O fenômeno mental do sonho levou o homem pré-histórico a
supor uma existência humana independente do próprio corpo. Ao sentir-se em lugares distantes, realizando os mais diversos
feitos enquanto permaneciam inertes durante o sono, esses humanos primevos, sem
compreenderem o fenômeno onírico, acreditavam estarem realmente naqueles
lugares. E como eram vistos dormindo em suas cavernas por seus familiares, a
única explicação que encontraram foi a existência de um lado imaterial de cada
pessoa. E, não obstante toda a evolução em conhecimento psíquico, após
tantos milênios essa entidade imaginária ainda permanece viva na maioria dos
cérebros, sendo chamada de alma ou espírito.
O que esses nossos remotos ancestrais não observaram, e até hoje há muitos que
não observam, é que, enquanto um indivíduo, em sonho, se achava a carregar para
sua caverna a fêmea preferida, poderia essa mulher estar, também em sonho,
vendo-se espreitada por outro troglodita, e esse, por sua vez, até estar
sonhando com uma implacável perseguição àquela caça necessária para o seu
jantar. Para comprovar esse fato, basta você, ao sonhar com alguém, perguntar no
dia seguinte se essa pessoa sonhou com você. Raramente você terá resposta
afirmativa, e a coincidência de fatos dos sonhos tem muito menos probabilidade
do que acertar em uma loteria. Isso é uma das provas incontestes de que o sonho
é apenas imaginação. Se essa alma existisse, encontrando com outra alma no
sonho, teríamos cem por cento de reciprocidade, ou seja, quando você sonhasse
com alguém, esse estaria inevitavelmente sonhando com você.
Outra prova igualmente concludente de que o sonho constitui-se apenas impressões
mentais é que, quando sonhamos com uma pessoa que conhecemos na infância, nunca
a vemos adulta, mas vemos aquela criança que conhecemos no passado. Se não fosse
simples impressão na massa cinzenta, mas a suposta alma, sonharíamos com a
pessoa tal qual fosse à época do sonho. É até possível que tenhamos no sonho a
imagem da pessoa adulta, uma vez que imaginamos como deve ser a pessoa
atualmente, mas raramente isso acontece, pois o sonho retrata mais aquilo que
vimos do que aquilo que imaginamos ser. Já sonhei com pessoas de quem alguém me
tivesse falado, todavia sempre vi uma imagem diferente da que encontrei ao
conhecer posteriormente tais pessoas, o que constitui mais uma prova induvidosa
de que não encontrei a pessoa, mas fiz uma imagem em minha mente. A crença na
existência da alma imaterial tem sido objeto de discussão, e continua sendo até‚
hoje, ocupando até cientistas, que procuram uma explicação para o que as pessoas
chamam de “viagem fora do corpo”.
Os que tiveram experiência muito próximas da
morte, quase sempre, afirmam terem-se sentido viajando dentro de um túnel, com
uma luz muito brilhante no fim, após o que encontraram coisas bonitas e pessoas
conhecidas já mortas.
Os animistas tem considerado como evidência de sua crença esses fenômenos
ocorridos com pessoas que chegaram quase à morte. Essas pessoas comumente têm a
impressão de terem viajado por um túnel e chegado a um ponto onde sentiram
grande prazer.
“A psicóloga Susan Blackmore explica que "em situações extremas, milhares de
células do cérebro disparam uma seqüência aleatória de impulsos elétricos e
luminosos. Como no córtex visual há uma concentração maior de células, daí pode
vir o efeito de túnel que as pessoas descrevem. É uma luz muito, muito
brilhante, que não fere os olhos; pois não é vista com os olhos; é um fenômeno
interno. Os sentimentos de paz e alegria, ausência de dor, são, provavelmente,
devido a endorfinas, semelhantes a morfina, que o cérebro produz. Todos os tipos
de stress e as quedas de oxigênio e pressão podem provocar uma enchente de
endorfinas; e elas produzem uma sensação maravilhosa". Charles McCreery, do
Instituto de Pesquisas Psicofísicas em Oxford, conseguiu provocar, em
laboratório, experiências fora do corpo. Com técnicas de relaxamento, ele obteve
resultados impressionantes. Uma moça, perfeitamente saudável, contou ter viajado
num túnel, com uma luz brilhante no fim; e um senhor disse ter flutuado a vinte
mil metros de altitude, vendo Oxford lá de cima. "É mais comum do que se
imagina", afirma o Dr. MacCreery, "uma em cada cinco pessoas já teve uma
experiência fora do corpo". Ele chegou à conclusão de que há um tipo de
personalidade predisposto ao fenômeno: Uma espécie de esquisofrenia branda.”
