quinta-feira, 13 de setembro de 2012 7:16
À espera do fim do mundo
Eliane de Souza
Enviada a Pirenópolis
Se o mundo acabar mesmo em dezembro de 2012, você já sabe onde irá esperar pelo apocalipse? Muitos escolheram Pirenópolis, Goiás, a 125 quilômetros da capital Goiânia e a 182 de Brasília. O lugar tem um quê de misticismo e atraiu as comunidades alternativas Frater Unidade e Terra Nostra, que se instalaram na região por estar entre os paralelos 14 S e 16 S, seguindo as linhas imaginárias do plano equatorial terrestre.
As coordenadas – que também passam pela mítica Machu Picchu, no Peru – são consideradas por esotéricos como indicadores dos locais que menos seriam atingidos pelas intempéries do fim do mundo. Sem contar que esta região do planalto é rica em cristais, apontados como potentes catalisadores de energias.
Foi para conhecer este estilo de vida em comunidade que os turistas descobriram Pirenópolis a partir da década de 1980. As colônias espiritualistas hospedam turistas por até cinco dias, onde aprendem a plantar, cozinhar e fazer artesanatos com prata, além de participar de atividades como ioga e meditação.
A curiosidade por um modo de vida mais alternativo também rende visitas a santuários ecológicos. A região conta com mais de 80 cachoeiras, que podem ser acessadas por trilhas com diferentes níveis de dificuldade. A meditação, aliás, cede lugar à adrenalina com esportes de aventura praticados no cerrado.
Além dos apelos naturais, Pirenópolis encanta pela preservação de sua história, com seu casario e igrejas do século 18. A chamada Cidade dos Pireneus – serra cujo nome faz alusão aos montes situados na divisa da Espanha com a França – foi fundada 1727 por portugueses que se fixaram em Goiás para garimpar ouro.
As minas foram exploradas à exaustão, dando lugar à agricultura, à pecuária e ao comércio tropeiro. O principal produto agrícola foi o algodão, que era exportado diretamente para a Inglaterra e era considerado como uma das melhores fibras do mundo. Havia também produção de cana para abastecer de açúcar o comércio regional.
Durante o início do século 20, Pirenópolis só era lembrada por ocasião das festas – que sempre tiveram bastante destaque, como a do Divino, celebrada desde 1819 – e um pouco de comércio de quartzito por ocasião da construção de Goiânia, em 1930. Até que, com a chegada de Brasília, a atividade mineradora do quartzito se intensificou, melhoraram-se os acessos e começaram a chegar visitantes de outras localidades, como compradores de pedras para a construção de Brasília, políticos e viajantes hippies.
Na década de 1980, Pirenópolis estava praticamente em ruínas, com casas e igrejas descascadas, repletas de goteiras e cupins. Foi iniciado, então, um movimento de valorização do patrimônio histórico, já que a cidade havia guardado bens do período colonial.
Em 1989, a cidade foi tombada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como conjunto paisagístico e em 1997 iniciou-se um projeto de revitalização do centro histórico, quando a Igreja Matriz, o Cine-Pireneus, o Teatro de Pirenópolis e outros monumentos foram restaurados, reformados e reconstruídos.
Em um passeio a pé, com o sol escaldante e o clima seco do cerrado, o sobe e desce das ladeiras é brindado com a sensação de volta ao passado, com suas construções históricas e casas transformadas em lojas de artesanato. Só por este motivo a visita a Pirenópolis já valeria a pena, mesmo que o mundo não acabe no fim deste ano.
A jornalista viajou a convite da Secretaria de Turismo de Goiás
<http://www.dgabc.com.br/News/5980641/a-espera-do-fim-do-mundo.aspx>
Será que no final do ano vamos ter uma multidão retornando a suas casas depois de mais uma espera do fim do mundo? Estamos no século XXI; mas ainda existem muitas pessoas acreditando nisso.