DEUS, UMA NECESSIDADE HUMANA
/2010
O tema discutido por Karen Armstrong é mais uma
defesa da fé, com base na necessidade humana de acreditar em algo que dê
sentido à vida, para não cair em desespero. Mas nada de concreto que
dê validade aos objetos de fé. "Em nome de Deus (trecho)
Em seu novo livro, a escritora inglesa Karen Armstrong rebate os papas do novo ateísmo, que condenaram à morte as religiões
José Ruy Gandra
Confira a seguir um trecho dessa reportagem que pode ser lida na íntegra na edição da revista Época de 19/dezembro/2009. |
Peregrino muçulmano ora no Deserto do Sinai. Sua fé é um exercício de disciplina que abre portas para o território do sagrado |
PERSISTÊNCIA
Ao ver Buda meditando, sentado sob uma árvore, um brâmane ficou fascinado com sua serenidade e autodisciplina. “Você é Deus?”, perguntou-lhe o monge, ao ver sua concentração transformar-se numa extraordinária paz interior. “Não”, foi a resposta. “Apenas descobri um novo potencial na natureza humana, que nos torna capazes de viver em paz e harmonia neste mundo de tantos conflitos e sofrimentos.” O segredo, disse Buda, era não tanto crer, mas, sobretudo, praticar a meditação com afinco. “Desse modo, cada um atinge o máximo de sua capacidade, ativa partes adormecidas de sua mente, neutraliza o próprio ego e se torna um ser humano plenamente iluminado.” Por fim, ao despedir-se do sacerdote curioso, Buda disse: “Lembre-se de mim como alguém que despertou”.
É com esse episódio singelo que a escritora de origem irlandesa Karen Armstrong conclui seu mais novo livro, The case for God (em tradução livre, Uma defesa para Deus). É um fecho fiel tanto à vida de Karen quanto à essência de seu livro. Ex-freira católica durante os trepidantes anos 1960, portadora de epilepsia, Karen perdeu a fé – para resgatá-la, décadas adiante, sob uma nova ótica, semelhante à de Buda. Para ela, o encontro de Deus deriva menos de uma crença e mais do esforço pessoal. Autora de mais de 20 títulos sobre religião, entre eles aclamadas biografias de Maomé e de Buda e uma história da própria Bíblia, Karen nunca mais retornou formalmente à Igreja Católica ou a qualquer outra. “Sou uma monoteísta free-lance”, diz ela.
Com lançamento no Brasil previsto para o final de 2010, The case for God faz parte de uma nova leva de livros que defendem a religião de ataques recentes. Fazem parte dessa leva God is back (Deus voltou), escrito por John Micklethwait e Adrian Wooldridge, jornalistas da revista The Economist, e Reason, faith and revolution: reflections on God debate (Razão, fé e revolução: reflexões sobre o debate a respeito de Deus) , do crítico literário inglês Terry Eagleton. Todos esses trabalhos partem de uma mesma constatação: mesmo sob o fogo cerrado do racionalismo ateu, a devoção a Deus e às religiões continua a se fortalecer no mundo todo.
Essa nova onda tenta revidar os ataques
do grupo de pensadores conhecidos como os “novos ateus”.
São autores como o biólogo inglês Richard Dawkins, cuja
defesa ferrenha da teoria da evolução das espécies
valeu-lhe – ou custou-lhe, depende... – o apelido de
Rotweiller de Darwin; ou o jornalista anglo-americano (e
colunista de ÉPOCA) Christopher Hitchens, que considera
a ideia de Deus uma crença maligna e totalitária, com
seus dias contados pela ciência. A dupla, acrescida do
neurocientista Sam Harris e do filósofo Daniel Dennett,
ambos americanos, ficou conhecida, nos meios
intelectuais, como os Cavaleiros do Apocalipse, pela
virulência de seus ataques à religião. “Elas permitem
que visões, que de outra forma seriam consideradas
sinais de loucura, tornem-se aceitas e, em muitos casos,
veneradas como sagradas”, diz Harris.
Em The case for God, Karen faz o melhor contra-ataque às
teses do grupo. “Os novos ateus são teologicamente
iletrados”, escreve ela. “Como os fundamentalistas
religiosos, eles infantilmente concebem Deus como um ser
poderoso que os homens não conseguem enxergar.” Para
Karen, o engano comum a ambos é analisar os textos
sagrados em sua literalidade. Uns para negar
cientificamente a ideia de Deus. Outros para distorcê-la
com finalidades políticas.
