VÁRIOS MESSIAS
TENTANDO LIBERTAR OS JUDEUS
Eis uma lista de messias que surgiram ao longo da história em decorrência das
profecias judaicas. Nenhum escritor do primeiro século da nossa era soube da
existência de Yeshua (Jesus); mas desses os contemporâneos tiveram notícia. E o
único desconhecido passou como o verdadeiro.
A
Torá
Um conceito do judaísmo, o Messias (em hebraico: משיח, transl. Māšîªħ,
Mashíach, Mashíyach, "O Consagrado"; a forma asquenazi é Moshiach, e a aramaica
é mesiha) refere-se, principalmente, à profecia da vinda de
um humano
descendente do Rei David, que irá reconstruir a nação de Israel e restaurar o
reino de David, trazendo desta forma a paz ao mundo.
Os cristãos, com algumas exceções, consideram que Jesus Cristo é o Messias, bem
como o Filho de Deus e uma das três Pessoas da Trindade, doutrina que foi
confirmada terminologicamente, a título dogmático, no Concílio de Niceia de 325
d.C.. A palavra "Cristo" (em grego Χριστός,
Christós, "O Ungido" ou "O
Consagrado") é uma tradução para o grego do termo hebraico mashiach.
No Velho Testamento, a palavra específica Messias aparece apenas duas vezes: em
Daniel 9:25 e 26, quando um anjo anuncia ao profeta Daniel que o Messias
surgiria e seria morto 62 semanas proféticas após a reedificação de Jerusalém,
antes da cidade e do templo serem novamente destruídos.
No Novo Testamento, a palavra grega Μεσσίας (Messias) está registrada também
apenas duas vezes: em João 1:41, quando o André contou a seu irmão Pedro que
recém haviam encontrado o Messias (que traduzido é o Cristo), e em João 4:25,
onde uma mulher samaritana comenta com Jesus que sabia que o Messias (que se
chamava Cristo) estava vindo, e que quando viesse, nos anunciaria tudo, ao que
Jesus prontamente lhe respondeu: "Eu o sou, eu que falo contigo".
Significado bíblico da palavra
No Antigo Testamento a palavra "Ungido" (consagrado, libertador) aplicava-se a
várias pessoas: os reis de Israel, os juízes, bem como o Sumo
Sacerdote, algo próximo ao termo Messias - alguém de quem o Espírito de Deus
se apoderava, fazendo com que o eleito realizasse maravilhas, e demonstrasse ao
povo que sua autoridade sobre o povo de Israel procedia de Deus. Os próprios
patriarcas eram considerados "Ungidos", no sentido mais amplo da palavra. Mas
até o século I a.C., a palavra Messias era aplicada apenas às profecias que se
referiam à vinda do libertador de Israel.
Outros judeus que se proclamaram ou foram tidos como Messias
O relato de Flávio Josefo acerca de Messias no primeiro
século
Pensava-se que Flávio Josefo tivesse declarado que o Jesus
dos Cristãos era de facto o verdadeiro Messias. Não existem versões originais
dos escritos de Josephus. No entanto, as comparações de várias traduções levaram
analistas dos textos a concluir que esta declaração, bem
como outras, foram na verdade alterações inseridas ao texto séculos depois dos
factos, não tendo sido escritas por Josefo.
No entanto, também dos textos de Josefo, há o relato de que, no primeiro século
antes da destruição do Templo, alguns messias surgiram, prometendo o alívio da
opressão romana, tendo encontrado seguidores.
Josefo relata: "Outro corpo de homens malvados também se levantou, mais limpos
nas suas mãos, mas mais malvados nas suas intenções, que destruíram a paz da
cidade, não menos do que o fizeram estes assassinos os Sicarii. Porque
eles eram impostores e enganadores do povo, e, sob a pretensa iluminação divina,
eram pela inovação e por mudanças, e conseguiram convencer a multidão a agir
como loucos, e caminharam em frente deles pelo descampado, afirmando que Deus
lhes iria ali mostrar sinais de liberdade".[1] Mateus, no aviso contra "falsos
Cristos e falsos profetas", testemunha o mesmo.[2]
Por volta de 44 d.C., apareceu um homem chamado Theudas (ou Teudas), que
clamava ser um profeta. Encorajava as pessoas a segui-lo, trazendo os seus
haveres até ao Jordão, que dividiria para os seguidores. De acordo com Atos 5 v.
