O Cristianismo do primeiro século era mais confuso, mais
contraditório do que as centenas de denominações cristãs existentes atualmente.
De próximo de uma centena de evangelhos, a igreja romana, o ramo cristão
dominante, conseguiu selecionar apenas quatro, que são os menos contraditórios,
contudo ainda há graves divergências entre eles, da genealogia de Jesus à
ressurreição.
Juntando todos os evangelhos que foram escritos, o Cristianismo vira um monte de
estórias extremamente contraditórias, algumas mais parecidas com contos
infantis. Entretanto, uma vez que a igreja considera falsos os evangelhos que
ela excluiu da lista dos canônicos, sujeitamos a análise apenas os quatro que
ela considera conter a verdade; porém, mesmo assim, eles também trazem
contradições mais do que suficientes para se deduzir que todos são produtos dos
pensamentos de homens que imaginavam coisas fantasiosas.
A GENEALOGIA DE JESUS
Apenas dois dos evangelhos escolhidos falam da genealogia de Jesus. Não obstante
sejam só dois, eles se contradisseram exageradamente.
Na genealogia registrada por Lucas, há cinqüenta e sete gerações de Abraão
até Jesus (Lucas, 3:23-38). Na de Mateus, há apenas quarenta e três
gerações.
Na genealogia contada pelo evangelho de Lucas, o filho de Davi que prosseguiu a
linhagem para chegar até Jesus era Natã; no entanto, do evangelho de
Mateus, o ancestral de Jesus era Salomão. E todas as duas linhas teriam
chegado a "José", pai de Jesus.
No evangelho de Lucas registra-se que “Salá [era filho] de Cainã, Cainã de
Arfaxade, Arfaxade de Sem, Sem de Noé, Noé de Lameque” (Lucas, 3: 36).
Entretanto, no Gênesis, está escrito que “Arfaxade gerou a Selá; e Selá gerou a
Eber” (Gênesis, 10: 24). Segundo o Gênesis, não existiu Cainã.
Assim, se o Gênesis tivesse dizendo a verdade, Lucas deveria estar dando
informação falsa. Se Lucas estivesse com a verdade, seriam falsas as informações
do Gênesis e do evangelho de Mateus. Se um ou dois não estão com a verdade, nada
garante que um seja verdadeiro.
Isso nos dá a plena certeza de que esses escritos não podem formar um conjunto
verdadeiro como se crê.
A RESSURREIÇÃO DE JESUS
O evangelho de Marcos diz que "Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé"
foram ao sepulcro "ao levantar do sol", encontrando "a pedra removida", e
um moço sentado à direita vestido de alvo manto", e "Ele, porém, lhes
disse: Não vos atemorizeis; buscais a Jesus, o nazareno, que foi
crucificado; ele ressurgiu; não está aqui; eis o lugar onde o puseram”
(Marcos, 16: 1-5).
Já o evangelho de João registra que Maria Madalena foi ao sepulcro de
madrugada, sendo ainda escuro, e viu que a pedra fora removida do sepulcro.
Correu, pois, e foi ter com Simão Pedro, e o outro discípulo, a quem Jesus
amava, e disse-lhes: Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram.
Saíram então Pedro e o outro discípulo e foram ao sepulcro. Corriam os
dois juntos, mas o outro discípulo correu mais ligeiro do que Pedro, e chegou
primeiro ao sepulcro; e, abaixando-se viu os panos de linho ali deixados,
todavia não entrou. Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no
sepulcro e viu os panos de linho ali deixados, e que o lenço, que estivera sobre
a cabeça de Jesus, não estava com os panos, mas enrolado num lugar à parte.
Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e
viu e creu. Porque ainda não entendiam a escritura, que era necessário que
ele ressurgisse dentre os mortos. Tornaram, pois, os discípulos para casa.
Maria, porém, estava em pé, diante do sepulcro, a chorar. Enquanto chorava,
abaixou-se a olhar para dentro do sepulcro, e viu dois anjos vestidos de
branco sentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos
pés. E perguntaram-lhe eles: Mulher, por que choras? Respondeu-lhes: Porque
tiraram o meu Senhor, e não sei onde o puseram. Ao dizer isso, voltou-se para
trás, e viu a Jesus ali em pé, mas não sabia que era Jesus" (João, 20:
1-16).
O Evangelho de Lucas diz que "Maria Madalena, e Joana, e Maria, mãe de Tiago"
foram "ao sepulcro... E acharam a pedra revolvida do sepulcro. Entrando, porém,
não acharam o corpo do Senhor Jesus. E, estando elas perplexas a esse respeito,
eis que lhes apareceram dois varões em vestes resplandecentes; e ficando
elas atemorizadas e abaixando o rosto para o chão, eles lhes disseram: Por que
buscais entre os mortos aquele que vive? Ele não está aqui, mas ressurgiu.
Lembrai-vos de como vos falou, estando ainda na Galiléia, dizendo: Importa que o
Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e
ao terceiro dia ressurja. Lembraram-se, então, das suas palavras; e, voltando do
sepulcro, anunciaram todas estas coisas aos onze e a todos os demais. E eram
Maria Madalena, e Joana, e Maria, mãe de Tiago; também as outras que estavam com
elas relataram estas coisas aos apóstolos. E pareceram-lhes como um
delírio as palavras das mulheres e não lhes deram crédito. (Lucas, 24:
1-10).
Como poderíamos dizer que tudo isso seja verdade, se umas afirmações excluem
outras?
Quem foi ao sepulcro? Maria Madalena sozinha? (João, 20: 1)
Ou ela e Maria mãe de Tiago (Marcos, 16: 1)? Ou elas e Joana (Lucas, 24: 10)?
Maria Chegou, ou Marias chegaram ao sepulcro ao levantar o sol (Marcos,
16: 1), ou
de madrugada, sendo ainda escuro (João, 20: 1).
Quantos anjos ela ou elas encontraram? Um (Marcos, 16: 5),
ou dois (Lucas, 24: 4)?
Elas foram informadas da ressurreição ao chegar ao sepulcro (Marcos, 16: 6),
ou só depois que vieram Pedro e outro discípulo (João, 20: 1-14)?
Jesus não estava mais no local (Lucas, 24: 6),
ou estava lá (João, 20: 14)?
Os discípulos creram na ressurreição ao ver os lençóis sem o corpo no sepulcro
(João, 20: 6-a8),
ou receberam as informações das mulheres e ainda não creram (Lucas, 24: 10, 11)?
Se um evangelista disse a verdade, outros dois deram algumas informações falsas.
Se dois não disseram a verdade, não se pode garantir que um tenha dito.
E esse monte de contradições ocorreu entre apenas três dos quatro evangelhos
escolhidos.
Agora imagine se fôssemos reunir todos os evangelhos, que são próximo de cem!
Não precisamos de maior evidência para entender que essa ressurreição não é mais
real do que os contos sobre os deuses dos gregos, romanos, fenícios ou outros.
Muitos outros pormenores dos evangelhos são também exageradamente
contraditórios. Tudo isso mostra que a formação do Cristianismo se deu através
de um grupo de pessoas que se dividia entre várias fábulas, que, com o passar do
tempo, se tornaram "a verdade" que o Cristianismo conhece hoje.
Para mais detalhes sobre as contradições, veja também