Como conheci as profecias de São Malaquias há poucos anos, eu não
sabia que sua interpretação tinha sido refeita uma vez. Hoje, quando fui ver o
que havia a respeito na internet, encontrei a mais interessante das explicações.
A profecias do fim do mundo, por serem conhecidas há muito tempo, já foram interepretadas de dezenas ou centenas de modos diferentes. Mas a de São Malaquis,
por ser nova, parece que já teve só uma redefinição. Mas tudo se reencaixou
perfeitamente no passado. É o que informa Mario Jorge Dourado.
"São Malaquias (em irlandês antigo: Malachy Máel Máedóc Ua
Morgair; em irlandês moderno: Maelmhaedhoc O'Morgan) nasceu em 1094 na Irlanda.
Ainda na adolescência tornou-se abade de Armagh. As suas visões começaram em
1139 na sua primeira viagem a Roma. Foi canonizado em 1199 pelo Papa Clemente
III." (Wikipédia).
"Dentro desse contexto religioso e fim-de-mundista, uma das profecias mais
interessantes que conheço é a atribuída a São Malaquias. Ele não teria previsto
o fim do mundo - previu apenas a lista de papas. Para cada Papa, desde Celestino
II no ano de 1143 até Pedro II, o último papa, São Malaquias escreveu - ou teria
escrito - um título em latim seguido de uma pequena frase para definir seu
pontificado. É uma profecia interessante, pois envolve a própria religião com o
aspecto de fé intrínseco às profecias, e ainda prevê o fim do mundo de uma forma
indireta - com o fim da lista de papas.
Conheci a profecia de São Malaquias no início dos anos 70, quando o Papa
Paulo VI, cada vez mais velho e doente, passou a ser figura obrigatória nas
profecias de final de ano. "O Papa terá sérios problemas de saúde em 1972,
podendo inclusive vir a falecer", já diziam alguns profetas de fim de ano. "O
Papa terá sérios problemas de saúde em 1973, podendo inclusive vir a falecer",
insistiram no ano seguinte. "O Papa terá sérios problemas de saúde em 1974,
podendo inclusive vir a falecer", e assim foi até finalmente acertarem a morte
do Papa em 1977.
A profecia de São Malaquias era muito clara, pelo menos para as
interpretações da época. "Pastor et Nauta" era o título que definia
Paulo VI.
Pastor e navegante. Uma unanimidade - Paulo VI era, na época, o papa que mais
tinha viajado em todos os tempos, levando a fé a vários lugares do mundo. Um
verdadeiro "pastor et nauta" como previra São Malaquias. Antes dele, "Pastor
Angelicus", o título do Papa João XXIII, era outra unanimidade. Um papa de
muita paz, devoto da Virgem Maria. "Fides Intrepida" (Fé Intrépida) definia
Pio XII, que fora papa durante toda a Segunda Guerra Mundial e início dos
anos 50. "Religio Depopulata" (Religião Despovoada) definia muito bem Pio XI,
papa de 1922 a 1939, período de ascensão do comunismo, nazismo e fascismo,
outro acerto de São Malaquias.
Os papas futuros seriam poucos. "Flos Florum" seria o sucessor de Paulo VI.
Todos apostavam em um francês, pois o cardeal francês Jean Villot era figura
importante no Vaticano na época, e a frase completa de São Malaquias falava em
pátria e lírio (símbolo da monarquia francesa) - "eis a flor das flores, eis o
lírio coroando as virtudes santíssimas da pátria, as quais foram preditas no
Senhor". Depois do francês viria o "De Medietate Lunae" (Da Metade da Lua),
que todos apontavam como sendo o papa na época na invasão muçulmana na Europa.
Em seguida viriam o "De Laboris Solis", "De Gloria Olivae" e
finalmente o "Petrus Romanus", apontado como o último papa. E aí, fim do
mundo.
Na sucessão de Paulo VI, a surpresa - nada de francês. Veio o simpático Papa
João Paulo I, que não tinha nada a ver com lírio ou França para ser o "Flos
Florum", e morreu em 33 dias. E as especulações sobre um possível papa de origem
síria ou qualquer coisa do gênero para ser o "De Medietate Lunae" foram
desfeitas com a eleição do polonês Karol Wojtyla para Papa João Paulo II.
Tempo: alguns anos. Passou toda a década de 80, toda a década de 90, novamente
pesquiso alguma coisa sobre profecias na virada de 2000. E vejo que São
Malaquias continua firme e forte.
Mas agora houve uma mudança. Um deslocamento. Um "shift" papal, para ser um
pouco mais pedante.
O sucessor de Paulo VI não seria o "Flos Florum", mas sim o "De Medietate Lunae".