36 (que parece referir-se a uma data diferente), conseguiu convencer 400
pessoas. Cuspius Fadus enviou homens a cavalo em perseguição dele e do seu
bando. Muitos deles foram mortos e outros foram tomados como cativos, juntamente
com o seu líder, que foi decapitado ("Ant." xx. 5, § 1). Outro citado
pelo destacado judeu Gamaliel é chamado de Judas, o Galileu.[3]
Um messias egípcio terá supostamente conseguido agregar 30.000 apoiantes,
prometendo que sob o seu comando as muralhas de Jerusalém iriam ser
desmoronadas.
Outro messias, segundo o relato de Josefo, prometeu ao povo "a libertação
das suas misérias" se eles o seguissem até ao descampado. O líder e seus
seguidores foram mortos pelas tropas de Festus, o procurador romano.
Mesmo quando Jerusalém já estava sendo destruída pelos Romanos, um profeta, de
acordo com Josefo, subornado pelos defensores por forma a evitar as pessoas de
desertarem, anunciou que Deus os comandava para virem ao Templo, onde receberiam
sinais milagrosos da sua libertação. Foram ao encontro da morte nas chamas.
Menahem ben Judah
Ao contrário daqueles Messias, que esperavam conseguir a libertação do seu povo
através de intervenção divina, Menahem ben Judah, o filho de Judas da Galileia,
e neto de Hezequiel, o líder dos Zelotes, que tinham irritado o Rei Herodes, era
um guerreiro. Quando começou a guerra, ele atacou Masada com o seu grupo, armou
os seus seguidores com as armas ali armazenadas, e partiu para Jerusalém, onde
capturou a fortaleza Antónia, derrotando as tropas de Agripa II. Encorajado por
este sucesso, ele comportou-se como Rei e clamou a liderança de todas as tropas.
Espoletou por isso a oposição de Eleazar, outro líder Zelota que alguns
historiadores acreditam ser irmão de Menahem, tendo sido assassinado como
resultado de uma conspiração. Ele será provavelmente a mesma pessoa mencionada
como Menahem ben Hezekiah no Talmud[4] e ali chamado de "provisor de conforto
que deverá aliviar".
O Professor Israel Knohl afirma que os Pergaminhos do Mar Morto mostram que já
tinha existido um Messias antes de Jesus Cristo, chamado Menahem, o essénio, que
morreu em circunstâncias semelhantes às de Jesus, o qual teve conhecimento desta
história.
Bar Kochba
Com a destruição do Segundo Templo de Jerusalém em 70 d.C., a aparição de
Messias parou por algum tempo. Sessenta anos mais tarde, um movimento
político-messiânico de grandes proporções teve lugar, com Shimeon Bar Kochba
(também: Bar Kosiba) como líder. Este líder da revolta contra Roma foi saudado
como o Rei-Messias pelo Rabi Aquiva, que se referiu a ele,[5] como: "Uma quarta
estrela de Jacob virá e o ceptro irá erguer-se fora de Israel, e irá golpear
pelos cantos do Reino de Moab,", e Hag. ii. 21, 22; "Eu irei sacudir os céus e a
terra e destronar reinados . . . .".[6]
Apesar de alguns terem duvidado que fosse o Messias, ele
parece ter conseguido o apoio generalizado na nação. Após causar uma guerra que
fez frente (133-135) ao poder de Roma, foi morto perto das muralhas de Bethar. O
seu movimento messiânico acabou em derrota e na miséria dos sobreviventes. Em
135, a revolta foi esmagada pelo imperador romano Adriano. Centenas de milhares
de judeus foram massacrados, os sobreviventes dispersaram-se pela diáspora ou
foram feitos escravos. Adriano decretou a expulsão de todos os judeus de
Jerusalém, autorizando o seu retorno apenas por um dia ao ano, em Tisha Be'av,
para demonstrar luto pela destruição do Templo. Após esta tremenda derrota
dos judeus, a cidade de Jerusalém seria reconstruída pelos Romanos, tendo o
imperador Adriano ordenado a mudança do nome de Jerusalém para Aelia Capitolina,
e o nome da Judeia para Síria Palestina, para evitar qualquer associação judaica
e com a terra de Israel. (Ver também: Guerras judaico-romanas)
O ocorrido marcou também uma nova etapa do cristianismo. Até então, os cristãos
eram sobretudo judeus. A partir de aqui foram obrigados a dispersar-se para
outras zonas. Se até então a psicologia dos líderes cristãos tinha uma
perspectiva judaica, depois do ano 135 a maioria dos cristãos seriam gentios
(não judeus), e adquiririam uma perspectiva diferente, de pessoas que vivem na
Grécia, ou são romanos e que mais facilmente adoptariam posições antijudaicas.
