QUEM ENFRENTA O DRAGÃO?
Quem vai agora
enfrentar o dragão?
"Um dragão como herança
CARTA AO LEITOR
Revista Veja
O governo passado comprou com dinheiro público gasto sem restrições cada ponto
da aprovação recorde nas pesquisas de opinião. A boa vontade dos mais pobres foi
obtida principalmente com a distribuição a fundo perdido de 13 bilhões de
reais por ano, sem a exigência da contrapartida de aprender a caminhar com
as próprias pernas. As classes médias obnubilaram-se com o crédito farto e
os prazos para pagar suas compras em até 84 meses, ou sete anos. As
empresas não tiveram razões para queixas com a oferta de 170 bilhões de reais
em recursos subsidiados oferecidos pelo BNDES. A gastança, como sempre, foi
ainda maior em 2010, ano eleitoral, quando as despesas do governo federal
cresceram 15% acima da inflação, chegando a 700 bilhões de reais. A
presidente Dilma Rousseff foi beneficiada eleitoralmente pelo clima de festa na
economia, mas pode alegar que já estava fora do governo quando as decisões mais
irresponsáveis foram tomadas.
Uma reportagem desta edição de VEJA mostra que a festa acabou, e a conta amarga
acaba de chegar na forma de bombas inflacionárias de efeito retardado. Janeiro
de 2011 registrou o mais alto pico de carestia dos últimos seis anos. Na semana
passada, esses petardos começaram a ser desativados. O primeiro passo foi o
anúncio do corte de 50 bilhões de reais no orçamento da União - uma tesourada
nada trivial que supera em valor tudo o que o governo federal investiu em 2010.
Mais ajustes terão de ser feitos no decorrer do ano para reconduzir as finanças
públicas aos padrões mínimos de governabilidade que vinham apresentando até
2009.
Os mais óbvios desses ajustes são o aumento da taxa de juros e as medidas
restritivas ao crédito, ambos com efeito inibidor da atividade econômica.
Os custos para os brasileiros serão amargos, e esse sentimento se
revelará nas eventuais pesquisas de aprovação da administração Dilma que vierem
a ser feitas. Receber como herança um dragão inflacionário tratado a pão de ló
pelo governo precedente é algo que Dilma não pôde escolher. Decidir atacá-lo
mesmo ao custo de sua popularidade é elogiável.
(Veja, 16 de fevereiro,
2011, pág. 12)