Por Dan Martins em 1 de março de 2012
O deputado
federal e ativista gay, Jean Wyllys (PSOL-RJ), publicou em seu site oficial um
texto no qual declara sua opinião sobre o Projeto de Decreto de Lei (PDL) do
deputado João Campos (PSDB/GO), líder da Frente Parlamentar Evangélica, que
visa permitir que a homossexualidade seja tratada como transtorno passível de
cura.
Diante do Projeto de Decreto Legislativo – 234/2011 Wyllys publicou uma nota na
qual afirma: “O argumento de que a homossexualidade pode ser ‘curada’ é tão
absurdo como seria dizer que a heterossexualidade pode ser ‘curada’ e é usado
sem qualquer tipo de embasamento teórico ou científico e sempre por fanáticos
religiosos que tem com o objetivo confundir a população com suas charlatanices”.
Usando em seus argumentos trechos da Resolução do Conselho Federal de Psicologia
e da Constituição Federal, Jean Wyllys criticou a proposta do deputado do PSDB.
Wyllys finalizou sua argumentação ressaltando a laicidade do estado brasileiro e
afirmando que “valores espirituais não podem ser impostos normativamente ao
conjunto da população”.
Campos publicou uma nota em seu site na qual disse que foi feita uma abordagem
equivocada de seu projeto, e que não é sua intenção promover a “cura” de gays.
Na nota o deputado explica: “Não proponho, através do referido projeto, à “cura
gay” ou a “cura” de homossexuais até porque entendo que a homossexualidade não é
uma doença (a ciência assim já se pronunciou). Proponho que esses dispositivos
da resolução n.º01/99 do Conselho Federal de Psicologia, destacados no projeto,
tornem sem efeito, por não ter caráter regulamentar, e por isso não podem
constar de uma Resolução e sim de uma Lei. Nesse sentido ao editar a resolução
n.º01/99 o Conselho Federal de Psicologia teria invadido área de competência do
Poder Legislativo. Estou defendendo as prerrogativas parlamentares”, esclareceu.
Leia na íntegra
o texto publicado no site oficial de Jean Wyllys:
A intolerância dos fundamentalistas da bancada evangélica se mostra cada vez
mais ameaçadora e passível de qualquer manobra para desviar a atenção da
sociedade, com novas cortinas de fumaças, dos escândalos que envolvem alguns dos
seus integrantes. Desta vez é o Projeto de Decreto de Lei (PDL) do deputado João
Campos (PSDB/GO), líder da Frente Parlamentar Evangélica, que busca sustar a
aplicação do parágrafo único do Art. 3º e o Art. 4º, da Resolução do Conselho
Federal de Psicologia nº 1/99 de 23 de Março de 1999, que estabelece normas de
atuação para os psicólogos em relação à questão da orientação sexual. A
resolução do CFP que o deputado Campos quer derrubar por lei proíbe as mal
chamadas “terapias” que prometem mudar a orientação sexual das pessoas,
transformando magicamente gays em heterossexuais, como se isso fosse possível —
aliás, como se isso fosse necessário.
Não bastasse a inconstitucionalidade do projeto, que contraria os princípios
fundamentais da Constituição Federal de 1988 (art. 1º, proteção da dignidade da
pessoa humana; art. 3º promoção do bem de todos sem discriminação ou
preconceito; art. 196º, direito à saúde, entre outros), a proposta vai contra
todos os tratados internacionais de Direitos Humanos, que também têm como
objetivo fundamental o direito à saúde, a não discriminação e a dignidade da
pessoa humana, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, a Convenção Americana sobre
Direitos Humanos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais, entre outros.
Com essa proposta, o deputado, por convicções puramente religiosas, se considera
no direito não só de ir contra os direitos humanos de milhões de cidadãos e
cidadãs brasileiras, mas também de desconstruir um ponto pacífico entre toda uma
comunidade científica: nem a homossexualidade, nem a heterossexualidade, e nem a
bissexualidade são doenças, e sim uma forma natural de desenvolvimento sexual.