Ver MAIS
Moisés de Creta
A derrota da guerra de Bar Kochba foi um desastre que afectou negativamente
o surgimento de Messias nos séculos seguintes. No entanto, a esperança pemaneceu.
De acordo com um cálculo baseado no Talmude, o Messias seria esperado em 440.[7]
Esta expectativa, em ligação com os distúrbios no Império Romano em face das
invasões, podem ter levado a incentivar o Messias que apareceu nesta época em
Creta e que angariou o apoio da população judaica para o seu movimento. Ele
denominou-se Moisés e prometeu liderar o seu povo, como o antigo Moisés, levando
o seu povo de volta à Palestina, atravessando o mar. Os seus seguidores,
convencidos por ele, deixaram as suas possessões e esperaram pelo dia prometido,
quando sob o seu comando, muitos se lançaram para o mar, alguns morreram, outros
foram salvos. O pseudo-messias desapareceu sem rastro.[8]
Na Pérsia do século VII
Os pseudo-Messias que se seguiram surgiram todos no Oriente e eram por vezes
reformadores religiosos cujo trabalho influenciaria o Caraismo. No final do
século VII, surgiu na Pérsia Isḥaḳ ben Ya'ḳub Obadiah Abu 'Isa al-Isfahani de
Ispahan.[9] Ele viveu no reino do Califa Omíada "Abd al-Malik ibn Marwan"
(684-705). Ele afirmou ser o último dos cinco precursores do Messias e ter sido
nomeado por Deus para libertar Israel. De acordo com alguns, ele era o próprio
Messias. Tendo reunido um grande número de seguidores, ele revoltou-se contra o
califa, mas foi derrotado e assassinado em Rai. Os seus seguidores disseram que
ele fora inspirado por Deus e mostraram como prova o facto de ter escrito livros
apesar de ser analfabeto. Ele fundou a primeira seita a ter surgido do Judaísmo
após a destruição do Templo.
O seu discípulo Yudghan, chamado "Al-Ra'i" (= "o pastor do rebanho
do seu povo"), que viveu na primeira metade do século VIII, declarou ser um
profeta e foi visto pelos seus discípulos como um Messias. Ele era de Hamadã e
ensinava doutrinas que afirmava ter recebido através da profecia. De acordo com
Shahristani, ele opôs-se à crença do antropomorfismo, ensinou a doutrina da
vontade livre, e sustentou que a Torah tinha um sentido alegórico em adição ao
sentido literal. Ele preconizava que os seus seguidores levassem uma vida
ascética, se abstivessem de carne e de vinho, e que rezassem e jejuassem
frequentemente, seguindo nisto o seu mestre Abu 'Isa. Ele afirmava que a
observância do Shabat e de festividades era meramente uma questão de memorial.
Após a sua morte, os seus seguidores formaram uma seita, os Iudghanitas, que
acreditavam que o seu Messias não tinha morrido, mas sim que iria regressar.
Serene
Entre 720 e 723, um Sírio, Serene (o seu nome aparece em várias fontes como Sherini, Sheria, Serenus, Zonoria, Saüra) apareceu como o Messias. A ocasião
imediata para a sua aparição pode ter sido a restrição das liberdades dos Judeus
pelo Califa Omar II (717-720) e seus esforços de proselitismo. De uma
perspectiva política, este Messias prometia a expulsão dos Muçulmanos e a
restauração dos Judeus na Terra Santa. Como Abu 'Isa and Yudghan, Serene foi
também um reformador religioso. Ele era hostil ao Judaísmo Rabínico. Os seus
seguidores não observavam as leis da alimentação, as preces instituídas por
rabinos e a proibição contra o "vinho de libação". Eles trabalhavam no segundo
dia das festividades, não escreviam documentos para registrar casamentos e
divórcios tal como as prescrições do Talmud, e não aceitaram as proibições do
Talmud quanto ao casamento com parentes próximos.[10] Serene foi preso.
