OS BENEFÍCIOS DA SONECA

Tire uma soneca!!!
Pesquisadora diz que dormir durante o dia, mesmo que seja por cinco minutos, aumenta o estado de alerta, a criatividade, além de reduzir o estresse e aumentar a libido

Márcia Maria Cruz

Cochilar no volante ou durante uma reunião pode ser fatal, mas você pode tirar aquela soneca com segurança e o ato pode resultar em benefícios para a saúde. É o que garante a pesquisadora do Instituto de Estudos Biológicos em La Jolla, na Califórnia, Sara Mednick, autora do livro Take a nap! Change your life (em tradução literal, Tire um cochilo! Transforme sua vida), da Editora Workman.

Na obra, a doutora em psicologia pela Universidade de Harvard ensina como elaborar um plano para otimizar o cochilo: quando tirar, quanto tempo dormir, como levantar bem e, sobretudo, apresenta argumentos para contrapor aos que dizem que cochilo é sinal de preguiça. “Sou frequentemente questionada se um cochilo durante o dia irá interferir no sono noturno. A resposta é definitivamente não. Todos os estudos que atravessam diferentes épocas têm mostrado que a duração do sono noturno não é afetada pelo cochilo do meio dia. De fato, estudos indicam que, em diversos casos, os cochilos aumentam a habilidade de dormir à noite”, diz.

Segundo Sara, o cochilo durante o dia aumenta o estado de alerta e a criatividade, reduz o estresse, aumenta a libido, mantém uma aparência jovem, reduz os riscos de uma parada cardíaca, melhora a produtividade e a capacidade de memória. A autora lembra, porém, que algumas questões devem ser respondidas antes de se iniciar um programa de cochilo.

Quanto tempo você poderá dormir para que o cochilo seja chamado de cochilo? Segundo ela, é preciso examinar as funções do cochilo a partir de nossos ciclos naturais de sono. “Se você cai no sono por mais de dois ciclos completos, por volta de três horas, independentemente de que hora do dia ou da noite, você poderá ultrapassar o limite do cochilo, entrando no reino do sono”, diz. Se não pode ser tão longo, também não pode ser tão curto. Para ser denominado cochilo, o período precisa se estender por cinco minutos ou mais. “Esse é o ponto quando cientificamente é comprovado que o acúmulo dos benefícios começa a ser detectado”, garante.

A neurologista Marília Denise Mariani Pimenta e o psiquiatra Dirceu Valladares Neto, especialistas em medicina do sono, alertam que o cochilo durante o dia não pode substituir uma boa noite de sono. “A sonolência depois do almoço é um indicativo de que nos transformamos em uma sociedade insone”, diz Dirceu. Quando o cochilo se torna incontrolável, segundo Marília, pode sinalizar noites maldormidas. “Um sono de má qualidade poderá acarretar alterações da memória, irritabilidade, sonolência excessiva diurna, sinais e/ou sintomas semelhantes à depressão, como desânimo, cansaço, indisposição, entre outros”, alerta Marília.

Para ter uma boa noite de sono

1 - Ir para a cama quando com sono.
2 - Procurar ter horários regulares para ir dormir e acordar.
3 - Não ir dormir com fome. Evitar refeições “pesadas” e em excesso à noite.
4 - Evitar líquidos depois das 18h, principalmente os idosos.
5 - Evitar chás mate ou preto e café depois das 17h, principalmente os idosos. Chás de camomila e erva doce podem ajudar a relaxar.
6 - Evitar excesso de bebidas alcoólicas à noite.
7 - Manter o quarto arejado, sem barulho e sem claridade.
8 - Dar preferência a colchões, travesseiros e roupas de cama adequados.
9 - Evitar filmes e/ou leituras de suspense, terror ou muito interessantes, antes de dormir. Evitar discussões desagradáveis à noite. Não ir dormir com problemas: deixá-los fora da cama! Um bom hábito é anotar as preocupações e/ou problemas em uma agenda ou folha na hora de ir dormir e então deixá-los lá para serem abordados novamente no dia seguinte.
10 - Não ver TV no quarto.
11- Ler coisas amenas e agradáveis antes de dormir. Ouvir músicas suaves também ajuda a relaxar.
12 - Evitar exercícios físicos, típicos de academia, à noite. Procurar se exercitar regularmente, até as 18h: é saudável para todos, primordial para os ansiosos e faz dormir melhor. Relações sexuais são relaxantes e podem ser feitas à noite, sem prejuízo para o sono.
(Fonte: Marília Denise Mariani Pimenta, neurologista)

Qualidade evita sonolência

O desempenho diurno de qualquer pessoa está intimamente relacionado à qualidade do sono à noite. “Quando o sono não é de boa qualidade ou não é suficiente, a pessoa terá sonolência durante o dia, em relação direta com o tempo que ficou acordada e a cronicidade, ou seja, a frequência com que perde o sono”, afirma a neurologista Marília Denise Mariani Pimenta. Nesses casos, o cochilo é extremamente benéfico. “Todos os países deveriam adotar a sesta como rotina, pois as pessoas só têm a ganhar. Realmente, esse cochilo é reparador e revigorante”, defende a neurologista.

