NÃO HÁ CRIME DE PEDOFILIA, MAS DE ABUSO SEXUAL CONTRA MENORES?
(17/05/2009)
O artigo abaixo traz um definição incomum para pedofilia.
Mestre em Direito Processual pela USP, advogado,
professor da Academia de Polícia "Dr. Coriolano Nogueira Cobra" de São Paulo e
da Faculdade de Direito de Guarulhos e ex-presidente da Associação dos Delegados
de Polícia
Ensinam
os filólogos que as palavras têm origem própria e devem ser empregadas em seu
sentido específico. No que tange ao Direito, essa regra se faz essencial, para
evitar falhas e sedimentação em prejuízo da sociedade. Por isso, chama-nos a
atenção o desfoque que se vem dando às palavras pedofilia e pedófilo,
procurando fazê-las ligadas a crimes contra crianças. Na verdade, pedofilia
não é crime, e quem a pratica não é criminoso. Por outro lado, aquele que
abusa de crianças ou pratica atos lascivos com menores, ou os corrompe, não pode
ser apontado como pedófilo. Quem assim age é criminoso, por infringir
artigos do Código Penal e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), mas não
é pedófilo.
Palavra
de origem grega, pedofilia é a "qualidade ou sentimento de quem é
pedófilo", e este adjetivo designa a pessoa que "gosta de crianças".
Assim, todo pai, toda mãe, os avós, os tios e quantos mais gostem de crianças
são pedófilos, mas não são criminosos. Porém, o substantivo pedofilia
e o adjetivo pedófilo, por uso irregular dos meios de comunicação, vêm se
tornando costumeiros na acepção de infrações penais contra crianças,
particularmente, ligadas a questões de sexo e outros abusos nessa área. De tanto
serem lidas, ouvidas e/ou assistidas nesse sentido, acabam tais palavras por
serem assimiladas, pelas pessoas comuns, como verdadeiras. Fala-se de
pedofilia como "crime" praticado por pedófilo!
Parece
que isso começou, alguns anos atrás, quando a imprensa trouxe notícias do cantor
Michael Jackson, que teria dito "gostar muito de crianças e até dormir com
elas", deduzindo os jornalistas, pela fama do astro do rock, que tal
envolvimento era pouco ético... Então, alguém escreveu que "gostar de crianças"
era pedofilia, levando essa palavra, de significado verdadeiro, à
condição de "crime".
De
algum tempo a esta parte, a tomar por base o noticiário da imprensa escrita e
mesmo da mídia televisiva, erroneamente tem-se a impressão de que o indivíduo
que usa de crianças para suas fantasias imorais ou delas abusa para fins
libidinosos, ou outra forma de corrupção, estaria praticando a pedofilia
e, portanto, seria um pedófilo. Mas as palavras, especialmente no
Direito, têm significado apropriado.
Nenhuma
lei pode proibir o pai, a mãe, os avós, os tios, os irmãos, os padrinhos ou
quaisquer outras pessoas de gostarem de crianças, de as amarem, porque isso é um
sentimento nobre e natural. O que não se pode permitir e deve ser punido
criminalmente e com rigor, é a prática de atos atentatórios aos bons costumes
das crianças e dos adolescentes e que firam a lei penal!
Sem
entrar em maiores indagações, conceitos ou classificações do crime,
verifica-se, na lição do jurista Von Liszt � trazida pelo saudoso professor
Basileu Garcia, que foi Catedrático de Direito Penal da Faculdade de Direito
da USP � ser ele o "acontecimento a que a legislação relaciona a pena".
Aliás, diz a Constituição Federal, no art. 5º, inciso XXXIX, que "não há
crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal".
Essa regra da anterioridade da lei é repetida no art. 1º do Código Penal
Brasileiro. Portanto, não existe pedofilia como crime, nem no Código
Penal, nem no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), mesmo na recente
alteração.
Basta
uma busca aos mestres Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Antonio
Geraldo Cunha, Antenor Nascentes, conhecedores da filologia, e, mesmo, ao
Vocabulário Jurídico, em sua última edição, do mestre De Plácido e Silva,
e não se encontrará menção à palavra pedofilia como sinônimo de crime
contra crianças. Só pode ser invenção de quem não atentou para o significado
correto da palavra, possibilitando, infelizmente, que o erro vá se perpetuando
pela repetição. Foi entristecedor ouvir em emissoras de rádio e ver em
"programas de sangue" na televisão, e até no Jornal Hoje e no Jornal da Globo,
bem como ler na revista IstoÉ e nos jornais O Estado de S.Paulo e
Folha de S.Paulo, notícias dos "crimes" de pedofilia ou praticados
por pedófilos!
Por
desconhecimento ou por deliberada intenção das chefias de redação, está havendo,
sem dúvida, desinformação ao público que, de tanto ver e ouvir o
noticiário, vai aprendendo o errado como se fora o certo. Repita-se que
pedofilia significa "gostar de crianças", "amar as crianças",
e não praticar crimes contra elas! O Código Penal, nos artigos 213, 217, 218,
227, 228, 233 e 234, bem como o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), nos
artigos 232, 241, 242 e 243, falam de crimes de que podem ser vítimas as
crianças, mas cujos eventuais autores jamais serão pedófilos.
O
jornalismo pode e deve informar, mas ter, ao mesmo tempo, a precaução
recomendada pelos manuais de redação para não desinformar, incutindo e
sedimentando como certa uma palavra que a razão e a escola nos mostram como
errada. Isso vale para todas as coisas escritas, faladas, radiofonizadas e
televisionadas, ou passadas pela "Internet" ou outros meios de comunicação.
Todos podem errar, e até a imprensa poderá fazê-lo, mas não pode permanecer no
erro.
Da
mesma forma como existem pessoas que gostam de crianças, que as amam e que, por
isso, são pedófilas, há aquelas que têm aversão às crianças, são
impacientes com elas e, desta forma, são pedófobas, sofrem de
pedofobia. Não pode a imprensa desconhecer esses rudimentos. Pedofilia, na
sua origem, é ato de amor e não é crime. Aliás, nos evangelhos, já dizia Jesus:
"Vinde a mim as criancinhas". Elas são a alegria, a sinceridade e a esperança, e
devem ser amadas e instruídas pelas pessoas de bem, para que aprendam e
pratiquem os bons exemplos, para a melhoria da sociedade como um todo.
<http://www.mail-archive.com/[email protected]/msg02545.html>
Observação: A definição de pedofilia não é apenas gostar como entende o
autor do artigo, mas gostar sexualmente, assim como zoofilia é preferência
sexual por animais. Ser pedófilo é ter um desejo sexual por
crianças. O crime é a satisfação desse desejo. Se um zoófilo não é aquele que trata bem os animais,
mas quem tem desejo sexual por animais. Por que pedófilo seria diferente?
Assim define Aurélio o termo "pedofilia": "Parafilia representada por desejo forte e repetido de
práticas sexuais e de fantasias sexuais com crianças pré-púberes"
Ver PEDOFILIA E
ABUSO SEXUAL DE MENORES
Ver mais DIREITO