Trouxeram-no perante o Califa Yazid, a quem declarou ter agido apenas por piada,
pelo que foi entregue aos Judeus para castigo. Os seus seguidores foram
recebidos de volta ao grupo religioso original após terem renunciado à heresia.
Messias durante as Cruzadas
Sob a influência das Cruzadas, o número de Messias aumentou, sendo que o século
XII conheceu vários. Um apareceu em França (c. 1087) e foi assassinado pelos
franceses. Outro apareceu na Província de Córdova (c. 1117), e outro ainda em
Fez (c. 1127). Destes três nada se conhece que não a menção de Maimonides "Iggeret
Teman" (carta aos judeus Iemenitas).
David Alroy
O próximo movimento Messiânico importante apareceu outra vez na Pérsia. David
Alroy ou Alrui, nascido no Curdistão, declarou-se por volta de 1160 como um
Messias. Tirando partido da sua popularidade pessoal, das fraquezas do Califado
e do descontentamento dos Judeus, a quem foram impostas pesadas taxas, ele
montou um esquema político, afirmando ter sido enviado por Deus para libertar os
Judeus da opressão pelos Muçulmanos e liderá-los de volta a Jerusalém. Com este objectivo, ele intimou os guerreiros judeus do distrito vizinho do Adherbaijan e
seus correligionários em Mosul e Bagdad para virem apoiar a captura de Amadia. A
partir daí, a sua carreira está rodeada de lendas. O seu movimento falhou, e
diz-se que teria sido assassinado, enquanto dormia, pelo seu próprio sogro. Uma
taxa pesada foi imposta aos Judeus após esta revolta. Após a sua morte, Alroy
teve muitos seguidores em Khof, Salmas, Tauris, e Maragha, e estes formaram uma
seita chamada dos Menahemistas, com origem no nome Messiânico "Menahem,"
assumido pelo seu fundador.
No Iêmen
Pouco tempo depois de Alroy, um alegado anunciador do Messias apareceu no Iêmen
(em 1172) numa altura em que os Muçulmanos estavam tentando converter os Judeus
que ali viviam. Ele declarou que as desgraças deste tempo eram um prognóstico da
vinda do reino Messiânico, e ordenava aos Judeus que dividissem a sua
propriedade com os pobres. Este pseudo-messias foi tematizado pelo "Iggeret
Teman" de Maimónides. Ele continuou a sua actividade por um ano, tendo depois
sido preso pelas autoridades muçulmanas e decapitado após a sua própria
sugestão, diz-se, de forma a poder provar a verdade da sua missão ao retornar à
vida.
Abraão Abulafia
Com Abraão ben Samuel Abulafia (Hebreu: אברהם בן שמואל אבולעפיה) (Saragoça,
Espanha, 1240; morreu depois de 1291 em Comino, Malta), o cabalista, começa a
tradição de pseudo-Messias cujas actividades são profundamente influenciadas
pelas suas especulações cabalísticas.
Como resultado dos seus estudos místicos, Abulafia começou a acreditar que era
um profeta, e num livro profético publicado em Urbino (1279) ele declarou que
Deus lhe tinha falado. Em Messina, na ilha da Sicília, onde foi bem recebido e
ganhou discípulos, declarou ser o Messias e anunciou 1290 como o ano do início
da era messiânica. Solomon ben Adret, a quem apelaram para julgar quanto às
afirmações de Abulafia, condenou-o, e algumas congregações declararam-se contra
ele. Perseguido na Sicília, foi para a ilha de Comino, próximo de Malta (c.
1288), ainda afirmando nas suas escritas a sua missão messiânica. Dois dos seus
discípulos, José Gikatilla e Samuel, ambos de Medinaceli, declararam mais tarde
serem profetas e milagreiros. O último profetizou em linguagem mística em Ayllon
em Segóvia o advento do Messias.
