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O FIM DA PENA DE MORTE NO BRASIL
O livro Fera de Macabu
relata o mais trágico erro judiciário da História do Brasil, ao contar o drama
pessoal de Manoel da Motta Coqueiro, o homem inocente cuja condenação à morte
acabou com a pena de morte no Brasil.
Meados do século XIX: o norte da província do Rio de Janeiro se esmera em criar
uma atmosfera digna da Corte para receber o imperador Pedro II. A aristocracia
rural tem completo controle político da região em torno de Campos dos Goytacazes,
estratégica por ser, ao mesmo tempo, potência agrícola e porto ilegal de
escravos; nela, conquistar um pedaço de terra e fazê-lo prosperar é uma tarefa
épica. Quando o imperador Pedro II visita a região, em 1847, o fazendeiro Manoel
da Motta Coqueiro e sua mulher Úrsula das Virgens Cabral são convidados para as
cerimônias em sua homenagem e o conhecem.
Cinco anos depois um crime brutal abala Macabu e revolta as cidades vizinhas.
Uma família de oito colonos é assassinada em uma das cinco propriedades de
Coqueiro e Úrsula das Virgens. Todos os indícios apontam para o fazendeiro; as
autoridades policiais locais, seus adversários políticos, imediatamente o acusam
do crime.
Era um momento de grandes decisões nacionais: o Brasil acabara com o tráfico de
escravos, aprovara a primeira lei empresarial do país e promulgara a primeira
lei de terras, extinguindo o sistema de sesmarias.
A imprensa acompanha as investigações com estardalhaço e empresta a Coqueiro um
apelido incriminador - é a Fera de Macabu. A principal testemunha contra o
fazendeiro é escrava Balbina, a líder espiritual dos escravos na senzala da
Fazenda Bananal, sob cujo catre foram encontradas as roupas ensangüentadas
dos mortos. Em vez de acusada, Balbina é promovida a principal testemunha de
acusação, a despeito de a lei proibir que escravos deponham contra seu senhor.
Vítima de uma conspiração armada por seus adversários, Coqueiro é julgado duas
vezes de forma parcial e condenado à morte. Logo a condenação é ratificada pelos
tribunais superiores, e D. Pedro II nega-lhe a graça imperial. Pela primeira vez
no Brasil um homem rico e com destacada posição social vai subir à forca.
No dia 6 de março de 1855 Coqueiro é enforcado em Macaé. Na véspera do
enforcamento recebe em sua cela um padre, a quem confessa sua inocência e revela
o nome do verdadeiro mandante do crime de Macabu, que ele conhecia, mas
prometera nunca revelar de público.
No patíbulo, Coqueiro jura inocência e roga uma maldição sobre a cidade que o
enforcava: viveria cem anos de atraso. A maldição se cumprirá com rigorosa
precisão.
Pouco tempo depois do enforcamento descobre-se que o fazendeiro tinha sido a
inocente vítima de um terrível erro judiciário. Abalado, o imperador Pedro II,
um humanista em formação, decide que dali em diante ninguém mais será enforcado
no Brasil.
Em Fera de Macabu, Carlos Marchi utiliza ferramentas de repórter para
reconstituir todo o teatro do drama. Rastreia vestígios da vida de Coqueiro em
documentos primários, obtidos nos arquivos oficiais e nas paróquias e cartórios
do norte fluminense. Surpreendente é a conexão de dois encontros que o imperador
Pedro II teve com o escritor e revolucionário francês Victor Hugo, em 1877, com
o caso de Coqueiro e com a extinção da pena de morte no Brasil.
Fera de Macabu, no entanto, tem mais que o vigor do texto jornalístico: no pano
de fundo da história, os fatos reais realçam o clima de um grande romance,
repleto de intrigas, bruxarias, sonhos e tragédias.
http://www.nossacasa.net/recomeco/0024.htm
Até o fim do Império do Brasil, os réus ainda eram condenados à morte, apesar do
fato de o imperador Dom Pedro II haver comutado todas as sentenças de morte a
partir de 1876, tanto para homens livres quanto para escravos. No entanto, a
pena de morte só foi totalmente abolida por crimes comuns após a proclamação da
República em 15 de novembro de 1889. Ela não foi abolida por certos crimes
militares em tempo de guerra.
(Wikipédia)
São fatos como esse que mostram o risco
de se instituir pena de morte. Uma prisão perpétua pode ser revogada; mas
uma execução de pena de morte não tem retorno. E erros judiciários sempre
ocorrem.
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