(Globo Repórter, 13 de agosto de 1993).
O testemunho inegável de que a nossa
consciência está no cérebro, e não em qualquer coisa fora dele, é a perda de
memória ou habilidade resultante de acidente que atinja a massa encefálica. Uma
pessoa de quem se arranca uma perna ou um braço pode até ter um desmaio
momentâneo devido à dor, porém conserva intactas suas faculdades mentais. Já
quem tem um dano na massa cerebral tem problema com a memória, o que prova que
ela está ali, não em outro lugar.
No dia em que a ciência conseguir realizar o transplante de cabeça, não tenho
dúvida, o indivíduo que receber a cabeça terá a memória do doador, embora os
atos constantes da lembrança tenha sido praticados pelo corpo extinto e não o
corpo receptor da cabeça transplantada.
Não obstante o primeiro livro bíblico diga que “formou o Senhor Deus ao homem do
pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser
alma vivente" (Gênesis, 2: 7), os religiosos, em sua maioria, acham que alma não
é a pessoa em si, mas tal entidade que se imagina poder desprender-se do corpo.
Salomão disse que “os mortos não sabem coisa nenhuma” (Ecl. 9: 5), e Jó
acreditava que o homem “morre e... enquanto existirem os céus não acordará...”.
E lançou a pergunta: “Morrendo o homem, porventura tornará a viver?” (Jó, 14:
10-14). Mas nem todos os escritores bíblicos pensaram assim. Pedro escreveu que
Jesus Cristo, após a morte, “pregou aos espíritos em prisão”, e deixou mais clara sua
crença animista, dizendo que “o evangelho foi pregado a mortos” (II Pedro, 3:
19; 4: 6). Não há como dizer que se trata de sentido figurado, pois os mortos
ali mencionados são do tempo em que Noé preparava a arca. Analisando,
minuciosamente, encontramos entre os discípulos de Jesus até a crença na
reencarnação (crença espírita de que um espírito passa por sucessivos corpos
humanos), embora não tenha sido confirmada pelo próprio Jesus e tenha sido
claramente combatida posteriormente pelo apóstolo Paulo.
Essa divergência encontrada entre os escritores bíblicos decorre de um fato.
Quando começaram a escrever a bíblia, os hebreus não conheciam essas doutrinas
como ressurreição dos mortos, reencarnação, imortalidade da alma, etc. Não criam
em nenhuma recompensa após a morte. Assim é que o primeiro livro bíblico não diz
que o deus criador deu uma alma a Adão, mas afirma que "lhe soprou nas narinas o
fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente". O autor do Gênesis não
pensava que o homem tivesse uma alma, mas que ele era uma alma. Todavia,
depois de viveram sob domínios de outros povos, especialmente os babilônios e
persas, os hebreus passaram a crer na ressurreição dos mortos, doutrina que se
tornou o cerne do cristianismo, e também na alma imaterial.
O reconhecimento de que a fé leva a atitudes e imaginações irracionais não é
coisa de ateu, mas dos próprios religiosos. Observe-se o texto a seguir:
“Em nome da fé, os homens muitas vezes cometem absurdos que vão de encontro à
moral e à mais simples lógica. A inquisição foi um desses períodos da história
da Humanidade em que se pressupunha salvaguardar a fé religiosa de um
determinado grupo simplesmente eliminando todas as manifestações contrárias.
Para isso, usavam-se todos os meios à disposição, desde a tortura até a morte.”
(Visão Espírita, out./98, pág. 56). É, por esse poder da fé, que, mesmo após
todas as descobertas sobre a mente e os sonhos, a maioria das pessoas ainda
acreditam nessa alma que o desconhecimento criou. O sonho é uma sensação
imaginativa durante o sono, que sentimos como se fosse um fato, e isso levou o
homem primitivo a pensar que vive também fora do corpo.