DEZ FATOS QUE MARCARAM OS PRIMEIROS CEM DIAS DE BOLSONARO

Os 10 fatos que marcam os primeiros cem dias do governo de Bolsonaro
Crise no MEC, aproximação com os EUA, influência dos filhos e dificuldades na relação com o Congresso estão entre acontecimentos que marcam o começo da nova administração
09/04/2019 – 23h52min
Atualizada em 10/04/2019 – 17h08min
Mateus Ferraz

Mateus Ferraz

O presidente Jair Bolsonaro chega aos cem dias de governo com dois ministros demitidos — Gustavo Bebianno e Ricardo Vélez Rodríguez — e uma proposta de reforma da Previdência considerada fundamental às contas públicas do país que recém começa a ser discutida no Congresso. Bolsonaro incentivou polêmicas como o compartilhamento do vídeo do golden shower durante o Carnaval e o atrito na relação com o Parlamento. Ao mesmo tempo, buscou aproximação com Israel e Estados Unidos, considerados parceiros estratégicos para sua gestão.


Governo Bolsonaro chega aos cem dias com dificuldades em superar obstáculos internos


1. Reforma da Previdência
Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
Guedes fez defesa da reforma na CCJ da Cãmara


Fiadora do apoio do mercado ao governo, a proposta chegou ao Congresso em fevereiro, com previsão de economia superior a R$ 1 trilhão em 10 anos. Porém, há resistências a itens do texto entre opositores e aliados, em especial, à desvinculação do Benefício de Prestação Continuada (BPC) ao salário mínimo e ao maior rigor para aposentadoria rural. Ainda, causou mal estar o atraso no envio da reforma dos militares, que incluiu aumentos salariais com a criação de gratificações.

A falta de diálogo do Planalto com o Congresso, junto a críticas de Bolsonaro à “velha política”, é alvo de reclamação entre parlamentares. Para melhorar a interlocução, o presidente foi convencido a receber caciques partidários, enquanto o ministro da Economia, Paulo Guedes, assumiu as negociações com líderes de bancadas.


2. Confusões com o Congresso
Cleia Viana / Câmara dos Deputados
Marcelo Freitas virou o relator da reforma na CCJ


A falta de prestígio junto ao governo levou a Câmara a enviar recados ao Planalto, como a derrubada do decreto que ampliava a lista de servidores autorizados a aferir a confidencialidade de documentos. Parlamentares ainda aprovaram a PEC que engessa ainda mais o Orçamento do Executivo.

Os atrasos na instalação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde tem início a tramitação da reforma da Previdência, e na escolha do relator do texto também refletiram a insatisfação da Casa.


3. Posse de armas facilitada


EVARISTO SA / AFP
Decreto sobre posse de armas foi assinado em janeiro


Primeira promessa de campanha cumprida. Bolsonaro facilitou a compra de até quatro armas a qualquer cidadão maior de 25 anos, sem antecedentes e com curso de tiro, a partir da definição de critérios claros para efetivar a liberação da posse pela Polícia Federal.

O decreto foi assinado em 15 de janeiro e recebeu críticas de integrantes da bancada da bala do Congresso, que reclamaram por não terem sido chamados para discutir a elaboração das novas regras.


4. Pacote anticrime
Marcelo Camargo / Agência Brasil
Moro apresentou proposta de alterações em 14 leis


Com foco delimitado em combate à corrupção, crime organizado e crimes violentos, o ministro Sergio Moro entregou ao Congresso seu pacote anticrime, propondo alterações em 14 leis. Entre as mudanças, está tornar regra a prisão após condenação em segunda instância.

Mas, o fatiamento da iniciativa em três projetos foi alvo de críticas, em especial, por deixar a proposta que criminaliza o caixa dois separada das outras medidas após pressão política. O pacote deverá ser votado na Câmara somente após a reforma da Previdência.


5. Aproximação com os Estados Unidos


Brendan Smialowski / AFP
Na visita aos EUA alinhamento com Trump


A aproximação envolve ações bilaterais e a promessa do presidente Donald Trump de apoiar a entrada do Brasil na OCDE, o que representaria um aval à política econômica brasileira. O uso comercial da Base de Alcântara, no Maranhão, foi assinado, embora precise passar pelo Congresso.

O alinhamento às posições americanas sobre Israel também foi adotado. Porém, houve recuo na intenção de transferir a embaixada brasileira no país, hoje em Tel Aviv, para Jerusalém, devido à expectativa de perda de mercado em países árabes. Um meio-termo foi adotado com o anúncio de um escritório comercial em Jerusalém.

O discurso crítico à Venezuela e à ditadura de Nicolás Maduro também une as nações. Os Estados Unidos pressionam para que o Brasil use força militar contra o país vizinho, o que é rechaçado por militares que integram o governo.


