"Investigações mostram que fundos de pensão perderam
dinheiro em operações suspeitas com operadores do mensalão
Ricardo Grinbaum, Leandro Loyola e
David Friedlander
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Montagem: LSalomão e NCardoso |
Mais de R$
100 milhões da poupança para a aposentadoria de 75 mil funcionários públicos
foram parar nas mãos dos operadores do mensalão. Um pedaço dessa bolada (as
investigações ainda não revelaram quanto) foi desviado para o exterior,
principalmente paraísos fiscais do Caribe. O esquema foi executado em 2003 e
2004 e envolve pelo menos cinco fundos de pensão de empresas estatais. Os
fundos, que são os investidores mais ricos do país, teriam perdido dinheiro
- fraudando os associados de propósito. Na outra ponta, a dos que embolsavam
o produto da fraude, aparece um grupo de operadores de São Paulo. O
espantoso é que quase todos eles ganharam notoriedade recentemente por ter
lavado dinheiro da upla Delúbio Soares e Marcos Valério.
Depois que
o publicitário Duda Mendonça confessou ter recebido R$ 10 milhões do PT, nas
Ilhas Virgens, passou-se a suspeitar da existência de contas secretas fora
do país pertencentes ao Partido dos Trabalhadores. Estão sendo
investigadas várias trilhas, como a presença de doleiros nos saques que
Marcos Valério mandava fazer no Banco Rural e acusações, ainda muito
nebulosas, do doleiro paulista Antonio Oliveira Claramunt, que disse ter
mandado dinheiro para petistas no exterior. Pelo que ÉPOCA apurou, o
pessoal do mensalão já vinha depenando os fundos de pensão pelo menos
desde o início do governo Lula.
Os cinco
fundos de pensão que tomaram prejuízo são: Refer (dos funcionários da
antiga Rede Ferroviária), Portus (Companhia Docas, Real Grandeza
(Furnas), Centrus (Banco Central) e Nucleos (Eletronuclear). Segundo
investigações conduzidas pela Comissão de Valores Mobiliários ä (CVM)
e pela Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), eles participaram de uma
cascata de operações financeiras
forjadas, todas guardando grande semelhança entre si no mercado futuro de
índices. A lista dos envolvidos parece desfile da CPI dos Correios. Um dos
nomes que mais aparecem é o de José Carlos Batista, de 49 anos, um operador
de mercado sem emprego fixo, alvo de inquéritos na CVM. Dissimulado,
ele anda num Gol verde e mora em Santo André, num apartamento de classe
média que fica em nome de um amigo para evitar o arresto de seus bens. Nesta
semana, Batista tem depoimento marcado em duas CPIs, na dos Correios e na do
Mensalão.
Batista é o
misterioso sócio da Garanhuns, uma empresa de fachada cuja sede fica num
terreno baldio da Grande São Paulo. Ela recebeu R$ 10 milhões das empresas
de Marcos Valério no Banco Rural e repassou o dinheiro ao presidente do PL,
Valdemar Costa Neto. A Garanhuns foi criada em 1999 por Lúcio Bolonha
Funaro, um especulador profissional muito conhecido em São Paulo. Aos
32 anos, Funaro tem patrimônio declarado de R$ 12 milhões, circula em carros
de luxo e aluga helicóptero nos fins de semana para visitar fazendas
de amigos. Uma de suas especialidades é ganhar dinheiro dos fundos de
pensão.
(Época, 29/08/2005)
Deve estar
aí o motivo pelo qual lutaram tanto pela reforma da Previdência.
Veja