TRÊS EM UM - A Grande Mesquita de Meca durante a peregrinação anual, judeu no Muro das Lamentações em Jerusalém e cardeais católicos no Vaticano: símbolos do monoteísmo que os novos ateístas consideram uma afronta irracional à ciência.
Por séculos, afirma Karen, as ideias de
Deus e dos livros sagrados foram bem mais sutis e
profundas do que hoje supõem novos ateus e
fundamentalistas judeus, cristãos ou islâmicos. Mas o
avanço da ciência, a partir do Iluminismo, cerceou nossa
mente e restringiu seu alcance a fatos empiricamente
comprováveis. Esse cientificismo triunfante foi
inaugurado pelas três leis da mecânica clássica, do
físico inglês Isaac Newton, e teve seu auge dois séculos
mais tarde, com a teoria da evolução das espécies, do
naturalista inglês Charles Darwin. Aos poucos, de acordo
com Karen, a ciência suprimiu um dos ingredientes mais
relevantes da fé: o mito, a capacidade humana de, por
assim dizer, vislumbrar o inconcebível. “Esse conflito
entre ciência e religião acabou nos afastando das formas
mais puras de fé. As pessoas esqueceram que
a razão e o
mito sempre foram complementares no ser humano”, diz
Karen. Ao descartar o mito, a ciência, segundo ela, sequestrou a religião da vida da humanidade.
A partir do século XVIII, gradativamente tudo passou a
exigir a chancela da ciência. Mas nada, teoria ou lei
alguma, conseguiu abalar o fundamento mais sólido das
religiões: a necessidade humana pelo sagrado. “Somos,
por natureza, criaturas em busca de sentido. O Homo
sapiens é, também, o Homo religiosus”, afirma
Karen. As ideias teológicas vão e vêm, mas a busca
humana por sentido permanece. “A religião não existe
para nos explicar a origem do Universo. Esse é o papel
da ciência”, diz Karen. “Religiões nos ajudam a lidar
com os aspectos da vida para os quais não existem
respostas fáceis: a morte, a dor, o sofrimento, as
injustiças da vida e as crueldades da natureza.” Em
suma: religião é refletir sobre questões que não cabem
na lógica ou num simples cálculo. É refletir sobre o
mito. Karen delimita os domínios da razão e da fé com um
exemplo de rara clareza. “A razão pode até nos curar do
câncer”, diz. “Mas não nos ensina a agir ao receber seu
diagnóstico nem nos ajuda a morrer em paz.”
O primeiro passo rumo à conexão com o sagrado, segundo
Karen, é não tratar Deus como um ente supremo, mas sim
como o mistério que foi, é e, por muito tempo, ainda
será. Numa palavra: como o desconhecido. Karen propõe um
enfoque da religião que tenha mais a ver com o coração e
a arte do que com a razão pura. Que lide mais com
rituais que com ideias. “Só assim ela se torna uma fonte
de fortalecimento pessoal”, diz ela. “Você só aprende a
cozinhar cozinhando. Com a fé é a mesma coisa.”
O segundo passo, de acordo com Karen, é adquirir a
persistência revelada por Buda no episódio citado. “A fé
requer trabalho duro e persistência”, afirma Karen. A
religião, diz, é uma disciplina prática. Ela não brota
de reflexões abstratas, mas de exercícios espirituais
(orações, preces, meditação) e de um estilo de vida
praticados com regularidade. O auge da experiência
religiosa consiste em alcançar um estado de reverência,
mesmo sabendo que Deus não pode ser traduzido
racionalmente. Foi o que sempre fizeram, como mostra The
case for God, as grandes tradições monoteístas. Pelo
menos até que a ciência as virasse do avesso, ao
exigir-lhes comprovações científicas estranhas a sua
essência.
Karen ilustra essa busca incessante pelo sagrado,
inerente aos humanos, com uma história. Entre os
muitos judeus que perderam sua fé em Auschwitz, um grupo
decidiu levar Deus a julgamento. “Como pode, afinal, uma
divindade onisciente e tão benevolente permitir tamanho
horror? Ou ela não existe ou não merece nossa devoção”,
eles argumentavam. Após longos debates, Deus foi
condenado à morte. O rabino que presidia o júri
proclamou então o veredicto: “Deus está morto”. Depois,
calmamente, disse: “Agora vamos, pois está na hora da
oração noturna”.
O livro de Karen traz um novo alento aos que creem.
Desperta um renovado e sereno otimismo espiritual.
