras. Para viabilizar as
privatizações no Legislativo, aliados do governo passaram o trator na Câmara dos
Deputados e realizaram mudanças no Regimento Interno que cerceiam o debate
dentro do Parlamento e aceleram as votações das propostas no plenário, limitando
os instrumentos legais de que a oposição dispõe para obstruir as sessões.
Muita gente ainda insiste em separar a pauta econômica ultraliberal da agenda
autoritária bolsonarista, mas ambas são faces da mesma moeda. A rapinagem
econômica, principalmente num momento de crise extrema em que a renda e os
empregos serão diretamente impactados por essas medidas, não poderia ser
viabilizada sem um dublê de ditador na Presidência da República.
A violência de Bolsonaro contra as instituições, o
horror de Guedes pelos
pobres, a boiada que Ricardo Salles e seus jagunços estão passando na Amazônia
fazem parte do mesmo pacote. Trata-se de uma política de governo que pretende
roubar do Brasil qualquer possibilidade de futuro. Ultraliberais, viúvas da
ditadura e criminosos ambientais são todos cúmplices desse crime.