O Dia do Vizinho é comemorado no
Brasil em duas datas: 20 de agosto e 23 de dezembro. Para a data de 23 de
dezembro não se sabe de uma justificativa para a escolha, entretanto, o dia 20
de agosto, o que se sabe é que foi criado há mais de 30 anos, em comemoração ao
aniversário da poetisa Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretas, a Cora Coralina, na
cidade de Goiás (GO).
A ideia surgiu quando moradores da rua de Cora quiseram dar uma festa de
aniversário, que ela recusou, e disse preferir uma comemoração entre vizinhos. É
o que conta o cineasta Lázaro Ribeiro de Lima.
“Vizinho é mais que parente, pois é o primeiro a saber das coisas que acontecem
na vida da gente”, era o pensamento da poetisa, que começou a escrever aos 14
anos e fez dezenas de livros. Destacam-se “Estórias da Casa Velha da Ponte”,
“Meu Livro de Cordel”, e o livro infantil “Meninos Verdes”. A autora morreu em
Goiás, em 10 de abril de 1985, aos 96 anos.
Cora Coralina nasceu na Cidade de Goiás e foi considerada uma das principais
escritoras brasileiras. Teve o primeiro livro publicado em 1965, quando já tinha
quase 76 anos. Morreu aos 95.
“Vizinhos e amigos, duas palavras que se entrelaçam e formam unidades criadas
pelos acasos sociais para fazerem a vida melhor”, Cora Coralina.
Coisas do reino da minha cidade
Olho e vejo por cima dos telhados patinados pelo tempo
copadas mangueiras de quintais vizinhos.
altaneiras, enfolhadas, encharcados seus caules,
troncos e raízes de longas chuvas de verão passado.
paramentadas em verde, celebram a liturgia da próxima florada.
antecipam a primavera no revestimento de brotação bronzeada,
onde esvoaçam borboletas amarelas.
as mangueiras estão convidando todos os turistas,
para a festa das suas frutas maduras, nos reinos da minha cidade.
Minha mesa está florida e perfumada
de entrada a minha casa, um aroma suave
incensando a casa.
um bule de asa quebrada, um vidro de boca larga,
um vaso esguio servem ao conjunto floral.
rosas brancas a lembrar grinalda das meninas
de branco que acompanhavam antigas procissões,
de onde vieram carregando seus perfumes?…
tão fácil. Por cima do muro da vizinha
a roseira, trepadeira, se debruça
numa oferta floral de boa vizinhança.
canto e descanto meus vizinhos.
contei sempre com eles e nunca me faltaram.
beleza simbólica maior: o Dia do Vizinho.
O vizinho é a luz da rua. Quando o vizinho viaja e fecha a casa,
é como se apagasse a luz da rua…
indagamos sempre: quando volta?
e quando o vizinho volta, abre portas e janelas
e é como se acendessem todas as luzes da rua
e nós todos nos sentimos em segurança
estas coisas nos reinos de Goiás.