Resgata a relevância que a modernidade roubou às
religiões e enfatiza a importância de compreendê-las se
quisermos compreender verdadeiramente nossa vida e o
mundo em que vivemos. Ao longo de seus capítulos, Karen
analisa questões atualíssimas, como a origem da fé, o
secularismo, a violência religiosa e o tratamento nada
lisonjeiro dispensado pelas religiões às mulheres. Tais
temas, selecionados, são debatidos nas próximas páginas.
The case for God é um trabalho denso, corajoso e
sincero. Se venderá mais ou menos que as obras de
Dawkins, Hitchens, Harris ou Dennett é algo que,
decerto, dirá menos sobre o próprio livro e mais sobre
nós mesmos e o nosso tempo.
Mitos e atritos
Sete questões capitais sobre Deus – e seu impacto no mundo e em nossa vida
José Ruy Gandra
1. DEUS ESTÁ MORTO
Definitivamente, não. Embora muita gente ainda questione a relevância das religiões em sua vida, um novo debate se impôs globalmente: Deus é benéfico para o mundo? Para os novos ateus, como Dawkins, Hitchens, Harris e Dennett, ele não passa de um delírio – e, caso de fato existisse, deveria ser executado em praça pública. Para esse grupo, feroz e irredutível em seus argumentos, a religião é um fenômeno retrógrado e perverso, que conduz à ignorância, a disputas amargas e a guerras. Karen Armstrong se opõe a essa visão. Num extrato de seu livro, publicado na revista Foreign Policy, ela parte para o ataque. “Os novos ateus não estão errados apenas quanto à religião e à política. Eles se enganam quanto à própria natureza humana”, diz. “Enquanto os cães, até onde se sabe, não especulam sobre sua condição canina nem se preocupam com a própria efemeridade, nós, seres humanos, mergulhamos facilmente no desespero caso não encontremos um sentido para nossa vida.” Resumindo: Deus vive. O que não quer dizer que, figuradamente, seu óbito não possa ser atestado. “Mesmo para os que creem, Deus morre”, diz o rabino Nilton Bonder, da Congregação Judaica do Brasil (CJB). “Mas não sua essência. O que falece é nossa percepção sempre inacabada de sua natureza.” Para o xeque Jihad Hassan Hammadeh, um dos líderes da comunidade islâmica brasileira, o que morre são as ideias teológicas formuladas pelos homens. “Mas não ‘Ele’. A crença em Deus é um acessório original de fábrica do ser humano, e não um item opcional. Todos nascem crendo”, diz Jihad. Para as grandes tradições religiosas e a enorme maioria da humanidade, Deus não parece estar indo a parte alguma – uma razão a mais para que encontremos um modo equilibrado e profundo de conviver com sua presença.
2. AS RELIGIÕES ESTÃO RENASCENDO
Ao que tudo indica, sim. “Vivemos um período de grandes inquietudes e de uma tremenda ebulição existencial e espiritual nas mais diversas tradições religiosas”, diz o rabino Bonder. “A questão é se essas religiões terão grandeza e flexibilidade para não aplicar velhas respostas a essas novas demandas.” Para o bispo dom Dimas Barbosa, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), esse fenômeno é particularmente intenso nos países do Leste Europeu. “Após décadas de um ateísmo totalitário, seus habitantes estão com a fé à flor da pele.” O lama Padma Samten, diretor do Instituto Caminho do Meio – Centro de Estudos Budistas Bodisatva, de orientação tibetana e sediado em Viamão, no Rio Grande do Sul, endossa essa tese. “As religiões estão renascendo, pois os conhecimentos que brotam da ciência, da economia e da política tornaram-se filosoficamente muito limitados.” Segundo Samten, as religiões, em especial o budismo, hoje oferecem uma compreensão bem mais profunda e refinada da realidade. “Ouso dizer que, hoje, os cientistas tornaram-se religiosos, e os budistas céticos”, diz ele. Em The case for God, Karen Armstrong salienta outro fenômeno interessante. Cada vez mais pessoas acreditam nos ensinamentos e práticas de mais de uma religião. “É inevitável que, hoje, se busque inspiração em mais de uma tradição religiosa”, afirma. “É parte da globalização.”
