ANENCEFALIA EXIGE ABORTO
Ministra defende mudanças na
legislação e aborto em caso de anencefalia
Agência Brasil - 27/05/2010 - 17h26
A ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres,
Nilcéa Freire, cobrou uma atualização da legislação brasileira em questões
relativas à união civil de pessoas do mesmo sexo e interrupção legal de gravidez
em caso de anencefalia. “É preciso entender que o Código Penal de 1940 previu
razões para interrupção da gravidez num momento em que o diagnóstico
intrauterino precoce era muito rudimentar”, disse durante Seminário sobre
Anencefalia realizado nesta quinta-feira (27/5) pelo GEA (Grupo de Estudos sobre
Aborto), em parceria com a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência).
No entanto, a ministra não acredita que mudanças na legislação sobre aborto
aconteçam em breve. “Neste momento temos no Brasil um dos Legislativos mais
conservadores que já tivemos. Há 199 deputados de direita e representantes de
segmentos religiosos compondo a Bancada pela Vida que é contra qualquer mudança
sobre direito à vida e questões de gênero”, afirma.
No seminário foi discutida a interrupção da gravidez de fetos com anencefalia,
tipo de má-formação que impede o desenvolvimento do cérebro. Cerca de 75% destes
fetos morrem ainda dentro do útero. Entre os 25% restantes, a maioria morre
dentro de 24 horas e os demais sobrevivem em estado vegetativo por poucas
semanas, afirmou o obstetra e representante do GEA Thomaz Gollop.
Ele afirmou também que o diagnóstico é 100% seguro e que há um caso da doença em
cada 1.500 nascidos vivos, o que torna a anencefalia a segunda má-formação mais
comum no país. A interrupção da gravidez neste caso, segundo o especialista,
exige legalização urgente para que as equipes de saúde prestem assistência
efetiva às gestantes. “É um absurdo dar um diagnóstico intrauterino e não
poder fazer nada, simplesmente jogar o casal na ilegalidade”, disse.
O juiz do Fórum Central de Campinas, José Henrique Torres, defendeu a
descriminalização total do aborto. “Precisamos perder a mania de achar que a
criminalização de uma conduta vai mudar a maneira de agir das pessoas.”
Para Torres, mesmo na legislação atual do aborto, definida como lei de proteção
ao feto, os casos de anencefalia devem ser interrompidos pois não há
possibilidade de vida a ser protegida.
Um documento da organização Ipas Brasil, que trabalha com saúde da mulher,
afirma que países que aprovaram a descriminalização e regulamentação do acesso a
serviços de aborto seguro, como África do Sul e Portugal, têm assistido um
declínio no número de abortos nos últimos anos.
Atualmente a legislação brasileira permite o aborto somente quando a gravidez
oferece risco à vida da mulher ou quando é resultado de estupro. Se for
diagnosticada anencefalia do feto, a gestante necessita de autorização judicial
para abortar, mas existe uma proposta da Confederação Nacional dos Trabalhadores
da Saúde que legaliza a interrupção da gravidez nestes casos. Ação nesse sentido
tramita no STF (Superior Tribunal Federal). Não há previsão de data para
julgamento.
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POR QUE DESCRIMINALIZAR O ABORTO