ÁLCOOL PODE FAZER BEM
29/10/2009
"Um brinde à felicidade
Uma pesquisa norueguesa mostra que o consumo moderado de álcool pode evitar a
depressão
Naiara Magalhães Negreiros
Os benefícios do consumo moderado de álcool para a saúde do coração, o controle
do stress e, enfim, para uma vida mais longeva vêm sendo repetidos à exaustão
desde a década de 70. À lista das benesses oferecidas por alguns goles de vinho
no almoço ou uma dose de uísque depois de um dia exaustivo de trabalho,
pesquisadores da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega acabam de
incluir um novo item: a incidência de depressão é menor entre homens e mulheres
que bebem com parcimônia. Publicado na revista científica Addiction, o trabalho
avaliou os hábitos alcoólicos de 38.000 pessoas durante duas semanas. Em
seguida, fez-se o cruzamento dessas informações com a incidência de sintomas
depressivos naquele mesmo grupo de pessoas. A conclusão foi que a probabilidade
de alguém que nunca bebe nada sofrer de depressão é 50% maior do que a de alguém
que bebe com moderação.
As investigações sobre os benefícios da bebida para a saúde da mente são
raríssimas – ao contrário dos estudos sobre os efeitos deletérios do uso abusivo
de álcool. Já está bem documentado que, consumido em excesso, o álcool reduz as
taxas cerebrais de dopamina, o neurotransmissor associado à sensação de prazer –
o que propicia a depressão. Do ponto de vista fisiológico, não se encontrou nada
que explique por que o uso comedido de bebida reduz os riscos de depressão. Para
os especialistas, essa relação só pode ser analisada sob o aspecto
comportamental. Os chamados bebedores moderados têm um estilo de vida que os
protege contra a doença. Em geral, eles tomam umas e (poucas) outras entre
amigos e familiares. Ou seja, dispõem de uma rede de relações pessoais próximas
e se organizam em atividades sociais para as quais a bebida funciona como
elemento agregador – tudo isso, é claro, ajuda a manter a depressão longe.
"Alguns estudos já demonstraram que os abstêmios experimentam algum tipo de
exclusão social", disse, em entrevista ao site Science Daily, o neurocientista
Eystein Stordal, um dos autores da pesquisa norueguesa. Além disso, os
parcimoniosos do copo não usam o álcool como muleta para suas inseguranças,
ansiedades e frustrações, ao contrário dos bebedores de risco e dos alcoólatras.
Diz a psiquiatra Camila Magalhães Silveira, do Centro de Informações sobre Saúde
e Álcool, em São Paulo: "Os bebedores moderados não cometem excessos e não
acumulam prejuízos que poderiam favorecer a depressão, como a deterioração das
relações familiares e a perda do emprego".
Em pequenas quantidades, a bebida pode promover uma desinibição prazerosa. O
álcool estimula a ação do Gaba, neurotransmissor inibidor do sistema nervoso
central. É isso que causa aquela sensação de relaxamento que faz o mundo ficar
mais divertido. É a explicação fisiológica para a tirada clássica do crítico e
editor americano George Jean Nathan: "Bebo para tornar as pessoas mais
interessantes". Só um ponto permanece obscuro nessa história: onde os
pesquisadores encontraram noruegueses que bebem moderadamente? (Veja,
21/10/2009, pg. 116).