6. Demissão de ministro e o laranjal do PSL


Mauro Pimentel / AFP
Na primeira crise política, Bebianno acabou demitido


A primeira crise política causou a degola de um dos principais aliados de Bolsonaro. Presidente do PSL durante a campanha, Gustavo Bebianno foi demitido da Secretaria Geral da Presidência após suspeitas de que o partido havia repassado recursos para candidatas “laranjas”.

Bebianno negou irregularidades, afirmando que havia conversado sobre o caso com o presidente, então internado em recuperação após retirada de sonda gástrica. Ele foi desmentido pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) pelas redes sociais, em postagem replicada por Bolsonaro.

A crise foi iniciada após reportagem da Folha de S.Paulo indicar que a sigla repassou recursos do fundo partidário a candidatas que receberam poucos votos. As suspeitas também rondam o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG). O caso está sendo investigado pela Polícia Federal. Ao contrário de Bebianno, Antônio foi mantido no cargo por Bolsonaro.


7. Crise no MEC


Diego Rocha / AFP
Passagem de Vélez foi marcada pela falta de gestão


A segunda demissão de ministros no governo atingiu o MEC, paralisado por disputas internas. O então ministro Ricardo Vélez, que vinha exercendo a função figurativamente, foi substituído pelo economista Abraham Weintraub, próximo ao chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Weintraub é alinhado às ideias do escritor Olavo de Carvalho, que avalizou sua indicação. A ala militar do Planalto, que espera ampliar seus espaços na pasta, não gostou do anúncio. A crise no ministério ocorreu por embates entre três grupos: técnicos, militares e alunos do escritor, a quem é atribuída a carta enviada a escolas pedindo vídeos de alunos cantando o Hino Nacional. Desde então, houve 14 demissões em cargos de destaque do ministério, o que não amainou a crise.

Na área, há atrasos na implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e nas discussões do Fundeb, principal fundo de financiamento da educação básica no país, além de apreensão quanto ao formato do Enem neste ano.

8. Lives no Facebook


Facebook / Reprodução
Na Presidência, Bolsonaro manteve hábito dos lives


Instrumento utilizado durante a campanha e na primeira manifestação após ser eleito, as transmissões no Facebook voltaram à agenda de Bolsonaro em março. Todas as quintas-feiras, às 19h, ele conversa com o público ao lado de integrantes da equipe.

Nas “lives”, que tiveram cerca de cinco milhões de visualizações no mês passado, o presidente aborda diversos temas em cerca de meia hora. Ele costuma fazer anúncios — como o fim das lombadas eletrônicas no país —, além de atacar a oposição e a imprensa, em geral, por reportagens contrárias ao governo.


9. Vídeo obsceno e golden shower


Twitter / Reprodução
Mensagem foi posteriormente apagada


No Carnaval, Bolsonaro compartilhou um vídeo com nudez pública de dois homens. Um deles aparece mexendo no ânus, enquanto o outro urina em sua cabeça. Segundo o presidente, a cena seria o que o Carnaval brasileiro “tem virado”. Na sequência, questionou o que seria “golden shower”, prática de urinar em frente ou sobre um parceiro sexual.

O conteúdo dividiu opiniões. Alguns seguidores classificaram o material como impróprio. Outros defenderam, dizendo que o presidente mostrou a “realidade”. Após a repercussão, o vídeo e a pergunta sobre “golden shower” foram apagados.


10. Influência dos filhos


Famlia Bolsonaro,Flickr / Arquivo Pessoal
Os três filhos mais velhos estão atuantes no governo


A exemplo da campanha, os três filhos mais velhos de Bolsonaro seguem atuando próximo ao pai. A influência, aliada à verborragia virtual, é criticada por militares e parte dos aliados no Legislativo. O trio é inspirado pelo escritor Olavo de Carvalho.

Vereador no Rio, Carlos (PSC-RJ) é o mais ativo na internet. Foi ele quem pavimentou o caminho para a demissão do ex-ministro Gustavo Bebianno, ao divulgar um áudio do pai criticando o outrora braço direito. Ele exerce influência sobre as contas de Bolsonaro na internet.

O deputado Eduardo (PSL-SP) é entusiasta da aproximação com os Estados Unidos e desponta como chanceler informal do país. Já levou “pitos” do pai após declarações controversas. Já o senador Flávio (PSL-RJ) é visto como o “mais político” do clã Bolsonaro, mas teve a imagem desgastada após as suspeitas de movimentações atípicas em sua conta bancária.

Em fevereiro, pesquisa CNT/MDA apontou que 75,1% dos brasileiros opinaram que familiares de um presidente não devem influenciar em decisões de governo. O mesmo levantamento mostrou que 56,8% dos entrevistados acreditam que os filhos de Bolsonaro interferem nas decisões do pai no Planalto.
<https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2019/04/os-10-fatos-que-marcam-os-primeiros-cem-dias-do-governo-de-bolsonaro-cju96ft7c00br01o19cmau9tu.html>
 

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