SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO E A CONFUSÃO

 

Na madrugada deste dia, segundo o Cristianismo, Jesus, o filho de Deus, foi preso pelo seu próprio povo, que o entregou às autoridades romanas, que o crucificaram, de acordo com a vontade de seus conterrâneos, os judeus.  Além da ausência de qualquer informação fora do meio cristão sobre tal fato e tal pessoa, as informações dos evangelhos (únicas existentes) são bastante incongruentes.   Até mesmo a hora da crucifixão é informada de forma contraditório pelos evangelhos. Em quase nada dos relatos sobre Jesus há unanimidade entre os evangelistas.
 

O ANÚNCIO DA TRAIÇÃO DE JUDAS

 

Jesus teria anunciado que seria traído por um de seus próprios discípulos.  O momento exato é contraditório.   Um evangelista informa ser no início da ceia, e o outro afirma ser no final da ceia; outro já diz que foi bem depois, após Jesus lavar os pés dos discípulos.


PRISÃO DE JESUS

 

Segundo o Evangelho de Mateus, Judas Iscariotes, um dos discípulos de Jesus, em troca de trinta moedas, o entregou aos principais sacerdotes (Mateus, 26: 14-49), que o levaram ao Sinédrio (tribunal judaico) para o condenar (Mateus, 26: 57-60).  Consideraram-no digno da pena de morte por declarar-se filho de Yavé (o deus dos judeus) (Mateus: 26: 63-68).     


 

PEDRO NEGA JESUS

 

Segundo o evangelho de Mateus, o apóstolo Pedro negou sua relação com Jesus por três vezes antes que o galo cantasse, ocasião em que ele lembrou que isso havia sido previsto por Jesus (vers. 69-75). 

 

Já segundo Marcos, o galo já teria cantado uma vez, e a terceira negativa de Pedro antecedeu o segundo cantar do Galo (Marcos, 14: 68, 72). 

 

É apenas uma das muitas incongruências entre os relatos sobre Jesus.


 

CONDENAÇÃO
 

Afirma o evangelho de Marcos que havia um costume judeu de libertar um condenado por ocasião páscoa (Marcos,15: 6), e Pilatos ofereceu uma oportunidade de Jesus ser libertado, mas os judeus preferiram que soltasse um homicida chamado Barabás (Marcos,15: 7-11).   


 

A HORA DA CRUCIFIXÃO

 

A que hora Jesus teria sido crucificado?

 

Segundo Marcos, Jesus foi crucificado por volta da hora terceira, equivalente às nove horas do nosso calendário, uma vez que o dia judeu era composto de doze horas de noite mais doze de dia, terminando ao por do sol.   E Mateus não informa a hora, mas dá a entender que foi mesmo na parte da manhã. 

Todavia, segundo o Evangelho de João, ao meio dia ele ainda não havia sido crucificado: "E era a parasceve [sexta feira] pascal, cerca da sexta hora; e disse aos judeus: Eis aqui vosso rei. Eles porém clamaram...crucificai-o" (João 19:14-15).   


 

OS DOIS LADRÕES

 

Outro episódio contraditório é a referência a dois ladrões crucificados junto com Jesus. 

 

Segundo Mateus, as autoridades e o povo escarneciam dele e "O mesmo lhe lançaram em rosto também os salteadores que com ele foram crucificados" (Mateus, 27, 44).

 

Entretanto, o relato de Marcos diz que só um dos ladrões blasfemava contra ele, e o outro, arrependido dos próprios delitos, o repreendia. Assim diz o evangelho: "Então um dos malfeitores que estavam pendurados, blasfemava dele, dizendo: Não és tu o Cristo? salva-te a ti mesmo e a nós. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça; porque recebemos o que os nossos feitos merecem; mas este nenhum mal fez. Então disse: Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino".(Lucas, 23: 39-42).

 

E essa é apenas mais uma das diversas contradições que encontramos dentro dos quatro evangelhos.


 

TREVAS SOBRE TODA A TERRA

 

Entre a crucifixão e a morte de Jesus, dizem dois dos evangelhos que ocorreu uma escuridão sobre toda a terra, que durou três horas (Mateus, 27: 45; Lucas, 23: 44). 

 

Seria um fenômeno para ser visto por bem mais da metade do mundo. Todavia, nem naquele lugar, os que registravam os eclipses e outros fenômenos viram nada semelhante.  Só os cristãos falaram dessas "trevas sobre toda a Terra".  Ademais, se tivesse ocorrido uma escuridão por três horas, mais da metade do globo terrestre teria presenciado o fenômeno. Como em nenhum lugar no mundo se viu isso essa escuridão, é de se deduzir que é mesmo lenda.


 

AS ÚLTIMAS PALAVRAS DE JESUS

 

Quais foram as últimas palavras de Jesus? Os evangelistas discordam muito também nesse pormenor.


MATEUS:“Cerca da hora nona, bradou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactani; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Alguns dos que ali estavam, ouvindo isso, diziam: Ele chama por Elias. E logo correu um deles, tomou uma esponja, ensopou-a em vinagre e, pondo-a numa cana, dava-lhe de beber. Os outros, porém, disseram: Deixa, vejamos se Elias vem salvá-lo. De novo bradou Jesus com grande voz, e entregou o espírito” (Mateus, 27:46-50).

LUCAS:“Jesus, clamando com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isso, expirou” (Lucas, 23: 46)

JOÃO: “Então Jesus, depois de ter tomado o vinagre, disse: está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” (João, 19: 30). 


Marcos é coerente com Mateus (Marcos, 15: 34-37).

O relato de Mateus não informa com muita ênfase. “Eli, Eli, lama sabactani” não teriam sido necessariamente suas últimas palavras. “De novo bradou Jesus com grande voz” parece dizer que ele repetiu as palavras anteriores; mas até poderíamos admitir que bradar de novo poderia ser proferindo outras palavras.

Todavia, Lucas e João apresentam especificamente sua palavras, mas não são as mesmas: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” são suas palavras finais segundo Lucas. Para João foram: “está consumado”.

A referência às últimas palavras é mais uma prova de que essas pessoas não ouviram as últimas palavras de um indivíduo crucificado, mas um as tirou de algum mito, e outro as copiou de outro.  Se um não disse a verdade, como podemos crer que o outro tenha dito? Se parte da Bíblia não é verdadeira, não se pode afirmar com certeza que outra parte o seja.


 

AS RESSURREIÇÕES


Após as três horas de escuridão, informam os evangelhos mais outro fato desconhecido:

 

"E eis que o véu do santuário se rasgou em dois, de alto a baixo; a terra tremeu, as pedras se fenderam, os sepulcros se abriram, e muitos corpos de santos que tinham dormido foram ressuscitados;  e, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e apareceram a muitos. (Mateus, 27: 51-53). 

 

Esse seria o fato a provocar maior tumulto.  Você já imaginou seu conhecido morto que você viu ser sepultado aparecer e aproximar-se de você no meio da rua?  Se você não tivesse um desmaio, você iria mostrar o fato a outras pessoas e isso inevitavelmente chegaria ao conhecimento público.  Todavia, ninguém registrou pelo menos que alguém tivesse dito que isso acontecera.  Só os evangelhos, muitos anos depois, dizem que aconteceu.
 

Ninguém fora do cristianismo até muitas décadas depois da época apontada pelos evangelho ouviu falar sobre tais acontecimentos.  Isso, aliado às diversas contradições entre os evangelistas, justifica a dedução dos historiadores atuais de que são mitos criados muito tempo depois do período em que dizem que Jesus viveu e morreu.

 

A seguir: A CEIA E O TRAIDOR
 

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