Na
infância, no interior, ouvia muito falar da enchente de São José. Esse
santo do catolicismo seria o responsável pelas enchentes, que sempre ocorriam
nas proximidades de seu dia, 19 de março. É a tendência humana de atribuir
a alguma coisa sobrenatural os fenômenos que não sabem explicar.
"19
de março é dia de São José e me faz lembrar a tradicional "enchente de São José"
ou "enchente das goiabas". A data marca o fim do verão e as chuvas são
esperadas como um prenúncio de fartura e felicidade.
Segundo dizem os antigos, se não chover no dia do santo, o ano vai ser de
pouca água, a roça não vai prosperar e a colheita vai ser fraca ...
Pelo visto não é apenas São Pedro o santo mandachuva, São José quando quer
também manda muita chuva para nós."
No mês
de março, o nosso planeta passa por um dos dos dois pontos em que o eixo da
terra está a noventa graus do
Sol, os raios do "astro-rei" incidindo verticalmente sobre a linha do equador,
daí porque, se em Belém não chove, os dias são quentes. É o equinócio de março,
quando Sol e Lua disputam a influência sobre o crescimento das marés. Se as
marés altas coincidem com chuva forte, ocorrem as costumeiras inundações,
felizmente sem maiores consequências, em uma cidade cujo ponto de maior altitude
não passa dos 14 metros. Em abril as chuvas começam a declinar, ocorrendo no dia
21 de junho o "solstício de inverno", o ponto em que a Terra se
encontra mais inclinada na direção sul. Começa então o inverno no sul e o verão
no norte.
Assim como antigos egípcios atribuíam as cheias do Nilo às
lágrimas da deusa
Ísis, os cristãos antigos não sabiam que esse excesso de água é efeito do
equinócio. Até hoje, alguns deles não acreditam que a Terra gira em torno do
Sol. Preferem a autoridade da palavra divina, que diz que quem se
movimenta é o Sol: “principia numa extremidade dos céus, e até a outra vai o
seu percurso” (Salmos, 19: 4-6).
Ironicamente, São José, o padroeiro das chuvas, é o
padroeiro do Ceará, o estado brasileiro mais castigado pela seca. E o povo
ainda continua acreditando no santo!