Nissim ben Abraham
Um outro pretenso profeta foi Nissim ben Abraham, activo em Ávila. Os seus
seguidores diziam que apesar de analfabeto, tinha sido favorecido subitamente
por um anjo, com o poder de escrever um livro místico "A maravilha da
Sabedoria". De novo, apelaram a Solomon ben Adret, que duvidou da pretensão
profética de Nissim e aconselhou investigação cuidadosa. O profeta continuou a
sua actividade, no entanto, e fixou até o último dia do quarto mês, Tammuz,
1295, como a data da vinda do Messias. Os crentes prepararam-se para o evento
jejuando e dando para a caridade, e reuniram-se no dia designado. Mas em vez de
encontrarem o Messias, alguns viram pequenas cruzes presas aos seus vestimentos,
talvez colocadas por descrentes para ridicularizar o movimento. Na sua decepção,
alguns dos seguidores de Nissim ter-se-iam convertido ao Cristianismo. Não se
sabe o que aconteceu ao profeta.
Moisés Botarel de Cisneros
Um século depois, outro falso Messias surgiu. Este pretendente a Messias seria
Moses Botarel of Cisneros.[11] Um dos seus aderentes terá sido Hasdai Crescas. A
sua relação é referida por Jerónimo da Santa Fé no seu discurso na disputação de
Tortosa em 1413.
Asher Lemmlein
Em 1502, Asher Lemmlein (Lämmlein), um alemão proclamando ser um anunciador do
Messias, apareceu em Ístria, perto de Veneza, e anunciou que se os Judeus fossem
penitentes e praticassem a caridade, dentro de seis meses viria o Messias, e um
pilar de nuvens e de fumo iria preceder os Judeus no seu regresso a Jerusalém.
Ele teve seguidores em Itália e na Alemanha, mesmo entre Cristãos. Em obediência
às suas preces, as pessoas jejuaram, rezaram e deram esmolas para preparar a
vinda do Messias, e o ano ficou conhecido como o "ano da penitência". Mas o
"Messias" terá morrido ou desaparecido (ver Lemmlein Asher).
Reuveni e Salomão Molko
Entre os pseudo-messias há que incluir David Reuveni e Salomão Molko. O primeiro
afirmou ser o embaixador e irmão do Rei de Khaibar, uma cidade e antigo distrito
da Arábia, onde os descendentes das "tribos perdidas" de Rubem e Gad
supostamente viviam. Pediu ao Papa e a potências europeias que lhes fornecessem
canhões e armas de fogo para a guerra com os Muçulmanos que, disse, impediam a
união dos Judeus que viviam nos dois lados do Mar Vermelho. Negou expressamente
ser um Messias ou um profeta [12]), dizendo que era apenas um guerreiro.
A boa-vontade com que foi acolhido pelo Papa em 1524, a audiência que lhe foi
concedida nas cortes portuguesas em 1525 (a convite do Rei D. João III), onde
recebeu pela primeira vez a promessa de ajuda e a pausa temporária na
perseguição aos Marranos, fez crer a estes judeus portugueses e espanhóis que
Reuveni era um precursor do Messias. Selaya, inquiridor de Badajoz, queixou-se
ao Rei de Portugal que um Judeu vindo do Oriente (referindo-se a Reuveni) tinha
suscitado aos Marranos espanhóis a esperança de que o Messias chegaria e iria
liderar Israel de todas as suas terras de volta à Palestina, e que tinha mesmo
encorajado a actos públicos.[13] Um espírito de expectativa cresceu durante a
estadia de Reuveni em Portugal. Uma mulher marrana da região de Herara, em
Puebla de Alcocer declarou ser uma profeta, teve visões, e prometeu liderar os
seus correligionários para a Terra Santa. Foi queimada viva, juntamente com quem
acreditava nela.
Isaac Luria
Isaac Luria (Isaac ben Solomon Ashkenazi Luria) foi um seguidor judeu da Cabala
(misticismo esotérico) e reivindicou ser o Messias. Mais tarde, o seu discípulo
e seguidor Hayyim Vital Calabrese foi tido como o Messias por alguns judeus da
Palestina. Ambos afirmaram serem Messias Efraíticos, anunciadores do Messias
Davídico.
Isaac Luria (n. 1534 em Jerusalém; f. 1572 em Safed, Israel) ensinava no seu
sistema místico a transmigração e superfetação das almas, e acreditava ele
próprio possuir a alma do Messias da casa de José, e ter como missão apressar a
vinda do Messias da linha de David através do melhoramento místico das almas.
