Opinião: Como fins de semana de três dias podem ajudar a salvar o mundo
Alex Williams City University London*
6 janeiro 2017
Imagine se, em vez de curtir alguns feriadões ao longo do ano, tivéssemos
três
dias de fim de semana todas as semanas.
Não se trata apenas de uma boa ideia para quem quer passar mais tempo com a
família ou praticar seus hobbies, poderia ser uma maneira fácil de
melhorar
radicalmente o nosso ambiente e a economia.
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Image caption Mais um dia de folga também significa economia de energia
Segundo os economistas David Rosnik e Mark Weisbrot, geralmente
a redução da
jornada de trabalho acarreta uma queda no consumo de energia.
Na verdade, se os Estados Unidos adotassem seguissem um horário de trabalho como
o dos europeus, de 40 horas por semana, reduziriam o uso de energia e,
consequentemente, das emissões de carbono em 20%.
E com apenas quatro dias de trabalho por semana também seriam reduzidas as
emissões de carbono geradas pelo transporte para o trabalho.
Num momento em que cientistas recomendam reduções drásticas das emissões de
gases que contribuem para o aquecimento global, a adoção de fins de semana de
três dias poderia ser a maneira mais fácil para tornar a nossa economia menos
nociva ao meio ambiente.
O caso Utah
E a ideia já foi implementada em 2007, no estado de Utah, nos Estados Unidos.
Lá, funcionários públicos estenderam as horas trabalhadas de segunda a
quinta-feira para eliminar sextas-feiras.
Nos primeiros dez meses, foram economizados pelo menos US$ 1,8 milhão em energia
elétrica.
Um número menor de dias de trabalho levou à redução das despesas com energia em
escritórios, menor consumo de ar condicionado e menos tempo usando computadores
e outros equipamentos.
Se forem levados em conta os gases do efeito estufa do transporte ao local de
trabalho, Utah deixou de emitir mais de 12 mil toneladas de CO₂ por ano.
Estudos apontam que
redução da jornada de trabalho reduz doenças
relacionadas ao trabalho.
Apesar destas vantagens, em 2011 o governo de Utah foi forçado a abandonar a
medida após reclamações de moradores que queriam ter acesso a serviços nas
sextas-feiras.
Isso indica que medidas deste tipo devem ser acompanhadas por uma mudança em
nossas expectativas para sextas-feiras. O primeiro passo é pensar naquele dia
como o primeiro do fim de semana, e não um dia sem trabalho.
No entanto, a experiência de Utah mostra que, se replicada em todo o país, uma
semana de quatro dias poderia levar a um grande avanço no sentido de uma
economia que causa menos danos ao meio ambiente.
Haveria ainda possível aumento no bem-estar físico e mental da população, pois
trabalhar menos dias poderia melhorar o "equilíbrio trabalho-vida".
O caso da Suécia
"Quando vemos a forma como vivemos, o estresse que as pessoas sofrem, a pressão
sobre o tempo e as ausências por motivo de doença e saúde mental relacionados ao
trabalho, vemos claramente que é um grande problema", disse o professor John
Ashton ao jornal The Guardian, ex-presidente da Escola de Saúde Pública no Reino
Unido.
Três dias fim de semana nos proporcionariam mais tempo para atividades sociais,
para conviver com filhos e idosos e para se envolver mais com a comunidade.
Três dias de semana ajudam na socialização de pessoas e pode
aumentar a produtividade no trabalho.
Em 2015, a Suécia fez várias experiências com redução nas horas de trabalho, e
como resultado registraram menos ausências por questões de saúde e aumento da
produtividade.
Existem razões econômicas e tecnológicas para que os governos, partidos
políticos, consultores e movimentos sociais comecem a considerar a adoção de
fins de semana de três dias.
Recentemente, o antropólogo David Graeber, da London School of Economics,
publicou um estudo no qual argumenta que muitos dos trabalhos atuais seriam
desnecessários.
Para Graeber, a previsão feita em 1930 pelo economista John Maynard Keynes, de
que no fim do século 20 os seres humanos só estariam trabalhando 15 horas por
semana graças aos avanços tecnológicos, deveria ter sido realizada.
Mas não foi assim.
Presença e produtividade
Economistas dizem que muitos dias de trabalho são subutilizados pelos
empregados. Mas os funcionários são incapazes de sair do local de trabalho por
uma exigência de "presença".
Eles argumentam que em vez de trabalhar mais horas com pouca produtividade,
deveríamos ter uma semana mais curta e ajudar a salvar o planeta e o nosso
próprio bem-estar.
Cada vez mais, é esperada uma automação dos ambientes de trabalho. Sistemas de
robótica avançada e inteligência artificial substituirão 47% dos empregos atuais
nos Estados Unidos e 54% na Europa nas próximas décadas, segundo estudos
recentes.
Nestas circunstâncias, onde haverá muito menos trabalho disponível, a adaptação
aos fins de semana de três dias seria essencial para manter o funcionamento da
economia.
Como Nick Srníček e eu expomos em nosso livro Inventing the Future:
Postcapitalism and a World Without Work ("Inventando o futuro: Pós-capitalismo e
um mundo sem trabalho", em tradução livre), a automação nos oferecerá a
perspectiva de uma visão muito diferente sobre o trabalho.
Será que é possível trabalhar menos?
Uma maior automatização tornará processos de produção mais eficientes com menos
energia e menos trabalho humano até, em última instância, nos libertar do
trabalho.
A chave para obter os benefícios da automação sem qualquer deslocamento social
drástico depende em parte do desenvolvimento de políticas para redistribuir
esses benefícios.
Isto significa uma jornada de trabalho semanal reduzida graças a um fim de
semana mais longo, aliado a um salário básico universal.
Nada disso vai acontecer de um dia para o outro.
Mas se você está de folga, lendo este artigo em casa, pense que não está apenas
desfrutando de um dia de lazer, mas também está colaborando no combate às
mudanças climáticas.
*Alex Williams é professor de sociologia. Ele escreveu este artigo para o site
acadêmico The Conversation"
Além de tudo isso, benefícios à saúde, ao
meio ambiente e até mesmo à economia, menos dias de trabalho, ou menos horas diárias
de trabalho já é sugestão para reduzir o
desemprego.
Todavia, no nosso país, tenta-se convencer
do contrário. Afirma-se que só os feriados trazem bilhões em
perdas, o que a lógica desmente.