O QUE NÃO SE
CONSIDERA SOBRE A PREVIDÊNCIA
De um lado, o governo
fala de déficit da previdência; de outro, economistas não ligados ao governo
falam até de superavit. O que ocorre é que os defensores das alegações dos
governos parece não levarem alguns fatores em
conta em relação ao gasto e à arrecadação.
Déficit não existe se consideradas
todas as fontes
"Tenho defendido a idéia de que o cálculo do déficit previdenciário não está
correto, porque não se baseia nos preceitos da Constituição Federal de 1988, que
estabelece o arcabouço jurídico do sistema de Seguridade Social. O cálculo do
resultado previdenciário leva em consideração apenas a receita de contribuição
ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) que incide sobre a folha de
pagamento, diminuindo dessa receita o valor dos benefícios pagos aos
trabalhadores. O resultado dá em déficit. Essa, no entanto, é uma equação
simplificadora da questão. Há outras fontes de receita da Previdência que não
são computadas nesse cálculo, como a Cofins (Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social), a CSLL (Contribuição Social sobre o
Lucro Líquido), a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação
Financeira) e a receita de concursos de prognósticos. Isso está
expressamente garantido no artigo 195 da Constituição e acintosamente não é
levado em consideração." (Denise Gentili,
A Farsa do Déficit Previdenciário).
De todas essas fontes não computadas pelo governo, conseguiram excluir a CPMF,
que pegava equitativamente um pouquinho de todos, substituindo-a por medidas que
tiram muito dos pobres e quase nada dos ricos.
Previdência dos
servidores públicos
Alega-se que o gasto previdenciário dos servidores públicos é muito grande. Mas
não levam em conta que a contribuição dos servidores públicos é igualmente
grande, e o montante seria muito maior, se fosse considerado o complemento
patronal como ocorre no setor privado. Isso também o governo tira fora, como
mais uma ajudinha para justificar o déficit. Servidores públicos se
aposentam com salário integral, mas contribuem sobre o salário integral também.
Isso os apologistas do déficit não falam.
Se não houvesse teto
para trabalhadores das empresas privadas
Ricardo Amorim disse que "Se resolvêssemos pagar aos 27 milhões de aposentados
as mesmas aposentadorias e pensões pagas aos nossos marajás do Legislativo e
Judiciário, os impostos no Brasil aumentariam cerca de R$ 4 trilhões por ano
para cobrir o buraco." Mas ele não calculou se todos os trabalhadores
contribuíssem com 11% sobre todos seus salários, assim como fazem os servidores
públicos, e os empregadores contribuíssem com sua parte também sobre todos os
salários, o quanto seria maior a arrecadação previdenciária. Ademais, o
gasto previdenciário não deveriam chegar a tanto quanto ele disse, porque a
maioria da população não ganha salário superior ao teto previdenciário.
Teto baixo,
contribuição baixa
Quando se instituiu a Aposentadoria, o teto era de vinte salários mínimos.
Consequentemente, as contribuições era sobre vinte salários mínimos gerando uma
arrecadação bem grande. Com a redução do teto que se foi processando ao
longo das décadas, as aposentadorias são reduzidas, mas as contribuições são
igualmente escasseadas, não gerando nenhuma economia. E isso se torna
sempre anti-econômico, porque a arrecadação sempre é reduzida em primeiro lugar,
pois quem já está aposentado com um valor maior vai ter até o fim da vida um
provento relativamente superior ao teto atual das contribuições.
Eu tenho direito a me aposentar com proventos integrais, porque contribuo sobre
minha remuneração integral e não fui atingido pela lei que criou teto
previdenciário para servidores públicos. Mas a arrecadação já foi
diminuída com essa lei, porque os servidores que foram nomeados depois dela
estão contribuindo com valor menor, baseado nesse teto que foi criado. Se
não tivesse sido instituído esse teto, todos os servidores novos estariam
contribuindo sobre a remuneração integral, havendo uma arrecadação maior.
Outra agravante é que o número de servidores vem sendo cada vez menor em
proporção à população e ao volume de trabalho, ficando, outrossim,
consequentemente, com proporção reduzida em relação ao número de aposentados.
Por que se procura provar que há déficit
previdenciário?
Gradativamente, por
meio da redução do teto previdenciário, os governos vêm acabando com a
aposentadoria pública, o que também leva ao fim das contribuições para o fundo
público. Mas isso visa a satisfazer o aumento dos lucros dos agentes
financeiros, que ganham muito dinheiro com previdência privada. A mesma
coisa que dizem dar prejuízo ao Estado dá lucro aos bancos. Difícil
explicar isso.
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