Segundo Marília, o sono dos adolescentes é diferente devido à carga hormonal a que estão submetidos nessa faixa etária. “Eles dormem duas horas mais tarde por causa dos hormônios, que estão sendo jogados na corrente sanguínea a todo vapor.” Por essa razão, ela lembra que é muito comum os jovens cochilarem durante as aulas, muitas vezes prejudicando o aprendizado.

As pessoas privadas do sono podem sofrer com depressões, má performance no trabalho, cansaço e irritabilidade, além de também perderem a libido. “Os distúrbios do sono, se não diagnosticados e tratados adequadamente, poderão levar a consequências graves e até fatais”, alerta Marília. Estudos britânicos mostraram, por exemplo, que se as pessoas foram privadas de sonhar podem ter surtos psicóticos como se fossem esquizofrênicos. “Elas começam a ter alucinações e ficam agressivas.” A consequência se deve ao fato de a consolidação de tudo que aprendemos ocorrer durante o sono REM, momento em que mais sonhamos. (MMC)

Dormir de dia divide opiniões
Especialistas fazem restrições com relação ao cochilo diurno, enquanto pesquisadora destaca benefícios, como um sono noturno tranquilo

JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS
A personal trainer Letícia Costa acorda muito cedo e precisa de pelo menos uma hora de sono para dar conta das atividades diárias
A relação entre o cochilo diurno e o sono durante a noite divide a opinião dos especialistas. Enquanto a pesquisadora do Instituto de Estudos Biológicos em La Jolla, na Califórnia, Sara Mednick, autora do livro Take a nap! Change your life afirma que o cochilo pode ajudar as pessoas a dormirem melhor, o psiquiatra Dirceu Valladares Neto e a neurologista Marília Denise Mariani Pimenta, especialistas em medicina do sono, fazem restrições ao ato de dormir durante o dia. Entre as dicas para se ter uma boa noite de sono, Marília indica evitar cochilos durante o dia. “Se dormir durante o dia, faça-o preferencialmente depois do almoço e, no máximo, por uma hora para não atrapalhar o sono noturno”, diz.

Para Dirceu, a soneca durante o dia só ocorre quando as pessoas não têm noites bem-dormidas. “O cochilo pode ser útil desde que não seja em períodos muito extensos ou a pessoa corre o risco de consumir o sono durante o dia”, alerta o psiquiatra. Segundo ele, as pessoas costumam se sentir bem depois de tirar um cochilo, porque estão com déficit de sono, geralmente por privações de sono ou noites maldormidas. Em geral, pessoas adultas dormem oito horas no período de 24 horas, algumas podem dormir menos e outras mais, de acordo com cada organismo e com a idade.

No entanto, como Dirceu lembra, as pessoas vão se acostumando a dormir cada vez menos. “Nosso organismo é muito sensível aos hábitos. Quando dormimos tarde, mandamos um sinal para o corpo dizendo que podemos acordar tarde”, lembra. Para ele, é importante investigar os distúrbios que prejudicam um sono de qualidade, como apneia, movimento de pernas, entre outros problemas.

A personal trainer Letícia Costa, de 29 anos, não tem distúrbios do sono, mas como tem que acordar muito cedo para trabalhar, sofre com um pequeno déficit no número de horas dormidas. Para não ficar cansada e dar conta de seu trabalho, que exige muita disposição física, ela tira cochilos diariamente depois do meio-dia. “Durmo uma hora ou um pouco mais, logo depois do almoço. Para mim, é imprescindível.” Como costuma dormir às 23h e acordar às 6h, dorme uma hora a menos do que as oito horas indicadas. "Tenho o hábito de tirar um cochilo desde quando me entendo por gente. Se não dormir depois do almoço, não me sinto bem. Meu marido acha que estou perdendo tempo, mas preciso complementar o tempo de sono. Meu corpo pede”, afirma Letícia.

DESEMPENHO A percepção de Letícia é confirmada pela medicina. “O sono é fundamental para os desempenhos profissional, intelectual, social e sexual. Dormir não é perda de tempo!”, afirma a neurologista. O cérebro não desliga quando as pessoas estão dormindo. Ao contrário, ele exerce inúmeras funções. “O cérebro apresenta atividades importantes enquanto dormimos, como consolidação da memória, secreção de determinados hormônios (como o do crescimento) e restabelece comportamentos geneticamente pré-determinados e ligados à sobrevivência, como fome, sede e sexualidade”, completa.

O sono é formado de ciclos de duração de cerca de 90 minutos cada um. “Cada ciclo é composto por um período sem movimentos oculares rápidos (sono NREM), seguido por outro com movimentos oculares rápidos (sono Rem ou sono dos sonhos). Esses ciclos se repetem ao longo da noite, até o despertar, pela manhã”, afirma Marília.

