Esperar que um
dia, depois que você for vencido pelas bactérias, seu corpo seja recomposto, agora
imortal, sem dor, sem tristeza, para viver para sempre, é algo psicologicamente
maravilhoso. Isso me fez calar por quinze anos pensando em não tirar
das cabeças dos outros aquilo que não pôde continuar na minha. Sabia que
isso poderia ser tudo na vida de muitos. Todavia, outro fator me
preocupou muito e me levou a expor meu novo pensamento. O horror que
o mundo já sofreu, e em muitos lugares ainda continua sofrendo, impingido pelos
que pregam um paraíso após a morte, somado ao risco que ainda corremos de
retornar a outra idade das trevas.
Fui religioso,
mas deixei de ser após estudar muito para ter certeza de que o que eu acreditava
fosse realmente "a verdade".
Inicialmente,
comecei a ter dúvida quando determinados textos do livro sagrado parecia dar
razão a outras religiões que eram contrárias à minha. As explicações que
ouvia pareciam muito forçadas. Assim, tentei estudar muito a Bíblia para
descobrir entre as milhares de religiões se alguma tinha toda a verdade.
Além disso, já antes ficava pensativo
com algumas coisas absurdas que diziam fazer parte da justiça divina.
Tentando
verificar quem tinha razão nos pontos contraditórios, constatei que as
contradições não estavam somente entre as religiões, mas
na própria Bíblia.
Ao ver que,
dentro de apenas quatro evangelhos, quase tudo da vida de Jesus era contado de
formas incompatíveis, concluí que aquilo não poderia ser verdade; pois entre
duas informações contraditórias, uma teria que ser falsa; e se havia uma
informação falsa no livro sagrado, não poderia ter certeza de que as outras fossem
verdadeiras. Tudo poderia ser engano.
Buscando os
primórdios do judaísmo, descobri que eles mudaram muito o pensamento ao longo de
menos de um milênio. Descobri que até a
ressurreição dos mortos, que é o cerne do Cristianismo e do Judaísmo,
só
veio a existir depois que eles foram dominados pelos babilônios. E, se seu
deus não prometeu ressurreição a ninguém antes de eles viverem entre os
babilônios, é certo que essa crença foi aprendida nessa época. Um deus
onisciente não poderia ter aprendido ressuscitar os mortos somente depois de
séculos de existência de seu povo escolhido.
Hoje, as
descobertas arqueológicas provam que nunca houve
dilúvio universal, constatam a completa ausência de vestígios da existência
do êxodo bíblico e muitas coisas mais.
Como a história
mostra os horrores que foram
praticados em nome de Jesus, e atualmente há tantas barbaridades cometidas por
islâmicos em nome da fé, cheguei à conclusão que, se ficarmos calados, não
agirmos em defesa da liberdade de pensamento, corremos o risco de ser novamente
dominados por teocratas que impõe aos outros o que dizem ser vontade divina.
Por isso, decidi não me calar mais, apesar de saber que a fé é um grande consolo
para o crente, que acredita que todo o sofrimento por que passa aqui será
recompensado com uma vida eterna.
Vejo meus amigos
agradecendo a um deus por tudo, sei que eles se sentem felizes acreditando
nisso, mas lembro o sofrimento que essa fé já causou, concluo que não posso me
calar.
O fato mais
preocupante para mim é que, enquanto nos países do primeiro mundo as religiões
vem diminuindo gradativamente desde o século passado, no nosso Brasil elas
crescem como nos lugares mais miseráveis da África, e o nosso parlamento está se
enchendo de religiosos, que querem impor suas idéias à população. E,
como o número de religiosos é grande, até a democracia favorece esse problema,
aumentando o risco de retornarmos às trevas da Idade Média.
Até as pesquisas com células tronco têm sido prejudicadas pelos políticos
religiosos, e podemos sofrer mais imposições absurdas se eles dominarem o poder.
Por isso, não podemos nos calar. Temos que mostrar aquilo que sabemos.