Tendo desenvolvido o seu sistema Cabalístico no Egipto sem no entanto conseguir
ali muitos seguidores, ele foi para Safed, Israel, por volta de 1569. Foi ali
que conheceu Hayyim Vital Calabrese, a quem revelou os seus segredos e através
de quem assegurou muitos seguidores. A estes, ensinou secretamente o seu
messianismo. Ele acreditava que a era messiânica iria ter início no princípio da
segunda metade do segundo dia (do ano 1000) após a destruição do templo de
Jerusalém, ou seja, em 1568.
Com a morte de Luria, Hayyim Vital Calabrese (n. 1543; f. 1620 em Damasco)
reivindicou ser o Messias Efraíta e pregou o breve advento da era Messiânica. Em
1574, Abraão Shalom, um pretendente a Messias Davidico, comunicou a Vital,
dizendo que ele (Shalom) era o Messias Davidico, enquanto que Vital era o
Messias da casa de José. Ele pediu a Vital que fosse a Jerusalém e que ali
ficasse pelo menos dois anos, com o que o espírito divino iria chegar-lhe.
Shalom disse a Vital, para além disso, que não receasse a morte, o destino do
Messias Efraíta, já que ele iria tentar salvá-lo dessa perdição.
Sabbatai Zevi
O movimento messiânico mais importante de todos, e um cuja influência atingiu
todo o mundo judaico, tendo durado em vários sítios mais de um século, foi o
movimento de Sabbatai Zevi (1626- 1676).
Sabbatai sofria de crises de tristeza, seguidas de período de grande alegria e
actividade; tem sido sugerido que ele seria um doente bipolar
(maníaco-depressivo). Um dia Sabbatai foi ao encontro de Nathan de Gaza
(1644-1680), uma espécie de adivinho e curandeiro, na esperança de encontrar a
solução para os seus males. Nathan reconhece-o como Messias e incute-lhe essa
ideia; Sabbatai deve a Nathan a elaboração da teologia deste movimento
messiânico, uma vez que Sabbatai nada escreveu e não apresentou nenhuma mensagem
original.
Em Setembro de 1665, na cidade de Esmirna, diante de uma multidão em delírio,
Sabbatai declara-se Messias de Israel. Seis meses depois, Sabbatai dirige-se
para Constantinopla, provavelmente com o objectivo de converter os muçulmanos.
Em Fevereiro de 1666 é preso por ordem de Mustafá Paxá que lhe apresentou duas
alternativas: a conversão ao Islão ou a morte. Para escapar à morte, Sabbatai
renuncia ao Judaísmo e converte-se à religião muçulmana. Nathan de Gaza e os
outros seguidores interpretaram a sua apostasia como a prova de que ele era
realmente o Messias: os actos de redenção são aqueles que causam mais escândalo.
Ver o artigo Sabbatai Zevi para mais detalhes.
Pseudomessias sabbatainianos
Após a morte de Sabbatai seguiu-se uma linha de messias putativos. Jacob
Querido, filho de Joseph Filosof, e irmão da quarta mulher de Sabbatai,
tornou-se líder dos Shabbethanos em Salónica, sendo visto como a encarnação de
Shabbethai. Ele afirmava-se filho de Sabbatai e adoptou o nome Jacob Tzvi. Com
400 seguidores, ele converteu-se ao Islão por volta de 1687, formando uma seita
chamada Dönmeh. Ele próprio chegou mesmo a peregrinar a Meca (c. 1690). Após a
sua morte, o seu filho Berechiah ou Berokia sucedeu-o (c. 1695-1740).
Vários seguidores de Sabbatei declararam-se eles próprios Messias. Miguel
Abraham Cardoso (1630 - 1706), nascido de pais marranos, pode ter sido iniciado
no movimento Shabbethaniano por Moisés Pinheiro em Livorno. Ele tornou-se um
profeta do Messias, e quando o último se converteu ao Islão, ele chamou-o de
traidor, dizendo que é necessário que o Messias se conte entre os pecadores por
forma a expiar a idolatria de Israel.
Ele aplicou a passagem de Isaías LIII a Sabbatai, e enviou epístolas que
provariam que ele era o verdadeiro Messias, chegando mesmo a sofrer a
perseguição por defender a sua causa. Mais tarde, considerou-se um Messias
Efraíta, argumentando com alegadas marcas no seu corpo que o provariam. Pregou e
escreveu sobre vinda em breve do Messias, marcando datas diferentes, até que
acabou por morrer.
