COTAS CONTRA RACISMO? TALVEZ DE PROMOÇÃO DO RACISMO
A nossa
Constituição preconiza a igualdade sem distinção de qualquer natureza, inclusive
"cor"; mas a política atual é de fazer distinção em razão da cor da pele, o que
tende a acirrar o racismo.
"Edson Santos -
Cotas contra o racismo
Por Daniel Santini
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O ministro-chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial, Edson Santos, afirma que o programa de cotas raciais é a principal
ferramenta no combate ao racismo no Brasil. Adotada em 23 universidades
federais, 25 universidades estaduais e três centros federais de educação
tecnológica, a política oficial de reserva de vagas para negros foi contestada
no Senado Federal no começo do mês. Nesta entrevista exclusiva, ela é defendida
pelo ministro, que lembra que os negros representam 49,5% da população e diz que
são necessárias mais ações afirmativas para diminuir as desvantagens em relação
aos brancos. Santos também fala da dívida histórica da sociedade com
descendentes de escravos e lamenta dificuldades na regularização das terras dos
quilombolas.
1 – A
criação de cotas raciais em universidades brasileiras já dá resultados?
Sim. Hoje, temos não apenas o aumento do número de negros nas universidades, que
já é o maior da história, mas também a democratização do sistema educacional.
Antes, sempre foi reservada uma educação de inferior qualidade aos negros e
pobres, enquanto o essencial dos recursos materiais, humanos e financeiros
eram reservados a um pequeno contingente da população que detém a hegemonia
política, econômica e social.
2 – No Senado, o senhor encontrou resistência de parlamentares que defendem
cotas sociais (baseadas na desigualdade) em vez de raciais. Como vê essa
possibilidade?
As ações afirmativas, dentre as quais se inclui a política de cotas, surgem para
reparar fatores que impediram a plena emancipação dos negros no período
pós-abolição. Não houve reforma agrária que garantisse acesso à terra, tampouco
foi assegurado acesso à educação. Os negros permaneceram excluídos. Neste
sentido, defendo que ao lado de todas as outras medidas para facilitar o acesso
dos mais pobres à educação tenhamos medidas com recorte racial.
3 – Diferenciar pessoas pela cor, ainda que para beneficiar um grupo
historicamente excluído, não é racismo?
O direito internacional não considera discriminação racial as medidas tomadas
com o propósito de assegurar o progresso de grupos étnicos que necessitem de
proteção para o gozo de direitos humanos, desde que tais medidas não conduzam à
manutenção de direitos separados e não prossigam após terem sido alcançados os
objetivos. É uma política que, ao tratar de maneira desigual os desiguais,
avança no caminho da justiça social.
4 – O senhor acredita que os brasileiros ignoram que existe sim racismo no
País?
Sim. Muitos ainda acreditam que o Brasil é uma “democracia racial” ou acham que
os males atingem apenas um pequeno grupo, quando, na verdade, causam prejuízos a
cerca de metade da população. Um exemplo: entre os brancos, 14% são pobres. O
número sobe para 33% entre os negros. A renda mensal per capita do
trabalhador negro equivale à metade da do branco.
5 – Quais as políticas prioritárias do Governo contra o racismo?
As mais relevantes dentre as políticas de promoção da igualdade racial são as
voltadas à redução das desigualdades no sistema educacional. A educação é o
melhor instrumento para transformar a realidade, em especial a dos jovens das
favelas e periferias. O jovem negro é a maior vítima e também o maior agente da
violência urbana, o que ocorre, principalmente, devido à falta de oportunidades
de educação, que lhe permitiriam acesso ao conhecimento, aos direitos da
cidadania e ao mercado de trabalho. Desenvolvimento significa ampliar fronteiras
da cidadania para além dos limites consagrados pelo privilégio, impostos por
injustiças sociais e econômicas.
6 – Como o senhor vê as críticas à Secretaria no Congresso Nacional de Negras
e Negros (CONNEB)? Militantes chegaram a comparar a pasta a uma “Ferrari sem
gasolina”.
Esta crítica, que certamente não é compartilhada por todos do CONNEB, deve-se
principalmente à incompreensão do verdadeiro papel da pasta. A Secretaria não
executa uma atividade final, fazendo obras ou empreendendo ações diretas, o que
frustra a expectativa de alguns segmentos. Atuamos de forma transversal,
formulando políticas que serão executadas por outros ministérios.
7 – E como estão os quilombolas?
É comum a associação de quilombos a algo restrito ao passado, que teria
desaparecido com o fim da escravidão, mas a verdade é que as comunidades
remanescentes existem em praticamente todos os estados. Tradicionalmente, os
quilombos eram afastados dos centros urbanos e em locais de difícil acesso. Por
isso, existe uma grande dificuldade em se obter informações precisas e tornar
amplo o conhecimento da população sobre as comunidades remanescentes. Esse
isolamento, porém, garantiu a sobrevivência de grupos organizados com tradições
e relações territoriais próprias, formando uma identidade étnica e cultural que
deve ser respeitada e preservada.
8 – A demarcação de terras destes grupos tem sido respeitada?
Infelizmente, a questão do acesso à terra ainda é muito complicada no Brasil.
Para garantir o direito dos quilombolas às terras que ocupam, é preciso se
contrapor a grupos que não querem dividir a terra com ninguém. O aumento da
violência no campo e a enxurrada de ações judiciais são provas disso.
9 – Como o senhor vê a eleição do primeiro presidente negro dos Estados
Unidos?
Ter um presidente negro no país que é referência no mundo afeta o imaginário da
população de todo o planeta. Isso não quer dizer que haverá mudanças radicais no
comportamento para com outros povos, porque existem outros condicionantes sob os
quais está colocado o presidente dos Estados Unidos, mas é positivo para o
Brasil, país com maior população negra do mundo depois da Nigéria. É positivo em
função do simbolismo que encerra.
10 – A Pond´s comercializa um creme para “embranquecer” gente. Publicamos
reportagem criticando o produto e um leitor contestou comparando a mudança a
“tingir o cabelo”. Como vê isso?
De forma muito negativa. Embranquecimento remete a uma ideologia aplicada após a
abolição da escravidão, sob inspiração de ideais europeus pouco afeitos ao
humanismo." (Folha Universal, 19/04/2009, pag. 3).
O ministro não
pensa em uma coisa: "Essa política de 'cotas raciais' pode desqualificar a imagem, profissional e
intelectual, de servidores públicos, estudantes ou artistas negros - pois estes
estarão sujeitos à maledicente insinuação de que não teriam obtido sucesso sem o
favorecimento compulsório. Dessa forma, em tempos de grande competitividade e
disputa por postos de trabalho, as "cotas raciais" poderão representar um
perigoso estímulo ao preconceito. E, o pior é que, sob o pretexto de favorecer
(materialmente) uma comunidade injustiçada, essa política lhe fere os valores
maiores, do orgulho e da dignidade." (Ver mais em
DISCRIMINAÇÃO INVERTIDA)
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