Nenhuma é melhor ou pior ou mais ou menos saudável do que as outras. São
simplesmente diferentes e não há nenhuma dissidência quanto a isso. O argumento
de que a homossexualidade pode ser “curada” é tão absurdo como seria dizer que a
heterossexualidade pode ser “curada” e é usado sem qualquer tipo de embasamento
teórico ou científico e sempre por fanáticos religiosos que tem com o objetivo
confundir a população com suas charlatanices.
O PDL do deputado – o mesmo da PEC n° 99 de 2011, ou a “PEC da Teocracia” que
pretende que as “associações religiosas” possam “propor ação de
inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade de leis ou atos
normativos, perante a Constituição Federal” – é, no mínimo, criminoso, e vai
também contra os direitos à saúde da população, pois sabemos que essas supostas
terapias de “cura gay” nada mais são do que mecanismos de tortura que
produzem efeitos psíquicos e físicos altamente danosos, que vão da destruição da
auto-estima de um ser humano, até o suicídio de muitos jovens – como ocorreu
recentemente nos Estados Unidos, onde mais um adolescente gay, de 14 anos, tirou
sua própria vida após ter sofrido assedio homofóbico na escola.
A tragédia ocorreu no Tennessee, estado dos EUA cujo Senado votava, há um ano,
um projeto de lei que proibia professores de mencionar a homossexualidade em
sala de aula e logo após outro adolescente gay do Tennessee, Jacob Rogers, tirar
sua própria vida. Alguns dias antes, mais dois jovens norte-americanos também se
suicidaram, depois de anos de sofrimento: Jeffrey Fehr, 18, e Eric James Borges,
de 19 (este último cresceu em uma família fundamentalista cristã que inclusive
tentou exorcizá-lo).
Essas supostas terapias, repudiadas unanimemente pela comunidade científica
internacional, constituem um grave perigo para a saúde pública. Adolescentes e
jovens são obrigados, muitas vezes pela própria família, a tentar mudar o que
não pode ser mudado, são pressionados para isso por estes grupos que promovem as
mal chamadas “terapias de reversão da homossexualidade” e acabam com graves
trastornos psíquicos ou se suicidam. Os responsáveis desses crimes deveriam ser
punidos, mas o deputado Campos propõe um amparo legal para que, além de fugir da
responsabilidade penal pelos seus atos, possam dizer que a lei os protege e que
suas atividades criminosas são lícitas.
Nos EUA, um dos mais conhecidos grupos que dizem “curar” a homossexualidade é
Exodus. Mas os “ex gays” de Exodus, mais tarde ou mais cedo, acabam sendo “ex ex
gays”, porque a orientação sexual não pode ser mudada ou escolhida a vontade
(sobre isso também há absoluto consenso na comunidade científica). Varios ex
líderes do grupo pediram públicamente perdão por seus crimes alguns anos atrás:
“Peço desculpas a aqueles que acreditaram na minha mensagem. Tenho ouvido nos
últimos tempos numerosas histórias de abuso e suicídio de homens e mulheres que
não puderam mudar sua orientação sexual, apesar do que Exodus e outros
ministérios lhes dizeram. Uma participante que conheci caiu numa profunda
depressão e preferiu saltar de uma ponte. Naquele
momento, disseram-me que não era minha culpa, mas meu coração não acreditou”,
declarou numa coletiva de imprensa Darlene Bogle, ex liderança da seita,
junto a outros colegas que se arrependeram com ela.
Há uma preocupante confusão na sociedade, incitada por esse fundamentalismo
religioso, que precisa ser esclarecida antes que a saúde física e psíquica de
mais jovens seja afetada: ao contrario da religião, a orientação sexual de um
indivíduo não é uma opção. Se o Estado é laico – como o é o brasileiro desde
1890 – questões de cunho moral e místico não podem ser parâmetro nem para a
elaboração das normas nem para o seu controle. Valores espirituais não podem ser
impostos normativamente ao conjunto da população.
Jean Wyllys
Deputado Federal
http://noticias.gospelmais.com.br/deputado-jean-wyllys-critica-proposta-regulamentacao-cura-gay-31107.html
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