Gravura discrepante: o texto diz que o rei chegaria montado "em um jumentinho",
não na jumenta.
Ninguém do Século I registrou que algum dos candidatos a messias tenha tido tal
comportamento. Mas, se um deles fez isso, o fato nos dá uma ideia de
qual teria sido o seu plano. Ele não teria chegado para morrer pelo mundo, mas para
realmente libertar seus conterrâneos e estabelecer o reino mundial predito
pelos profetas e esperado por todos eles. O plano não teria dado certo, vindo seus
seguidores posteriormente passar ao mundo a ideia de que ele teria vindo para
morrer, ressuscitar e depois retornar para estabelecer o reino.
“Quando se aproximaram de Jerusalém, e chegaram a Betfagé, ao Monte das
Oliveiras, enviou Jesus dois discípulos, dizendo-lhes: Ide à aldeia que está
defronte de vós, e logo encontrareis uma jumenta presa, e um jumentinho com ela;
desprendei-a, e trazei-mos. E, se alguém vos disser alguma coisa, respondei: O
Senhor precisa deles; e logo os enviará. Ora, isso aconteceu para que se
cumprisse o que foi dito pelo profeta: ‘Dizei à filha de Sião: Eis que aí te vem
o teu Rei, manso e montado em um jumento, em um jumentinho, cria de animal de
carga.’
Indo, pois, os discípulos e fazendo como Jesus lhes ordenara, trouxeram a
jumenta e o jumentinho, e sobre eles puseram os seus mantos, e Jesus montou. E a
maior parte da multidão estendeu os seus mantos pelo caminho; e outros cortavam
ramos de árvores, e os espalhavam pelo caminho. E as multidões, tanto as que o
precediam como as que o seguiam, clamavam, dizendo: Hosana ao Filho de Davi!
Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!
Ao entrar ele em Jerusalém, agitou-se a cidade toda e perguntava: Quem é este? E
as multidões respondiam: Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galiléia.
Então Jesus entrou no templo, expulsou todos os que ali vendiam e compravam, e
derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas; e
disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém,
a fazeis covil de salteadores” (Mateus, 21: 1-13).
Se tal fato tiver mesmo ocorrido, terá sido uma mostra de que esse herói pensava em
estabelecer aquele reino que os hebreus tanto esperavam. Um profeta havia
escrito:
“Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que vem
a ti o teu rei; ele é justo e traz a salvação; ele é humilde e vem montado
sobre um jumento, sobre um jumentinho, filho de jumenta. De Efraim
exterminarei os carros, e de Jerusalém os cavalos, e o arco de guerra será
destruído, e ele anunciará paz às nações; e o seu domínio se estenderá de mar a
mar, e desde o Rio até as extremidades da terra... O Senhor dos exércitos os
protegerá; e eles devorarão, e pisarão os fundibulários;
também beberão o sangue deles como ao vinho; e encher-se-ão como bacias de
sacrifício, como os cantos do altar” (Zacarias, 9: 9, 10, 15).
Segundo essa previsão de Zacarias, esse rei predito não
seria como um cordeiro oferecido em sacrifício, mas
teria um exército bem violento, que esmagaria os inimigos.
Com o comportamento acima mencionado, certamente esse herói esperava encontrar um
apoio maciço de seu povo e, assim, se libertar dos romanos. Mas, como todos os outros, ele não
logrou êxito, terminando crucificado.
Um detalhe que indica que o grupo de Jesus não teria sido assim tão pacífico e
desarmado está no evangelho de João: "Então Simão Pedro, que tinha uma espada,
desembainhou-a e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita"
(João, 18: 10).
Aquela filosofia de colaborar com os inimigos oferecendo a face esquerda a quem
batesse na direita, entregar a túnica a quem tomasse a capa, etc.
parece mais
elaboração evangélica. Como os evangelhos foram escritos muitas décadas
após o tempo em que se diz ter ocorrido a morte de Jesus, tudo parece ter sido adaptado para mudar o caráter de sua
missão libertadora.
Como os
próprios conterrâneos de Jesus não teriam como reconhecer nele características compatíveis com o
libertador predito, esse pretenso libertador foi executado, e os seus seguidores saíram pregando a
sua ressurreição a outros povos e a promessa de ressurreição a todos que nele
cressem, vindo a convencer boa parte do mundo de que teria sido ele o messias
prometido pelos profetas, criando a maior religião de todos os tempos. Mas não
resta dúvida de que, como Tiradentes e outros que se revoltaram contra os
portugueses no tempo do Brasil-colônia, esse libertador, que, ao que tudo
indica, nem se
chamava Jesus, foi executado por pretender libertar o
povo do jugo romano. E seus seguidores passaram a pregar a nova doutrina
que prometia a ressurreição aos que seguissem seus ensinamentos. O nome
Jesus, como muitos fatos da vida dele que são cópias de mitos dos povos gregos,
romanos, babilônios persas, etc., deve ter sido também uma adaptação, uma
vez que os historiadores da época não conheceram nenhum Jesus que se arvorasse
em libertador de Israel por volta do ano 33, ano apontado pelos cristãos.
O caráter de
Jesus é bastante contraditório entre os evangelhos. Mas o que transparece
entre eles é que esse líder sobre o qual fundaram o Cristianismo, se tiver
existido, intentava
libertar os judeus do jugo romano e estabelecer aquele reino que fora predito
pelos profetas e que, se o previsto fosse cumprido, teria sido séculos antes de sua época.