ESTADO DEVE SER IMPARCIAL
Gaúchos removem crucifixos do Tribunal de Justiça,
a pedido das Lésbicas
Posted: 08 Mar 2012 05:37 AM PST
Tem gente que diz que isto aqui não é
um símbolo religioso. Vai entender…
Bem que me falaram que o Sul é um Brasil de primeiro mundo! Nesta terça-feira,
dia 6 de março de 2012, o Conselho de Magistratura do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul aceitou um pedido feito pela Liga Brasileira de Lésbicas e de
outras entidades da sociedade (provavelmente a ATEA também) para que fossem
retirados os crucifixos e quaisquer outros símbolos religiosos de seus prédios
públicos.
O melhor: a decisão foi unânime e vale para todo o estado do Rio Grande do Sul.
Em alguns dias, vão expedir a ordem.
O desembargador Cláudio Baldino Maciel afirmou que a Justiça precisa se
manter independente e equidistante dos valores religiosos para garantir
tratamento digno a todos os cidadãos do país, e que manter símbolos
religiosos dentro das salas de justiça brasileira não parece ser a melhor forma
de garantir essa independência. Ele também disse que o espaço público só
deve ter símbolos oficiais do Estado, para respeitar a constituição de nosso
país que é laico.
A Liga de Lésbicas havia pedido pela retirada dos símbolos religiosos em
dezembro de 2011 e havia sido recusado porque a Justiça (leia-se: os juízes da
vara) entendeu que os símbolos claramente religiosos não feriam a laicidade do
Estado brasileiro. Ela entrou com recurso em fevereiro e levou a questão ao
Conselho de Magistratura (que também deveria ser chamado de Conselho de
Maturidade).
O interessante desse caso foi que o desembargador não usou o laicismo como
justificativa — nós humanistas estamos ferrados mesmo, pregando algo tão óbvio e
que a justiça tende a descartar tão prontamente — mas sim a impessoalidade do
Estado. Dá pra ver como ele pensa lendo uma entrevista publicada no Bule
Voador.
Ele citou que, independente de se usar símbolos religiosos ou não, usar
qualquer tipo de símbolo que não o do Estado já afeta o modo como as pessoas
enxergam a justiça. Afinal, um palmeirense se sentiria à
vontade sendo julgado em um tribunal ostentando o símbolo do Corinthians?
O desembargador está certo e a questão da impessoalidade do Estado é até maior
do que a do laicismo se formos ver. O Estado pode ter alguns de seus membros
eleitos pela maioria, mas ele ainda precisa atender a 100% da população.
Ostentar símbolos ideológicos é excluir uma pessoa, e uma pessoa excluída da
justiça já é injustiça demais.
Ele também comentou que todas as pessoas podem ostentar símbolos religiosos
até mesmo em suas salas pessoais dentro dos departamentos públicos, afinal
todas as pessoas têm o direito à religião. Um juiz pode ter o crucifixo em
seu gabinete, sem problema algum. O que não pode é se ter
esse tipo de símbolo numa sala comunal, de reunião, onde várias pessoas de
credos diferentes precisam se interagir.
Muitos religiosos choram falando da tal menção de Deus no preâmbulo da
Constituição. Mas o preâmbulo não é lei. Malemá é dedicatória. A Constituição
fala sim da laicidade e do princípio de impessoalidade da administração pública.
Outros muitos religiosos choram falando de tradição. Bela aroba.
Escravatura era tradição. Nepotismo também era. A sociedade precisa
melhorar e pra isso algumas tradições precisam dar lugar à coisas importantes
de verdade.
E tem gente que chora dizendo que o crucifixo é um símbolo que não exclui
ninguém. Primeiro eu vejo se a pessoa está tentando fazer uma piada. Quando eu
paro de rir e vejo que ela não está rindo também, eu preciso lembrá-la de que a
cruz é um símbolo religioso que identifica especificamente o cristianismo.
É um símbolo religioso. Ofende sim quem não pertence ao cristianismo. É
como se o país estivesse escolhendo favoritos. E isso não é legal.
Aí aparecem pessoas como o padre César Leandro Padilha, da Arquidiocese de Porto
Alegre, que fala que remover o crucifixo vai contra o desejo da maioria e que é
um símbolo que representa um “compromisso ético”. Foda-se o desejo da maioria:
o Estado precisa respeitar todos, 100% das pessoas, e não só os cristãos.
E o crucifixo representa tudo menos ética. Lésbicas querendo ter direitos iguais
a quaisquer outras pessoas, pra casar e ter filhos, e quem é que lhes impede
senão a própria Igreja Católica?
Nunca dê ouvidos a um celibato que vive dando palpite em como as pessoas devem
se comportar sexualmente, porque sempre sai merda.
Mas nem tudo está perdido. Inácio José Spohr, professor católico jesuíta, que
coordena o programa Gestando o Diálogo Inter-Religioso e o Ecumenismo da
Unisinos, disse que é a favor da decisão do Conselho de Magistratura.
“O Estado tem de ser neutro. De fato o crucifixo contempla as religiões cristãs
e o Brasil evidentemente está se tornando um país multirreligioso.”
E como se notícia boa não bastasse, a OAB do Rio de Janeiro se manifestou e
disse que o crucifixo no Supremo Tribunal de Justiça é totalmente
inconstitucional. E vale lembrar também que o Ministério Público de vários
estados também estão na briga pedindo a retirada desses símbolos de todos os
prédios públicos do país.
http://ateusdobrasil.com.br/a/34
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