3. POR QUE UNS CREEM, E OUTROS NÃO
Eis uma questão delicada. De acordo com as principais tradições monoteístas, todas as pessoas nascem crendo. “Até o ateu, mesmo que inconscientemente, busca o criador”, diz o xeque Jihad. “De um modo ou outro, todos correm atrás do prejuízo causado pela ausência de Deus.” O rabino Bonder concorda com a tese com um quase aforismo. “Há os que creem e há os que creem que não creem”, diz. Para o teólogo e pastor Ed René Kivitz, da paulistana Igreja Batista de Água Branca, “o paradoxo da fé é exatamente ela ter como objeto algo que transcende a racionalidade”. A crença, para o lama Samten, é um traço imanente aos seres humanos. “Mesmo que as pessoas não se deem conta, os elementos espirituais estão presentes e atuantes nelas.” Por essa razão, ele argumenta, a prática é tão essencial. Karen segue a mesma trilha. “A religião é uma alquimia ética”, diz ela. “É um exercício de comportamento sistemático que muda as pessoas e seus valores, pois lhes abre as portas para a intimidade com o sagrado.” De acordo com dom Dimas, “as pessoas encontram os sinais da fé em si próprias e tomam suas decisões nesse campo com o coração”.
GUERRAS
SANTAS
4. DEUS E POLÍTICA NÃO COMBINAM
Depende. Segundo Karen Armstrong, no Ocidente o secularismo foi bem-sucedido e essencial para a consolidação da política e da economia modernas. Mas foi alcançado gradativamente, ao longo de três séculos. Isso permitiu que a nova ideia de governo se cristalizasse em praticamente todos os níveis da sociedade. Em outras partes do mundo, no entanto, a secularização ocorreu com tamanha rapidez – e, muitas vezes, de modo tão agressivo – que gerou ressentimentos em populações ainda fortemente ligadas à religião. Como reação, esses povos passaram a considerar as instituições ocidentais, entre elas a democracia, modelos impróprios para sua vida e seu país. Por ter liderado essa universalização do secularismo com a fúria de um rolo compressor, o Ocidente acabou enfrentando sérios reveses. Quando, apoiado pelos Estados Unidos, os xás do Irã torturaram e exilaram os religiosos que se opunham ao regime, alguns clérigos, como o aiatolá Khomeini, concluíram que a participação dos líderes islâmicos no governo deveria ser rapidamente fortalecida. Os resultados dessa mudança de postura dos muçulmanos xiitas, que por séculos consideraram a distância do poder um princípio sagrado, são bem conhecidos.
5. DEUS SEMEIA A VIOLÊNCIA
Ele não. Os homens, sim. “Deus é justo e prega a paz. As pessoas é que interpretam a religião segundo seus interesses e a desvirtuam”, diz o xeque Jihad. “Isso acontece porque Deus deu ao ser humano o livre-arbítrio, que tanto pode servir ao bem quanto ao mal.” O católico dom Dimas concorda: “O livre-arbítrio é a glória e, ao mesmo tempo, a miséria dos seres humanos”, diz. “Essa liberdade é minha dignidade; mas, ao mesmo tempo, se mal usada, pode ser meu flagelo.” Karen aborda o tema por uma ótica ligeiramente distinta. Não é Deus ou as religiões que semeiam as atrocidades, mas sim a violência inerente à natureza humana. “Como espécie, sobrevivemos matando outros animais e também nossos semelhantes”, diz. Essa violência está tão impregnada em nossa vida que é relatada, em termos assustadores, em praticamente todos os livros sagrados. Felizmente, segundo Karen, ela é contrabalançada por outros textos que promovem a compaixão e sua regra de ouro: “Trate os outros como você gostaria que tratassem a você mesmo”. Apesar de inúmeras falhas ao longo dos séculos, essa regra se manteve no centro de todas as principais tradições religiosas – e é um sólido ponto de partida para o ecumenismo.
Um casal muçulmano em trajes típicos, na Índia. O combate ao uso do véu acabou transformando-o num dos principais símbolos da integridade islâmica |
REAÇÃO
6. DEUS OPRIME AS MULHERES
Infelizmente, sim. “É verdade que nenhuma das principais religiões do mundo tem sido boa para elas”, afirma Karen. “Mesmo que, em seus primórdios, algumas tenham se mostrado generosas com as mulheres, como o cristianismo ou o islamismo, em poucas gerações os homens as transformaram num patriarcado.” De acordo com o rabino Bonder, “todo Deus manipulado pelas ideias humanas é nocivo para as minorias, em especial as mulheres; os homens ostentam uma espécie de inveja uterina”. Uma das maiores conquistas da modernidade ocidental foi a emancipação feminina. Mas os fundamentalistas, em sua luta contra o espírito contemporâneo, tendem a enfatizar a igualdade de gêneros como uma ameaça a repelir. Parece ter surtido efeito. Onde quer que governantes modernizadores tenham tentado banir o uso do véu em países islâmicos, as próprias mulheres passaram a adotá-lo em maior número, com um fervor redobrado. Em 1935, os soldados do xá Mohammad Reza Pahlavi dispararam contra centenas de manifestantes desarmados que protestavam contra o uso obrigatório de trajes ocidentais. Desatinos desse tipo acabaram transformando o véu, cujo uso até então não era disseminado, num símbolo da integridade islâmica. Muitos muçulmanos hoje clamam que, enquanto a moda ocidental é sinônimo de riqueza e privilégio, as vestimentas islâmicas enfatizam o igualitarismo contido nos capítulos do Alcorão, conhecidos como suratas.
