MACONHA - ESTUDOS CIENTÍFICOS PARA COMPROVAR O
QUE JÁ SE VÊ
26/04/2003
Os cientistas têm por princípio
afirmar uma coisa só depois de comprovação muito bem fundamentada. É que estão
fazendo para desfazer a idéia que muitos tentam passar sobre a maconha.
“A maconha é tolerada pela sociedade e apresenta um certo charme em determinadas
camadas sociais, mas é mais perigosa do que parece”, afirma o psiquiatra
brasileiro Carlos Zubaran, um dos coordenadores do estudo. E faz o alerta: “Ela
não pode mais ser considerada uma droga leve”.
A pesquisa está em andamento, e os primeiros resultados, apesar de polêmicos,
são significativos. Os bastidores são dignos de figurar em um reality show. Os
usuários são escolhidos a partir de anúncios no Village Voice, jornal de alta
circulação no Village, bairro de Nova York freqüentado por boêmios e conhecido
pelos costumes liberais. Uma vez selecionados, eles recebem US$ 2 mil para
permanecer 21 dias em quatro apartamentos. Nesses aposentos, individuais e
ligados a uma sala comum, são vigiados em tempo integral por câmeras de vídeo.
Por dia, em horários estabelecidos, fumam quatro baseados. Os voluntários
recebem os cigarros já enrolados. As instruções são transmitidas por
alto-falantes. “Inspirem”, é a primeira ordem. “Exalem”, é o comando final. A
operação se repete várias vezes e dura três minutos.
Nos quatro primeiros dias do estudo, os pacientes fumam cigarros com uma
concentração de 3% de THC, o princípio ativo da Cannabis sativa. Nos quatro dias
seguintes, consomem placebos – ou seja, o cigarro tem a aparência e o aroma do
original, mas sem o princípio ativo. E assim alternadamente. Os voluntários não
sabem quando estão inalando uma coisa ou outra. Em intervalos regulares,
respondem a extensos questionários sobre a capacidade de concentração e o estado
de ânimo em que se encontram naquele momento. No tempo livre, podem ler ou jogar
videogame. Sem contato com o mundo exterior, como telefone ou internet, um em
cada quatro voluntários costuma desistir. Casos extremos de descontrole já foram
registrados. “Quando estão em abstinência, alguns ficam bastante agitados e
chegam a destruir móveis”, conta Zubaran.
A pesquisa começou há três anos, sob a coordenação da psiquiatra americana
Marian Fischman, autorizada a ministrar drogas a seres humanos de maneira
controlada e para fins científicos. Com a morte da psiquiatra, no ano passado,
continuou a ser tocada por um grupo de sete estudiosos. Eles já cravaram:
maconha vicia mesmo. Mais de 40 casos de dependência foram registrados. E
prosseguem as experiências, agora com o propósito de descobrir um processo capaz
de interromper o ciclo de dependência. Os relatos vêm sendo publicados em
revistas científicas como Nature e Psichopharmacology.
SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA
Na falta da droga, os dependentes podem apresentar uma série de sintomas. Os
principais são: • irritabilidade• ansiedade• dificuldade para dormir• falta de
apetite• dor de estômago• depressão (Fonte: Universidade Columbia)
O estudo deve gerar ainda discussões intermináveis no meio científico e na
sociedade. Os pesquisadores da Columbia acreditam que os relatos serão avaliados
pela Associação Americana de Psiquiatria na próxima revisão de critérios de
diagnóstico de drogas. Atualmente, a entidade classifica a maconha como droga
leve – ou seja, não causa dependência química nem síndrome de abstinência. A
rigor, uma mudança de categoria equivaleria a dizer que, em termos médicos, a
maconha estaria no mesmo patamar da cocaína e da heroína – estas sim drogas
ilícitas, de efeitos devastadores – e seria também uma substância mais nociva
que o álcool e o tabaco, produtos legalizados e vendidos com autorização
governamental no mundo inteiro.” (Época, Edição 216 - 08/07/2002).
Quem convive com pessoas que usam a droga normalmente não tem dúvida de que ela
é muito prejudicial à saúde. Mas os cientistas gostam de eliminar qualquer
dúvida e estão analisando mais profundamente para confirmar o que não é tão
difícil de perceber.
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