Mordecai Mokia
Outro seguidor de Shabbethai que lhe permaneceu fiel, Mordecai Mokia, ou
Mordekay Mokiah ("o admoestador") de Eisenstadt, também pretendeu ser um
Messias. O seu período de actividade foi de 1678 a 1682 ou 1683.
Defendeu inicialmente que Shabbethai era o verdadeiro Messias e que a sua
conversão tinha sido necessária por motivos místicos. Pregava que este não
morrera mas que se iria revelar dentro de três anos após a sua suposta morte, e
apontou para as perseguições de Judeus em Oran (Espanha), na Áustria, e em
França, e a pestilência na Alemanha como presságios da sua vinda.
Encontrou seguidores entre judeus da Hungria, Morávia e da Boémia. Dando um
passo mais, ele declarou ser o Messias Davídico. Shabbethai, de acordo com ele,
passou apenas a ser o Messias Efraíta. Como tinha sido rico, significava que não
poderia executar a redenção de Israel. Ele, Mordecai, sendo pobre, era o Messias
verdadeiro e ao mesmo tempo a encarnação da alma do Messias efraíta.
Judeus italianos, ouvindo falar dele, convidaram-no a ir até Itália. Viajou para
a Itália por volta de 1680, tendo sido bem recebido em Reggio e Modena. Falou
das preparações messiânicas que teria que fazer em Roma, e deu a entender que
talvez adoptasse o Cristianismo exteriormente. Denunciado à Inquisição ou
aconselhado a deixar a Itália, ele regressou à Boémia, onde se diz que se tornou
demente. A partir deste tempo, uma seita começou a tomar forma ali, e persistiu
até à era Mendelssoniana.
Outro pretendente a Messias Shabbethaniano foi Löbele Prossnitz. Ele ensinou que
Deus tinha dado o domínio do mundo ao "pio", isto é, aquele que entrara nas
profundezas da Cabala. Tal representação de Deus tinha sido Shabbethai, cuja
alma tinha passado para outros homens "pios", Jonathan Eybeschütz e ele próprio.
Outro, Isaías Hasid (um cunhado do Shabbethaniano Judah Hasid), que vivia em
Mannheim, afirmou secretamente ser o Messias ressuscitado apesar de ter
publicamente abjurado de quaisquer crenças Shabbethanianas.
Jacob Frank
Jacob Frank (n. 1726 em Podolia; f. 1791), fundador dos franquistas, também
afirmou ser o Messias. Na sua juventude tinha tido contacto com o Dönmeh. Ele
ensinava que era uma reencarnação do Rei David. Tendo assegurado alguns
seguidores entre os Judeus da Turquia e de Valáquia (na actual Roménia), ele
veio em 1755 até à Podolia, onde os Shabbethanianos necessitavam de um líder, e
revelou-se como a reencarnação da alma de Berechiah.
Enfatizou a ideia do "rei sagrado" que seria ao mesmo tempo Messias, tendo-se
denominado apropriadamente de "santo señor". Os seus seguidores afirmam que
realizou milagres, tendo chegado mesmo a rezar-lhe.
O seu objectivo (e o da sua seita) era o de arrancar pela raiz o Judaísmo
rabínico. Foi forçado a deixar Podolia; e seus seguidores foram perseguidos.
Regressando em 1759, aconselhou os seus seguidores a converterem-se ao
cristianismo. Cerca de 1000 deles converteram-se, tornando-se polacos gentios
com origens judaicas. Ele próprio converteu-se em Varsóvia em Novembro de 1759.
Mais tarde, a sua insinceridade foi exposta, e foi emprisionado por heresia,
permanecendo no entanto, mesmo encarcerado, o líder de sua seita.
Menachem Mendel Schneerson
Entre a linha Chabad Lubavitch do Judaísmo chassídico houve um crescente fervor
messiânico nos finais da década de 1980 e princípios da década de 1990, devido à
crença que o seu líder, Menachem Mendel Schneerson estaria prestes a revelar-se
como o Messias. A morte de Schneerson em 1994 abateu um pouco este sentimento,
apesar de muitos seguidores de Schneerson ainda acreditarem que ele é o Messias
e que irá regressar em devido tempo.