7. CIÊNCIA E FÉ SÃO EXCLUDENTES
Não. Elas apenas operam em dois planos distintos, que, até o século XIX, eram vistos como complementares. “Fé e razão são duas asas pelas quais o entendimento alça voos em busca da verdade”, diz dom Dimas, citando uma passagem da encíclica Fides et ratio (Fé e razão) , de João Paulo II. “A fé sem a ciência é ingênua”, diz. “E a ciência sem a fé, muito fria e desumana.” Enquanto a ciência avança pelas planícies da razão, a fé busca iluminar os desfiladeiros do mito. Karen deixa essa fronteira clara numa das mais belas passagens de seu livro, quando diz que a ciência pode diagnosticar o câncer – e até mesmo curá-lo –, mas não pode ajudar na consternação causada pelo diagnóstico nem ensinar a morrer bem. Para Karen, desvendar a origem do Universo não é papel da religião, e sim da ciência. A missão da religião seria nos ajudar a lidar com os aspectos da vida para os quais raramente estamos preparados, como a morte. “Como espécie, caímos facilmente em desespero se não conseguimos enxergar algum tipo de significado em nossa existência. A religião enfrenta questões que não podem ser resolvidas de uma vez por todas”, escreve Karen. É a essa magnífica e penosa tarefa que chamamos fé. O resto é razão.
CINCO ESTRADAS NA BUSCA DO SAGRADO
|
Xeque Jihad Hassan, |
|
Dom Dimas Barbosa, |
|
Rabino Nilton Bonder, |
|
Lama Padma Samten, |
|
Ed René Kivitz, |
Revista Época, 21/12/2009.
Ao contrário do que pensa o
Xeque Jihad Hassan, ninguém
nasce crendo, a crença em
deus não é "um acessório de
fábrica". Todos nascem
ateus, e cada um recebe o
ensinamento da religião de seus
pais. Se assim não fosse,
o filho do muçulmano, o do
judeu, o do cristão, o do
budista, etc., não pensariam
diferente. Mas, a
realidade incontestável é que o
filho do judeu acredita em Yavé,
o filho do muçulmano tem certeza
de que o verdadeiro deus é Alá,
o filho do cristão não têm
dúvida de que Jesus que morreu
pelos seus pecados, enquanto o
filho do budista acha isso tudo
uma bobagem.
A morte dos deuses ainda não ocorreu por completo e é um processo muito lento, dada a grande desinformação ainda existente entre a maioria da população, mas gradativamente está ocorrendo. Ao contrário do que afirma a autora, embora ainda existam muitos movimentos religiosos, o número de religiosos vem caindo nesses últimos tempos. Ver (RELIGIÕES EM NÚMEROS). E, até nos Estados Unidos está se sentido esse fenômenos (Ver RELIGIÃO EM DECADÊNCIA NOS ESTADOS UNIDOS).
Falando da violência em relação a deus, diz a autora: "Ele não. Os homens, sim." Concordamos que tudo é feito pelos homens; nenhum deus pratica qualquer violência, mas os homens o fazem em função do deus em que creem (Ver O MUNDO SOB A AMEAÇA DOS DEUSES).
Tentando negar
que religião e ciência são
excludentes, a autora dita o
Papa João Paulo II, que dizia “E a
ciência sem a fé, muito fria e desumana.”
Todavia, os exemplos que vemos
são o contrário, a Ciência é
humana, enquanto a religião é
que provoca práticas desumanas,
com abundância de exemplos na
inquisição católica e nas
práticas de
governos islâmicos da
atualidade.
A defesa da fé aí
não se baseia na existência de
um deus, mas na necessidade
humana de divindade.
Todos os defensores da fé aí apresentados procuram
justificar seu deus, porém não dão nada de concreto que
o torne uma realidade. Há muita filosofia, mas a
falta de base para o teísmo permanece.