A ENTRADA DE JESUS EM JERUSALÉM
- 09/04/2006 -

 

Gravura discrepante: o texto diz que o rei chegaria montado "em um jumentinho", não na jumenta.

 

Ninguém do Século I registrou que algum dos candidatos a messias tenha tido tal comportamento.  Mas, se um deles fez isso, o fato nos dá uma ideia de qual teria sido o seu plano. Ele não teria chegado para morrer pelo mundo, mas para realmente libertar seus conterrâneos e estabelecer o reino mundial predito pelos profetas e esperado por todos eles. O plano não teria dado certo, vindo seus seguidores posteriormente passar ao mundo a ideia de que ele teria vindo para morrer, ressuscitar e depois retornar para estabelecer o reino.

Quando se aproximaram de Jerusalém, e chegaram a Betfagé, ao Monte das Oliveiras, enviou Jesus dois discípulos, dizendo-lhes: Ide à aldeia que está defronte de vós, e logo encontrareis uma jumenta presa, e um jumentinho com ela; desprendei-a, e trazei-mos. E, se alguém vos disser alguma coisa, respondei: O Senhor precisa deles; e logo os enviará. Ora, isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: ‘Dizei à filha de Sião: Eis que aí te vem o teu Rei, manso e montado em um jumento, em um jumentinho, cria de animal de carga.’

Indo, pois, os discípulos e fazendo como Jesus lhes ordenara, trouxeram a jumenta e o jumentinho, e sobre eles puseram os seus mantos, e Jesus montou. E a maior parte da multidão estendeu os seus mantos pelo caminho; e outros cortavam ramos de árvores, e os espalhavam pelo caminho. E as multidões, tanto as que o precediam como as que o seguiam, clamavam, dizendo: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!

Ao entrar ele em Jerusalém, agitou-se a cidade toda e perguntava: Quem é este? E as multidões respondiam: Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galiléia.

Então Jesus entrou no templo, expulsou todos os que ali vendiam e compravam, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas; e disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a fazeis covil de salteadores
” (Mateus, 21: 1-13).

Se tal fato tiver mesmo ocorrido, terá sido uma mostra de que esse herói pensava em estabelecer aquele reino que os hebreus tanto esperavam. Um profeta havia escrito:

Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que vem a ti o teu rei; ele é justo e traz a salvação; ele é humilde e vem montado sobre um jumento, sobre um jumentinho, filho de jumenta. De Efraim exterminarei os carros, e de Jerusalém os cavalos, e o arco de guerra será destruído, e ele anunciará paz às nações; e o seu domínio se estenderá de mar a mar, e desde o Rio até as extremidades da terra... O Senhor dos exércitos os protegerá; e eles devorarão, e pisarão os fundibulários; também beberão o sangue deles como ao vinho; e encher-se-ão como bacias de sacrifício, como os cantos do altar” (Zacarias, 9: 9, 10, 15).  Segundo essa previsão de Zacarias, esse rei predito não seria como um cordeiro oferecido em sacrifício, mas teria um exército bem violento, que esmagaria os inimigos.

Com o comportamento acima mencionado, certamente esse herói esperava encontrar um apoio maciço de seu povo e, assim, se libertar dos romanos. Mas, como todos os outros, ele não logrou êxito, terminando crucificado.

Um detalhe que indica que o grupo de Jesus não teria sido assim tão pacífico e desarmado está no evangelho de João: "Então Simão Pedro, que tinha uma espada, desembainhou-a e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita" (João, 18: 10).

Aquela filosofia de colaborar com os inimigos oferecendo a face esquerda a quem batesse na direita, entregar a túnica a quem tomasse a capa, etc. parece mais elaboração evangélica. Como os evangelhos foram escritos muitas décadas após o tempo em que se diz ter ocorrido a morte de Jesus, tudo parece ter sido adaptado para mudar o caráter de sua missão libertadora. 

 

Como os próprios conterrâneos de Jesus não teriam como reconhecer nele características compatíveis com o libertador predito, esse pretenso libertador foi executado, e os seus seguidores saíram pregando a sua ressurreição a outros povos e a promessa de ressurreição a todos que nele cressem, vindo a convencer boa parte do mundo de que teria sido ele o messias prometido pelos profetas, criando a maior religião de todos os tempos. Mas não resta dúvida de que, como Tiradentes e outros que se revoltaram contra os portugueses no tempo do Brasil-colônia, esse libertador, que, ao que tudo indica, nem se chamava Jesus, foi executado por pretender libertar o povo do jugo romano.  E seus seguidores passaram a pregar a nova doutrina que prometia a ressurreição aos que seguissem seus ensinamentos.  O nome Jesus, como muitos fatos da vida dele que são cópias de mitos dos povos gregos, romanos, babilônios persas, etc.,  deve ter sido também uma adaptação, uma vez que os historiadores da época não conheceram nenhum Jesus que se arvorasse em libertador de Israel por volta do ano 33, ano apontado pelos cristãos.

 

O caráter de Jesus é bastante contraditório entre os evangelhos.  Mas o que transparece entre eles é que esse líder sobre o qual fundaram o Cristianismo, se tiver existido, intentava libertar os judeus do jugo romano e estabelecer aquele reino que fora predito pelos profetas e que, se o previsto fosse cumprido, teria sido séculos antes de sua época.

 

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