– Por que vocês dizem que o homem-bomba é o homem mais feliz do mundo?
– É porque ele não envelhece, tem uma morte súbita, com pouco sofrimento, e ainda vai para um paraíso onde o aguardam setenta e sete virgens para o satisfazer eternamente.
– Mas isso não é verdade!!!
– Não é verdade para você. Para ele é a verdade mais indubitável.
– Que base você tem para afirmar isso?
– A fé.
– Não; isso é um engano. Que prova você tem de que ele é feliz?
– É simples o raciocínio. Qual a sua religião?
– Sou cristão.
– Mas cristãos existem com os mais diversos princípios de fé…
– Mas nem todos são cristãos verdadeiros. Eu creio na verdade.
– O que é a verdade?
– Jesus é a verdade.
– Mas todos os ramos denominados cristãos, com toda sua diversidade de fé, crêem em Jesus.
– Mas a maioria crê de forma errada.
– Sei; a forma correta de crer em Jesus é a sua; você tem certeza disso, eu não duvido. Então vou lhe fazer umas perguntas:
– Você crê na reencarnação ou na ressurreição?
– Na ressurreição. Essa é a verdadeira promessa divina.
– Embora os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, de cuja existência você não duvida, não tenham recebido nenhuma promessa de que um dia iriam ressuscitar, você não tem dúvida de que você irá ressuscitar e ir para o paraíso; não é?
– Claro, tenho toda certeza disso. Jesus prometeu.
– E você é feliz por ter certeza de que irá viver eternamente em um lugar onde não haverá sofrimento?
– Claro, sou muito feliz por isso.
– E eu não duvido de você, assim como também não duvido da felicidade do homem-bomba. Toda a certeza que você tem da sua ressurreição e vida eterna, o homem-bomba tem de que, após a morte, irá para o paraíso e terá as setenta e duas virgens e vida eterna.
– Mas ele está enganado: não terá nenhuma virgem e irá queimar-se no inferno, isso sim.
– Essa é a verdade para você. Para ele, é você que está enganado e vai para o inferno. Ninguém dá maior prova de fé do que ele.
– Como maior prova de fé?
– Você não crê que Abraão provou a sua fé quando se dispôs a matar o próprio filho pelo seu deus?
– Sim, foi uma grande prova de fé.
– Se você não duvida da fé de um homem que aceitou matar o próprio filho, como pode duvidar da fé de um que rodeia o próprio corpo de explosivos e se espedaça voluntariamente por crer estar fazendo a vontade divina?
– É… se ele não cresse nisso, ele não iria fazer mesmo essa loucura.
– Se você tivesse que trabalhar este ano inteiro carregando pedra, mas tivesse a certeza de que no próximo ano você iria viver em um lugar seguro, com a mulher que você mais almeja ter, você estaria agora feliz ou infeliz?
– Claro que estaria feliz.
– E então, você que é feliz com sua fé, que motivo tem para duvidar da felicidade desse terrorista? Se, como você reconhece, a felicidade é um estado de espírito que pode ser propiciado pela expectativa de sucesso, não há como negar que o homem-bomba é um homem muito feliz. Se ele não tivesse certeza de que irá para o paraíso com seu séquito de virgens, tanto quanto uns cristãos têm certeza de que ressuscitarão e outros tem certeza de que se reencarnarão, ele não se mataria espontaneamente. Essa é a maior prova de sua fé, e, se sua fé é assim, com a certeza de um futuro maravilhoso que o aguarda, ele é muito feliz, ninguém é mais feliz do que ele. Ele é o homem mais feliz do mundo; você ainda discorda?
– Huuuummmmmmmmmmmmmmm…!!!!!!!
O diálogo acima serve para ilustrar como a sua felicidade está mais no que você espera do que no que você tem.