Imagine a cena: paciente e terapeuta assistem juntos à cena de ‘Tropa de Elite” em que Matias dá um tiro à queima-roupa na cara de Baiano. O paciente então vira para o médico e diz: ‘Sabe que eu me dei conta de que preciso trabalhar melhor o meu lado violento?’. A prática de terapeutas recomendarem filmes para pacientes, a filmeterapia é cada vez mais comum e tem rendido muitos finais felizes.
Um dos precursores é o psicólogo norte-americano Gary Solomon. No livro ‘The Motion Pucture Prescription’ (‘O Cinema como Remédio’, ainda sem uma edição brasileira), ele afirma que os filmes são verdadeiros exemplos e como a arte pode imitar a vida. ‘Se uma pessoa assistir a um longa que se encaixa em sua problemática pessoal, é muito provável que se identifique e encontra um jeito de aprender e crescer com ele’, escreve Solomon.
Filmes com enredos semelhantes às histórias dos pacientes são os mais indicados pelos seguidores da filmeterapia, mas não os únicos. ‘Também costumo recomendar para meus clientes filmes que de alguma maneira expõem o significado da existência, como os do diretor japonês Akira Kurosawa. Quem procura a psicoterapia e a psicanálise quer entender o significado da sua vida’, diz o psicanalista Jacob Pinheiro Goldberg, autor do livro ‘psicologia em Curta-Metragem’.
Além de trabalhar no reconhecimento e compreensão de conflitos, a cinematerapia também é indicada para quem precisa equilibrar as emoções. ‘Se o paciente estão em depressão, prescrevemos uma comédia para levantar seu astral. Já se ele estiver muito eufórico, o remédio é um filme mais realista’, explica a psicóloga clínica Joya Eliezer. O resultado, dizem os especialistas, é imediato. ‘Não importa a emoção da pessoa – choro, raiva, alegria, excitação -, o alívio é imediato’, diz o psicanalista Geraldo Martins, coordenador do projeto ‘Ler a Imagem’, do Centro Universitário Newton Paiva, em Belo Horizonte.
Mas será que basta sentar à frente da tela e assistir a qualquer filme para a cinematerapia ser eficiente? “antes de mais nada, o terapeuta precisa compreender exatamente o que se passa com o paciente, para não recomendar uma história errada. Depois ele explica o porquê de determinado filme e pede para o paciente anotar os pontos mais sensíveis, que mais mexem com ele, para serem discutidos’, explica Joya, que ressalta a importância de o espectador se projetar no protagonista. ‘Se julgar importante, assisto aos principais pontos do filme com o paciente no próprio consultório.’
Já o método de Goldberg é diferente. ‘Não acredito que precise de uma preparação específica, comenta. Mas em um ponto os dois concordam: ninguém deve se ‘automedicar’, ou seja, escolher os filmes por conta própria para superar alguma dificuldade.
A mesma opinião tem o psicanalista italiano Vincenzo Mastronardi, professor de psicopatologia forense da universidade La Sapienza, de Roma e autor de ‘Filmtherapy – I Film Che ti Aiuano a Stare Meglio’ (em português, “Filmeterapia, os Filmes Que Ajudam Você a Estar Melhor’). Na obra, ele catalogou mais de 2 mil títulos indicados para tratar males causados por conflitos familiares e amorosos, dificuldades no trabalho, depressão, ansiedade e distúrbios de humor, entre outros.
Estudioso e seguidor da prática há 30 anos, Mastronardi é um dos maiores especialstas do mundo em filmeterapia. Inicialmente, ele utilizou a terapia em pessoas com casos de perversões sexuais e com tendência a se fazerem de vítima. O psicanalista afirma que, ao término do tratamento, os pacientes apresentaram uma sensível diminuição na predisposição para essas patologias.
Uma coisa é certa: mesmo que o resultado não seja o esperado, ao menos você assistiu a um bom filme. (LUCIANA MATTIUSSI, Galileu, setembro/2008, págs. 12, 13).
Cada tipo de filme é indicado para que o paciente lide com um tipo de problema. Confira os sucessos da locadora da filmeterapia |
BAIXA AUTO-ESTIMARAY (EUA, 2004) – A treaumática trajetória do pianista Ray Charles – a morte do irmão menor, a perda da visão aos sete anos, o peso da fama, a luta contra o racismo e a heroína – é um hino à coragem, à determinação e à vontade de viver. Uma lição de vida para qualquer um |
DEPRESSÃOO MÁGICO DE OZ (EUA, 1939) – Reconhecer nosso poder é a grande lição dada por este clássico, segundo os terapeutas. A história de Dorothy, uma menina que vai parar em um mundo totalmente estranho e desconhecido, é indicada para quem precisa se reerguer |
CRISE CONJUGALAS PONTES DE MADISON (EUA, 1995) – Um dos mais indicados para quem já traiu o foi traído e não consegue esquecer o episódio. O romance entre um fotógrafo da National Geographic e uma dona de casa casada, segundo os terapeutas, ajuda a compreender e desmistificar a traição. |
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(Galileu supracitada)