Sesta revigorante
Márcia Maria Cruz

BETO NOVAES/EM/D.A PRESS
Roseny Cardoso de Souza, funcionária do Shopping Minascasa, separa o horário de 12h às 13h para recarregar as baterias
A sesta faz parte da rotina da orientadora de mall (funcionários de shopping centers que ficam a postos, nos corredores, caso haja alguma emergência) Roseny Cardoso de Souza, de 48 anos. Religiosamente, das 12h às 13h, ela tira uma soneca para recarregar as baterias. O período é uma parada na rotina de 12 horas ininterruptas de trabalho, a maior parte delas feita de pé. “Durmo e muito (risos). É muito gostoso e aconchegante e dá para relaxar bastante”, diz referindo-se à parte do horário do almoço dedicada ao cochilo. O Minascasa, empresa onde Roseny trabalha, criou o cantinho do sono, local onde os funcionários, a qualquer hora do dia, podem dormir por alguns minutos. Foram instaladas três espreguiçadeiras, ventilação e uma iluminação apropriadas para quem quer tirar uma soneca no tempo livre. “O descanso é essencial. Termino de almoçar e vou repousar. Quando cochilo, costumo até sonhar”, completa Roseny.

O espaço foi criado a partir de sugestão dos próprios funcionários, que, em resposta a uma pesquisa interna, solicitaram um espaço para o descanso. A medida é adotada por diversas empresas, embora ainda não seja uma realidade para todos os trabalhadores, como ocorre em países hispânicos, que não abrem mão da sesta. A sala de repouso do Minascasa pode ser usada o dia inteiro, mas a maior frequência é entre 11h e 13h. “Temos casos de funcionários que trabalham até as 14h, e, como estudam à noite, aproveitam para tirar um cochilo antes de ir para a escola”, conta o gerente de marketing do Minascasa, Kleyton Otoni. Ele próprio já desfrutou do espaço quando teve de chegar muito cedo ao trabalho.

A pesquisadora do Instituto de Estudos Biológicos em La Jolla, na Califórnia, Sara Mednick, autora do livro, Take a nap! Change your life defende que o cochilo pode ajudar as pessoas a tirarem o máximo proveito de seu dia (e noite). “As pessoas, muitas vezes, têm se mostrado mais produtivas depois de uma sesta, muito mais do que se tivessem simplesmente trabalhado o dia inteiro sem dormir”, escreve a especialista.

A autora cita os 20 benefícios de se tirar uma soneca ao longo do dia: aumento do estado de alerta, aceleração do desempenho motor, melhora na precisão, destreza na tomada de decisões, melhora na percepção, conservação de uma aparência jovem, melhora na vida sexual e até ajuda na perda de peso. A lista traz outros ganhos à saúde, como redução do risco de ataques cardíacos e derrames e redução do risco de diabetes. Os benefícios se estendem também a aspectos de comportamento, como melhoria na resistência, elevação do humor, aumento da criatividade e redução do estresse.

Dormir uma hora durante o dia resulta em impactos positivos mentais e psicológicos, como a melhoria na memória e redução da dependência de drogas e álcool, o alívio de enxaquecas, úlceras e outros problemas com componentes psicológicos. Por fim, Sara defende um ponto bastante polêmico: o cochilo diurno pode facilitar a qualidade do sono noturno.

Apesar de listar tantos benefícios, Sara chama a atenção para quando o sono diurno se torna excessivo. “Cochilar geralmente é uma função natural e saudável. No entanto, em certos casos, pode ser um sintoma de algum tipo de distúrbio subjacente. A sonolência diurna excessiva é um dos sinais de declínio de depressão clínica, que, curiosamente, é por vezes tratada por manter o paciente acordado por 24 horas”, alerta.

RECEITA A autora ratifica os resultados de diversos estudos sobre o sono ao afirmar que o horário em que as pessoas têm pico de sono durante o dia, sendo o mais propício para os cochilos, compreende o período das 13h às 15h. A especialista não tem dúvidas ao receitar o cochilo durante o dia como um santo remédio. Sara lembra, porém, que o cochilo ainda não é um direito universal para os trabalhadores em todo o mundo.

No entanto, alguns países já estão se organizando de modo que a soneca faça parte da rotina dos trabalhadores. Um estudo comportamental na Europa mostra que a Alemanha lidera o ranking, com 22% da população economicamente ativa tirando pelo menos três horas de cochilo por semana. Ela conclui, porém, que o direito de tirar cochilo ainda não é uma prática na maior parte das empresas, como comprova pesquisa da Fundação Nacional do Sono, dos Estados Unidos, realizada em 2000. Cerca do 80% dos trabalhadores disseram que o cochilo não é uma prática na empresa.
(Estado de Minas, 6 de setembro de 2009, Caderno Bem Viver)

 

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