A MORAL PROVISÓRIA DE JESUS
George H. Smith
(07/08/09, 10:11h)

 

As regras de moral estão relacionadas aos costumes de cada povo. Elas nos permitem viver em sociedade, minimizando os conflitos com nossos semelhantes e tornando nossa vida mais fácil. Não são perfeitas, não são absolutas e muito menos imutáveis. Variam com a ocasião, com o lugar, com a época. De um modo geral, aperfeiçoam-se com o tempo.

Diante disto, o que pensar da moral pregada por Jesus? Seria ela o padrão absoluto de excelência, conforme acreditam os cristãos?

Em primeiro lugar, não há como discutir o que Jesus disse. Os filósofos gregos, muito antes dele, debateram a fundo este assunto. Podemos concordar com eles ou não, mas, pelo menos, eles apresentaram suas razões, eles nos deram argumentos que podemos analisar.

Jesus, ao contrário, apenas nos impôs sua doutrina, arbitrariamente, sem maiores explicações, por meio de promessas e ameaças. Ele não era um moralista. Sua missão era anunciar a vinda próxima do Reino de Deus e seu preceito básico era o de que os homens devem se dedicar inteiramente a Deus se quiserem entrar no céu:

"Arrependei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo" (Mateus 04:17)

" 'Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?'
Jesus respondeu: 'Ame ao Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma, e com todo o seu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento.' "(Mateus 22:36-38).

Ou seja, seus mandamentos, em sua maior parte, se referem ao que é preciso fazer para se alcançar a recompensa em outra vida: obediência total e amor compulsório.

Não acreditar nele era o grande pecado:

"Se alguém não os receber bem, e não escutar a palavra de vocês, ao sair dessa casa e dessa cidade, sacudam a poeira dos pés.
Eu garanto a vocês: no dia do julgamento as cidades de Sodoma e Gomorra serão tratadas com menos rigor do que essa cidade." (Mateus 10-14-15).

Quando Jesus fala em ter fé, ele fala em obedecer sem discutir.

Se aceitamos algo sem analisar, mas apenas porque é o que se exige de nós, em obediência cega, renunciamos à busca da verdade, renunciamos ao uso de nossa mente. Recorrer à razão se torna um pecado.

Embora, em poucos casos, trate das relações interpessoais, sua moral pouco se importa com a melhoria da vida terrena. Isto até que faz sentido: Jesus afirmou que partiria, mas logo voltaria para estabelecer seu reino. Voltaria, de fato, enquanto "alguns dos que o ouviam ainda estivessem vivos" (Marcos 09:01).

Sua moral era uma moral provisória, a ser seguida no pouco tempo de existência que restava ao mundo.

Isto talvez explique por que ninguém se preocupou em registrar sua biografia para que os fatos chegassem às gerações futuras. Não haveria gerações futuras. Apenas décadas depois, quando seus discípulos, desiludidos, se deram conta de que ele só voltaria em futuro incerto e não sabido, é que começaram as tentativas de se produzir uma biografia.

E, como o tempo que restava à humanidade era curto, faziam sentido mandamentos do tipo "abandonar a família, os pais, a mulher e os filhos" ou "vender tudo o que se tem e dar aos pobres" (Lucas 18:22). Ou, um absurdo para os costumes da época, "deixar o pai insepulto e seguir a Jesus".

Mas ... e o Sermão da Montanha, alguns dirão? Mais uma vez, não passa de promessas a serem cumpridas numa outra vida.

Como é possível se ter uma vida digna se a gente dá a outra face a quem nos bate, se a gente também entrega a camisa a quem nos pediu o casaco, se a gente anda duas milhas quando alguém nos manda andar uma?

Temos, é claro, a "Regra de Ouro", mas ela nada tem de original. Foi enunciada por Confúcio 500 anos antes de Cristo e já fazia parte da Lei, como o próprio Jesus afirma em Mateus 07:12.
Ou "ama teu próximo como a ti mesmo" (Mateus 22:39), que é uma cópia de Levítico 19:18.

Além disto, era uma moral sectarista, limitada às "ovelhas perdidas de Israel", e o resto da humanidade que se danasse (Marcos 04:10-12, 13:22 e 13:27 ou João 06:37, 44 e 65 ou 17:02 e 06).

Isto fica claro neste trecho:

"Jesus enviou os Doze com estas recomendações: "Não tomem o caminho dos pagãos, e não entrem nas cidades dos samaritanos. Vão primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mateus 10:05-06)

Ou neste, embora, mais adiante, ele pareça se arrepender da própria grosseria:

"Jesus respondeu: 'Eu fui mandado somente para as ovelhas perdidas do povo de Israel'. Mas a mulher, aproximando-se, ajoelhou-se diante de Jesus, e começou a implorar: 'Senhor, ajuda-me'
Jesus lhe disse: 'Não está certo tirar o pão dos filhos, e jogá-lo aos cachorrinhos'" (Mateus 15: 24-26)

Para piorar, alguns dos mandamentos de Jesus são absurdos, já que exigem que eliminemos nossos sentimentos: "não olhar para as mulheres com desejo" (Mateus 05:27-28) ou "não sentir raiva do irmão" (Mateus 05:21-22). Ora, podemos controlar como reagimos a nossos sentimentos, podemos controlar nossas ações, mas não podemos anular nossos sentimentos mais íntimos sem anular nossa personalidade. Entretanto, Jesus declara que até os sentimentos são pecaminosos. Para seguir a Jesus, temos que destruir aquilo que somos, sentimos e pensamos.

Inversamente, ele nos ordena "amar a Deus" e "amar ao próximo", como se sentimentos pudessem ser ligados ou desligados voluntariamente. Sentimentos surgem a partir de valores que observamos nas pessoas. Se não os observamos, como fazer para despertar esses sentimentos sem mentir para nós mesmos? Mas Jesus não nos dá essas respostas, apenas nos ameaça com castigos eternos se não obedecermos.

Como podemos nos tornar "mansos e humildes" a não ser destruindo nossa autoestima e nossa vontade própria? Por medo do castigo?

Como é possível se construir uma civilização se o sofrimento é uma virtude, se a prosperidade e a felicidade são condenáveis?

"Felizes de vocês se os homens os odeiam, se os expulsam, os insultam e amaldiçoam o nome de vocês, por causa do Filho do Homem. Alegrem-se nesse dia, pulem de alegria, pois será grande a recompensa de vocês no céu, porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas. Mas, ai de vocês, os ricos, porque já têm a sua consolação! Ai de vocês, que agora têm fartura, porque vão passar fome! Ai de vocês, que agora riem, porque vão ficar aflitos e irão chorar!" (Lucas 06:22-25)

Fica claro que estes eram mandamentos para os poucos anos que ainda restavam ao mundo, e não um guia moral para uma civilização que se estenderia por muitas gerações, indefinidamente.
Sua validade é questionável.

Inspirado em "Atheism-The case against God", por George H. Smith.

Inspirado em “Atheism-The case against God”, por George H. Smith. (http://fernandosilva.multiply.com/journal/item/40)

 

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