Desde que o homem primitivo imaginou existir seres sobrenaturais condutores dos destinos dos seres naturais, modelando os caracteres desses seres pelos seus próprios, os fez ávidos por sangue. E essa ideia de justiça primitiva desabou na morte de deuses para dar vida aos humanos.
O homem primitivo, em meio à violência da selva, tão constante entre os grupos humanos, imaginou os deuses à sua própria imagem: severos, vingativos, e justos como imaginava a si próprio.
Se alguém fizesse algo errado, teria que pagar por isso, e os deuses exigiam cumprimento da pena. Para conter a fúria dos deuses era necessário sacrifício, e os deuses, donos da vida, devia querer que executasse a justiça em algum ser vivo. E, se o pecador era o homem, algum homem deveria morrer pela vida dos outros. Assim começava o festival de derramamento de sangue que perdura até hoje.
A alguns deuses eram sacrificadas dezenas, centenas ou milhares de pessoas todos os anos, para que sua maldição não caísse sobre toda a humanidade. O mais comum era sacrificar primogênito (primeiro filho). A bíblia faz várias referências a pessoas que queimavam seus próprios filhos em honra a Moloque, um dos muitos deuses adorados no Oriente à época.
Entre os hebreus, a regra não era sacrificar vidas humanas, mas vidas de determinados animais, como cordeiros, bezerros e aves. Nas, embora exceção, algumas pessoas eram sacrificadas a Yavé. Isso ficou registrado no livro de Levíticos:
“Ninguém que dentre os homens for dedicado irremissivelmente ao Senhor, se poderá resgatar: será morto.” (Levítico, 27: 29).
Como se vê, sacrifícios humanos eram proibidos quando oferecidos aos outros deuses; mas ao deus de Israel era permitido.
E a história dos juízes refere-se a um caso de sacrifício humano:
“E Jefté fez um voto ao Senhor, dizendo: Se tu me entregares na mão os amonitas, qualquer que, saindo da porta de minha casa, me vier ao encontro, quando eu, vitorioso, voltar dos amonitas, esse será do Senhor; eu o oferecerei em holocausto.” (Juízes, 11:30, 31).
Jefté teria prometido dar em sacrifício a Yavé a primeira alma que encontrasse ao retornar da guerra, e, por ironia do juiz guerreiro, foi a sua própria filha que foi ao seu encontro, e a promessa foi cumprida (Juízes, 11: 30-39).
Alguns dos vários povos entre os quais os hebreus viveram havia mitos de alguns deuses que deram a vida pela salvação do ser humano. E, embora tenha assimilado várias crenças dos babilônios e persas, permaneceram fieis ao preceito de sacrificar carneiros, bezerros e aves.
Entretanto, como sempre há dissidências religiosas e novas religiões surgem a todo tempo, nos dias do domínio romano surgiu um grupo que mesclou textos dos profetas judeus com as crenças gentias, criando mais um deus que teria dado a vida em sacrifício pela salvação da humanidade, em substituição aos sacrifícios de animais. Nascia aí a religião que dominaria o mundo.