COMO A RELIGIÃO SOBREVIVE NO SÉCULO XXI
27/12/2006 -
Você nasce e cresce e forma suas idéias ouvindo
sua família e seus vizinhos dizerem que tais e tais coisas são assim. Eles o
aprenderam de seus ancestrais essas "verdades" que vêm de milhares de gerações.
Milhões de pessoas no mundo confirmam tais idéias. Uma ou outra pessoa discorda,
mas você pensa: se isso não fosse verdade, não iria enganar tanta gente.
Ademais, por um lado, você se sente protegido por um ser onipotente, por outro,
se vê sob a grande ameaça de que a dúvida é um grande pecado, que pode levar
para o tormento eterno. E, além disso, um grande maioria da população mundial é
incapaz de assimilar explicações científicas, por mais claras que sejam. E
assim, o engano permanece com roupagem de verdade.
"Porque do coração procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios,
prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias" (Mateus, 15: 19).
Hoje sabemos que o coração não tem nada a ver com os sentimentos e as intenções.
Entretanto, por assim se ter pensado por milhares de anos, dificilmente as
pessoas, mesmo aquelas que conhecem a realidade, deixarão de fazer referência ao
coração quando falam das emoções. Mas se formos perguntar ao mundo inteiro,
certamente, a grande maioria ainda acredita que as emoções estão no coração.
Isso, porém, não significa que eles é que estejam certos.
"A sua saída é desde uma extremidade dos céus, e o seu curso até a outra
extremidade deles" (Salmos, 19: 6). "Novamente o Diabo o levou a um monte
muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles"
(Mateus, 4: 8). Por milhares de anos, acreditou-se que a terra era plana,
ocupando o centro do universo, e todos os astros giravam em torno dela; e ainda
há muita gente acreditando nisso, e não é fácil convencê-los de que estão
enganados. Todavia, isso não significa que a terra seja o centro do universo nem
que seja plana.
"Diz o néscio no seu coração: Não há Deus" (Salmos, 14: 1). Assim como as
aparências levaram a humanidade a pensar sobre a Terra, o Sol e o coração, os
mistérios da natureza levaram o homem pré-histórico a deduzir que todos os
fenômenos da natureza são obras de algum ser invisível e extremamente poderoso.
Como os sonhos traduzem muitas vezes o que pensamos, muitas pessoas viam em
sonho esses seres sobrenaturais e pensavam ser isso uma prova de que eles
realmente existissem. No decorrer dos milênios, as distorções de informações
levaram muitos a crerem que alguns de seus ancestrais estiveram face a face com
esses seres, que eles denominaram deuses.
Em um meio politeísta, há deuses mais poderosos e deuses menos poderosos, e
muitas vezes eles são vistos disputando o poder. São iguaizinhos às pessoas que
crêem neles. Já em um ambiente monoteísta, o deus único em que as pessoas
acreditam é todo-poderoso e onisciente. Entretanto, se analisamos as palavras
que dizem proceder desse deus, não é difícil perceber que a onisciência dele não
vai além do que sabia o povo que viveu na época em que tais palavras foram
escritas. Isso, porém, não é percebido pelos teístas, e, ainda que lhes seja
mostrado, eles tentam arranjar algum meio de contornar essas falhas da chamada
"verdade".
Há milhares de anos, já existiram pessoas que, analisando bem, desconfiaram da
existência desses seres sobrenaturais; entretanto, sempre foram duramente
perseguidos, na maioria das vezes, como os piores criminosos. Enquanto uns
poucos mostravam os enganos das idéias relativas aos deuses, sempre existiram os
mestres teófilos, que criaram numerosos argumentos no sentido de convencer as
pessoas de que os deuses são uma grande realidade. Chegaram até a dizer que seus
deuses revelaram essas coisas aos pequeninos e as ocultaram aos sábios e
entendidos (Mateus, 11, 25). Isso é o maior reforço da fé nas camadas mais
incultas, que abrangem a grande maioria de quase todas as sociedades. Tanto é
que, com exceção dos Estados Unidos, os países mais desenvolvidos chegam a ter
hoje uma considerável percentagem de pessoas que não acreditam no sobrenatural:
“Na Alemanha, os que declaram crer em um Criador caem para 53%. Na Suécia, o
número de crentes é o mais baixo do mundo desenvolvido: 36% da população. Além
da esmagadora maioria que crê em Deus, os americanos também acreditam em
milagres (84%) e, mais surpreendentemente, continuam a não aceitar o darwinismo
quase 200 anos depois de sua exposição ao mundo: 44% acreditam que o homem foi
criado exatamente da maneira descrita na Bíblia, há menos de 10 000 anos” (www.casadobruxo.com.br/religa/jesusfaces03.htm).
Excetuando o caso dos americanos, as populações mais crentes são as dos países
mais atrasados. E, como a falta de conhecimento favorece a manutenção da crença,
o fim de todas as divindades é muito mais difícil do que pensaram os grandes
filósofos de duzentos anos atrás. Até existe um abundante número de pessoas
cultas que crêem, porque todas elas tiveram seus estudos direcionados pelos
mestres da fé, incapacitando-as de perceber os enganos.
Há no mundo vários grandes livros sagrados. Todos eles são revelações dos deuses
a homens escolhidos. Todavia, os pensamentos transmitidos pelos deuses
oniscientes a esses homens santos eram tão atrasados quanto os dos povos a que
pertenciam esses santos homens. Ademais, a idéia de justiça desses deuses era
tão bárbara quanto a noção do que é justo por parte do povo a quem esses deuses
se manifestaram. Até castigar o filho pela maldade do pai fazia parte da justiça
de Yavé, como de alguns outros deuses. Há milhares de anos, todos os deuses,
inclusive Yavé, o criador de todas as coisas, aquele que se tornou o deus dos
cristãos, afirmaram que a Terra era plana, flutuando sobre as águas do mar, e
era o centro do universo, tendo todos os astros dos céus a girarem em torno
dela. Não é preciso maior prova do que essa de que todos esses deuses não passam
de criação do pensamento desses povos primitivos. Contudo, isso é insignificante
diante da grandeza da crença transmitida desde os primatas até hoje de que
existe um ser que criou todo o universo e comanda as vidas de todos nós.
Pouco adianta dizermos a eles que, se existisse um deus onisciente, ele iria
conhecer desde o passado a realidade que conhecemos hoje, não cometendo os
equívocos que estão nas palavras atribuídas a ele. O medo dos castigos divinos,
fator psicológico muito bem trabalhado pelos mestres religiosos ao longo dos
séculos, os impede de ver a infantilidade e a fragilidade da crença em seres
sobrenaturais. Por outro lado, a idéia de estar protegido por um ser onipotente
é tão confortável, que abandoná-la tornaria a vida muito difícil, às vezes
insuportável. Eles não são capazes nem de ver a inúmeras contradições
encontradas nas palavras tidas como as verdades divinas. Por mais que a ciência
mostre que a realidade é muito diferente do que disseram os deuses, eles
permanecem vivos nas cabeças da maior parte da humanidade. Embora a maioria dos
deuses já não tenham hoje adeptos, provavelmente algum deus ainda sobreviverá
por muitos séculos pela força da crença transmitida e retocada desde os
primórdios da humanidade, que é tão difícil de ser eliminada quanto a miséria
que prevalece no nosso planeta.
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