João Paulo I é que teria sido o "De Medietate Lunae" porque seu pontificado
durou 33 dias - de uma meia-lua para a meia-lua seguinte. Nada a ver com
muçulmanos e coisas assim.
João Paulo II foi definido como "De Laboris Solis", um Papa trabalhador,
lembrando o sol dos campos poloneses e similares.
Paulo VI foi redefinido. Não é mais "Pastor et Nauta", mas passou a ser o "Flos
Florum". Descobriram alguma ligação com o lírio, parece que tem um lírio no seu
brasão ou alguma coisa parecida com lírio.
João XXIII deixou de ser "Pastor Angelicus" e virou "Pastor et Nauta". Apesar de
quase não ter viajado. Mas como ele foi bispo de Veneza durante alguns anos, a
definição se encaixa, afinal deve ter andado bastante de gôndola para poder ser
"nauta". E "pastor", ninguém discute.
Pio XII virou "Pastor Angelicus". Serve, pois todo papa é pastor, e de algum
modo tem devoção pela Virgem Maria. Pio XI virou "Fides Intrepida". E assim
sucessivamente até encontrarem algum papa duvidoso no passado (houve casos de
mandatos-tampão e papas não eleitos no passado), caraterizarem-no como merecedor
de uma frase de São Malaquias para ser criado o "shift" papal e poderem acertar
a interpretação da profecia.
Acho até que ficou coerente, "De Medietate Lunae" para o João Paulo I, e "De
Laboris Solis" para João Paulo II - especialmente o João Paulo II do início do
papado, rosadão, queimado de sol, alpinista, esquiador. Mas fico impressionado
como se muda assim uma interpretação de profecia e fica tudo bem. As definições
antigas, de Paulo VI, João XXIII, os três Pios, que eram consideradas coerentes,
foram simplesmente mudadas para o papa anterior e pronto, arrumaram pontos de
explicação e a profecia continuou valendo. Foram inclusive descobertos textos
antigos mostrando que a interpretação correta tinha sido sempre esta, o "Pastor
et Nauta" para Paulo VI é que fora um erro grosseiro.
Pensando bem, a profecia de São Malaquias vale para quaisquer papas. Se
cidade onde morou, flor do brasão e acontecimentos gerais servem para
caracterizar que a profecia se cumpriu, então com um pouco de pesquisa,
praticamente qualquer papa deve atender a qualquer frase atribuída a São
Malaquias.
Não sei quando essa profecia apareceu pela primeira vez. Mas, muito
provavelmente, deve ser um texto conhecido no máximo há uns 100 ou 200 anos. Não
acredito que estejam há mil anos com o texto na mão acompanhando e ticando a
profecia a cada papa que surge. Meu palpite - sou completamente cético, como
todo bom Taurino - é que alguém escreveu essas profecias há uns 100 ou 200 anos,
e calculou mais ou menos para o último papa, o Pedro II, cair perto do ano 2000
- o ano que sempre foi tido como o do Fim dos Tempos. Mas como os papas mais
recentes têm tido pontificados maiores e elevaram a média papal (apesar dos 33
dias de João Paulo I) - Pio XI ficou 17 anos, Pio XII 19 anos, Paulo VI 16 anos,
João Paulo II completou 24 anos em 2001 - acabou errando o cálculo. Dessa forma,
ainda temos além de João Paulo II como "De Laboris Solis", o papa "De Gloria
Olivae" para finalmente entrar o "Petrus Romanus", o presumido último papa.
Quem viver mais dois papas, verá se o "Petrus Romanus" vem mesmo para fechar a
lista, ou não”.
(*) Mario Jorge Dourado é carioca, casado, tem 44 anos, 3 filhos e - entre
outras coisas - adora escrever, a maioria das vezes sobre bobagens e temas
absolutamente irrelevantes para a história da humanidade.
<http://www.umacoisaeoutra.com.br/cultura/shift.htm>
Sabemos que o terceiro segredo de Fátima previa coisas horríveis para acontecer
até o ano 2000 e nada aconteceu; depois, como esse segredo ainda era muito
secreto mesmo, foi mudado para apresentação depois de 2000. As profecias
bíblicas, essas têm tantas interpretações, que é até difícil lembrar. As de
Nostradamus que marcaram datas caíram, mas muitos ainda são consideradas
verdadeiras. Agora, ainda restam alguns anos para São Malaquias. O papa João
Paulo II, que deveria morrer antes do final de 2002, assim como o Paulo VI,
continua sobrevivendo ao fim previsto. Vamos ver se os próximos viverão tanto. E
o fim sempre está próximo."
Obs.: Esse texto foi escrito em 2004. A imagem dos papas
foi adicionada em atualização em 2014, já com mais um papa. Agora, desde
2013, já temos o Petrus Romanus, o argentino descendente de italianos. O mundo
católico está quase no fim. rs
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